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TRABALHO
Para banco, suspensão de financiamento poderia gerar mais cortes além dos previstos na reestruturação da empresa
BNDES mantém empréstimo à Volkswagen
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) informou que vai concluir
a operação de financiamento de
R$ 497,1 milhões anunciada há
menos de um mês para a Volkswagen, apesar do anúncio de reestruturação e demissões na empresa. O banco ainda não desembolsou os recursos, mas o contrato
deve ser assinado neste mês.
Esse é o segundo empréstimo
concedido à montadora desde o
final do ano passado. Em novembro, o BNDES já havia liberado
US$ 303 milhões para a Volks, de
um pacote de US$ 853 milhões
para montadoras (incluiu Ford,
GM e Fiat), com o objetivo de promover a exportação de veículos.
Em 2003, as montadoras já haviam obtido outro empréstimo,
de R$ 1,4 bilhão, para a produção
de bens destinados à exportação.
A Volks informou ontem que
não há relação entre os empréstimos feitos pelo banco e seu processo de reestruturação anunciado anteontem. O plano prevê a
demissão de funcionários, o corte
de benefícios dos empregados e a
redução dos custos das fábricas, o
que inclui a possibilidade de fechamento de uma unidade.
Para o BNDES, a suspensão da
operação poderia resultar em um
número maior de demissões.
Além disso, o banco sustenta que
o crescimento da economia nos
próximos anos deve reduzir os
cortes previstos pela montadora.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT), a VW
quer demitir 5.773 trabalhadores
das unidades de São Bernardo do
Campo, Taubaté e São José dos
Pinhais (PR) até 2008.
"Qualquer empresa que recebe
incentivos de políticas públicas,
como empréstimos do BNDES,
ou tem subsídios fiscais deveria
oferecer ao país contrapartidas
sociais, como a geração de empregos ou, no mínimo, a manutenção
dos postos de trabalho", diz José
Lopez Feijóo, presidente do sindicato. Ele quer discutir com o governo a inclusão dessa regra nos
futuros empréstimos do BNDES.
"A Volks foi esperta. Primeiro fez
o empréstimo e só depois anunciou a reestruturação."
O empréstimo divulgado pelo
BNDES em abril é destinado à expansão da produção de veículos
Fox e CrossFox, à atualização dos
designs de seus modelos e a melhorias no processo produtivo da
companhia. A empresa informou
que os contratos do BNDES referem-se a operações já realizadas.
O banco destacou que a Volks,
quinta maior exportadora brasileira, foi responsável por 3,2% do
superávit comercial brasileiro no
ano passado.
Segundo Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, durante o período que esteve à frente do banco, as montadoras faziam uma
"choradeira permanente" para
obter novos financiamentos.
"Como o BNDES tem a única linha que faz financiamentos de fôlego, as próprias matrizes recomendavam que as empresas procurassem o banco." Para ele, o governo deveria chamar a montadora para a mesa de negociação. "É
absurdo destruir capacidade produtiva num país em que 10% da
população está desempregada."
O problema das montadoras,
segundo Lessa, é a taxa de câmbio: as montadoras instalaram
plataformas de exportação supondo uma determinada paridade cambial, mas o Banco Central
adotou uma política de valorização do câmbio para conter a inflação, o que prejudicou as exportações e aniquilou alguns setores da
economia. "O que a Volkswagen
fez foi botar a faca no peito do governo. Deve estar partindo da hipótese de que o presidente foi um
metalúrgico do ABC", disse.
No Paraná, a fábrica da Volkswagen, em parceria com a Audi,
cortou a produção de 800 para
540 carros por dia e deu férias coletivas para cerca de 1.000 dos
4.200 funcionários, na última segunda-feira. É a segunda vez que
isso ocorre neste ano. A primeira
foi em janeiro. A Volks diz que a
medida é reflexo do recuo das exportações.
Hoje, sindicalistas das cinco
unidades da montadora se reúnem para definir ações em conjunto.
Colaborou Mari Tortato,
da Agência Folha, em Curitiba
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