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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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INTEGRAÇÃO

Brasil quer repetir estratégia dos EUA para a Alca

País pode fazer propostas mais generosas para os sul-americanos

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A exemplo do que fizeram os EUA, o Brasil estuda fazer propostas diferenciadas de acesso a mercado para os países da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Se a estratégia se confirmar, as propostas mais generosas, que prevêem abertura mais rápida do mercado brasileiro, seriam para os sul-americanos.
A justificativa para ofertas melhores para os vizinhos brasileiros seria a mesma usado pelos Estados Unidos: é preciso levar em conta a diferença de tamanho das economias.
No início do ano, os 34 países do continente que negociam a Alca apresentaram suas ofertas iniciais de abertura de mercado. O Mercosul apresentou uma única proposta para todo o continente. Os EUA, por sua vez, fizeram quatro propostas diferentes. A menos generosa foi para o Mercosul.
Para os países do Caribe, os Estados Unidos ofereceram isenção imediata de tarifas de importação para 91% dos produtos industrializados e bens de consumo importados pelo país; para a América Central, 66%; para os países andinos (Venezuela, Peru, Colômbia, Bolívia e Equador), 61%; e para o Mercosul, 58%.
A estratégia da maior potência mundial foi interpretada como uma maneira de isolar o Brasil e a Argentina nas negociações. Ao fazer ofertas mais amplas para os demais países, os EUA minariam eventuais alianças com o Brasil.
O Itamaraty não ficou nada satisfeito com o formato de negociação dos EUA. Argumentava-se que a série de acordos bilaterais entre os EUA e as respectivas regiões criariam uma colcha de retalhos.
O governo brasileiro, no entanto, se convenceu de que precisa trabalhar com o fato de que os EUA "bilateralizaram" a Alca. Agora, é o Brasil que estuda fazer propostas diferenciadas.
Ao privilegiar os vizinhos sul-americanos com ofertas mais abrangentes, o governo também estaria colocando em prática o discurso de priorizar a região nas suas relações políticas e econômicas. As negociações, além de criar uma maior coesão política na América do Sul, poderiam evitar o isolamento do Brasil por parte dos Estados Unidos.
A possibilidade de propostas diferenciadas ainda não está fechada. Seria, no entanto, uma decorrência natural da estratégia americana e do próprio Brasil, que quer negociar acesso a mercado diretamente com os Estados Unidos na Alca.
O que já está decidido, do lado brasileiro, é a necessidade de diminuir as ambições da Alca. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, comunicou ao representante de Comércio dos EUA, Robert Zoellick, no final do mês passado, que o Brasil pretendia retirar da mesa de negociações da Alca temas considerados sensíveis pelo país, como compras governamentais e investimentos.


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