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COMÉRCIO EXTERIOR
Aumento nas exportações agrícolas do bloco sul-americano não seria desprezível, avalia negociador brasileiro
UE acena com mais US$ 1,7 bi ao Mercosul
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
A oferta agrícola da União Européia ao Mercosul, nem toda ela
colocada no papel, permitiria que
o bloco do Sul aumentasse suas
exportações em US$ 1,7 bilhão
por ano, conforme cálculos da
CNA (Confederação Nacional da
Agricultura) e do Ministério da
Agricultura.
É pouco ou muito? "É pouco,
mas não é desprezível", responde
Antonio Donizeti Beraldo (CNA),
em frase que, posta no contexto,
talvez seja o melhor instantâneo
da negociação.
Beraldo é o mais agressivo representante do setor agrícola nas
negociações comerciais, cobrando abertura dos parceiros do Brasil, mas cobrando também do Itamaraty que faça concessões em
outras áreas (investimentos, serviços e compras governamentais), para obter em troca ofertas
mais suculentas tanto da União
Européia como dos EUA.
É, portanto, do instinto de Beraldo achar sempre que o outro
lado está oferecendo "pouco",
mas, para chegar a dizer que a
oferta européia não é "desprezível", é porque se trata de fato da
única das três negociações em que
o Brasil está envolvido em que há
avanços e perspectivas reais de
um acordo no prazo originalmente acertado (outubro). É um ponto de vista parecido com a da porta-voz para comércio da UE,
Arancha González: "A negociação
avança, mas lentamente".
Reforça-a, por fim, Marcos Sawaya Jank, responsável pelo Icone
(Instituto para o Estudo de Negociações Comerciais), o mais autorizado centro de pesquisas sobre a
negociação agrícola, consultor
contratado pelo Ministério da
Agricultura: "Acho que ou não vai
haver consenso ou vão simplesmente fechar um acordo tímido.
Mas, ainda que tímido, o acordo
União Européia-Mercosul interessa ao Brasil porque é um primeiro passo para um acordo
abrangente mais adiante".
Os números também autorizam
a avaliação de "pouco", mas não
"desprezível": o bloco europeu
comprou, só do Brasil, US$ 2,9 bilhões em produtos do agronegócio no primeiro trimestre deste
ano, o que dá, portanto, a média
de quase US$ 1 bilhão por mês.
Aumentar as exportações em
US$ 1,7 bilhão, ainda que dividindo esse extra com os parceiros do
Mercosul, seria um avanço pequeno, mas não desprezível.
A divisão do bolo adicional por
produtos é esta: carne (a chamada
cota Hilton, de carnes nobres),
mais US$ 650 milhões; etanol
(US$ 281 milhões); frango (US$
116 milhões); milho (US$ 75 milhões); banana (US$ 8,5 milhões);
lácteos, o que abrange leite, manteiga e queijos (US$ 70 milhões).
A conta total, incluindo produtos com valores bem menores, dá
US$ 1,267 bilhão, computando
apenas o ganho com cotas maiores para a produção do Mercosul.
O restante, para completar o
US$ 1,7 bilhão, virá da redução de
tarifas ou do que o jargão comercial batiza de "preferências fixas".
No caso, se a tarifa de importação
européia de um produto "x" é,
por exemplo, de 10%, o mesmo
produto, vindo do Mercosul, pagaria 5%
Mas a oferta européia poderá ficar ainda menos desprezível hoje,
quando deverá ser apresentada a
proposta de abertura para os
PAPs (Produtos Agrícolas Processados), naturalmente de maior
valor agregado.
Por enquanto, os europeus
anunciaram apenas o arcabouço
de suas concessões: 75% dos
PAPs provenientes do Mercosul
teriam suas tarifas reduzidas em
um prazo de zero a dez anos, ao
passo que os 25% ganhariam cotas ou preferências tarifárias. Haveria ainda espaço para reservar
indefinidamente áreas consideradas "sensíveis".
De todo modo, não será na reunião, iniciada segunda-feira, do
CNB (Comitê de Negociações Birregionais, principal instância técnica da negociação) que os europeus apresentarão sua oferta
completa. O mais provável é que
ela seja enviada por e-mail para os
negociadores do Mercosul apenas
no dia 20.
O Mercosul decidiu não esperar
todos os papéis europeus para dar
um passo adiante na negociação:
a partir de hoje, vai solicitar, como
é de praxe nas negociações comerciais, que os europeus melhorem as suas propostas.
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