São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

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TRABALHO

Para banco, suspensão de financiamento poderia gerar mais cortes além dos previstos na reestruturação da empresa

BNDES mantém empréstimo à Volkswagen

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) informou que vai concluir a operação de financiamento de R$ 497,1 milhões anunciada há menos de um mês para a Volkswagen, apesar do anúncio de reestruturação e demissões na empresa. O banco ainda não desembolsou os recursos, mas o contrato deve ser assinado neste mês.
Esse é o segundo empréstimo concedido à montadora desde o final do ano passado. Em novembro, o BNDES já havia liberado US$ 303 milhões para a Volks, de um pacote de US$ 853 milhões para montadoras (incluiu Ford, GM e Fiat), com o objetivo de promover a exportação de veículos. Em 2003, as montadoras já haviam obtido outro empréstimo, de R$ 1,4 bilhão, para a produção de bens destinados à exportação.
A Volks informou ontem que não há relação entre os empréstimos feitos pelo banco e seu processo de reestruturação anunciado anteontem. O plano prevê a demissão de funcionários, o corte de benefícios dos empregados e a redução dos custos das fábricas, o que inclui a possibilidade de fechamento de uma unidade.
Para o BNDES, a suspensão da operação poderia resultar em um número maior de demissões. Além disso, o banco sustenta que o crescimento da economia nos próximos anos deve reduzir os cortes previstos pela montadora.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT), a VW quer demitir 5.773 trabalhadores das unidades de São Bernardo do Campo, Taubaté e São José dos Pinhais (PR) até 2008.
"Qualquer empresa que recebe incentivos de políticas públicas, como empréstimos do BNDES, ou tem subsídios fiscais deveria oferecer ao país contrapartidas sociais, como a geração de empregos ou, no mínimo, a manutenção dos postos de trabalho", diz José Lopez Feijóo, presidente do sindicato. Ele quer discutir com o governo a inclusão dessa regra nos futuros empréstimos do BNDES. "A Volks foi esperta. Primeiro fez o empréstimo e só depois anunciou a reestruturação."
O empréstimo divulgado pelo BNDES em abril é destinado à expansão da produção de veículos Fox e CrossFox, à atualização dos designs de seus modelos e a melhorias no processo produtivo da companhia. A empresa informou que os contratos do BNDES referem-se a operações já realizadas.
O banco destacou que a Volks, quinta maior exportadora brasileira, foi responsável por 3,2% do superávit comercial brasileiro no ano passado.
Segundo Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, durante o período que esteve à frente do banco, as montadoras faziam uma "choradeira permanente" para obter novos financiamentos.
"Como o BNDES tem a única linha que faz financiamentos de fôlego, as próprias matrizes recomendavam que as empresas procurassem o banco." Para ele, o governo deveria chamar a montadora para a mesa de negociação. "É absurdo destruir capacidade produtiva num país em que 10% da população está desempregada."
O problema das montadoras, segundo Lessa, é a taxa de câmbio: as montadoras instalaram plataformas de exportação supondo uma determinada paridade cambial, mas o Banco Central adotou uma política de valorização do câmbio para conter a inflação, o que prejudicou as exportações e aniquilou alguns setores da economia. "O que a Volkswagen fez foi botar a faca no peito do governo. Deve estar partindo da hipótese de que o presidente foi um metalúrgico do ABC", disse.
No Paraná, a fábrica da Volkswagen, em parceria com a Audi, cortou a produção de 800 para 540 carros por dia e deu férias coletivas para cerca de 1.000 dos 4.200 funcionários, na última segunda-feira. É a segunda vez que isso ocorre neste ano. A primeira foi em janeiro. A Volks diz que a medida é reflexo do recuo das exportações.
Hoje, sindicalistas das cinco unidades da montadora se reúnem para definir ações em conjunto.


Colaborou Mari Tortato, da Agência Folha, em Curitiba


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