São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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Cenário não previa piora na Argentina

SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo reduziu sua estimativa de crescimento econômico neste ano após o agravamento da crise argentina. Se antes esperava um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de pelo menos 2,5%, a equipe econômica trabalha agora com uma estimativa de 2% e, no cenário mais otimista, de no máximo 2,5%.
A piora na situação econômica da Argentina, principal parceiro do Brasil no Mercosul e mercado importante para as exportações brasileiras, não constava nos cenários da área econômica. Com a nova previsão, o crescimento do PIB neste ano, caso se confirme, vai ficar pouco acima do 1,5% registrado em 2001.
De janeiro a abril, as exportações brasileiras para a Argentina tiveram queda de 68% em relação ao mesmo período do ano passado. "Isso não saiu de acordo com o planejado", disse o secretário de Política Econômica da Fazenda, José Guilherme dos Reis.
A Argentina passou da segunda colocação no ranking de parceiros comerciais do Brasil para quinto lugar. O país está buscando novos mercados, mas não teve como compensar essa perda.
Agora, a área econômica do governo voltou a trabalhar com o intervalo de 2% a 2,5% para o crescimento da economia. Segundo o Ministério do Planejamento, cada 0,5 ponto percentual de queda no crescimento significa menos R$ 1,6 bilhão na arrecadação de impostos.
Como o governo já tem o problema do atraso na votação da prorrogação da CPMF para compensar, todos os cálculos para o cumprimento da meta de superávit primário (receitas menos despesas, exceto juros) estão sendo refeitos. O atraso representa, até agora, cerca de R$ 5 bilhões a menos na receita neste ano.
Para manter o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o setor público (governo federal, Estados, municípios e empresas estatais) precisa economizar R$ 34,1 bilhões até o final de setembro.
No primeiro trimestre deste ano, o objetivo era economizar R$ 11,4 bilhões. E o setor público superou a meta em apenas R$ 155 milhões. "Nos dois últimos anos nós tivemos mais folga, mas esperamos que o resultado das estatais seja revertido nos próximos meses", afirmou Reis.

Estatais
De janeiro a março, as estatais apresentaram déficit por causa de uma operação de capitalização feita pela Petrobras em seu fundo de pensão. Como o fundo é considerado uma empresa privada, a transação representou uma saída de recursos do setor público. No ano, a área econômica está mantendo a previsão de lucro de R$ 7,5 bilhões para o conjunto das estatais.
Para compensar a perda com a CPMF, o ministro do Planejamento, Guilherme Dias, disse que o governo trabalha em duas frentes. A primeira delas é aumentar tributos (Imposto sobre Operações Financeiras e alguma outra contribuição) e cortar despesas no Orçamento deste ano.
Tem como alternativa encontrar argumentos jurídicos fortes para convencer o Congresso a reduzir o prazo de 90 dias exigidos para vigência da CPMF. Pela regra atual, a cobrança termina no dia 17 de junho. Aprovada na Câmara, a proposta de prorrogação do tributo até 2004 ainda precisa passar por duas votações no Senado.
Fora a queda das exportações para a Argentina, nenhum outro dado sobre o nível de atividade econômica tem surpreendido o governo. Segundo Reis, o crescimento da inadimplência é normal nessa época do ano por causa dos gastos realizados no final do ano anterior.
Sobre os números que mostram aumento do desemprego, Reis disse que alguns indicadores ficaram estáveis, embora a PEA (População Economicamente Ativa) tenha crescido no período.
Ele também minimizou a revisão da classificação que alguns bancos de investimento fizeram sobre a dívida brasileira. Na semana passada, bancos estrangeiros recomendaram a redução dos investimentos no Brasil em razão da subida nas pesquisas do pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Reis, a apesar das discussões políticas em torno da reavaliação, os bancos apenas modificaram uma classificação que estava acima da média para uma classificação de mercado.



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