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DESIGUALDADE
Brancos têm mais tempo de estudo do que negros e pardos na média, o que é valorizado pelo mercado de trabalho
Para IBGE, escolaridade explica diferenças
DA SUCURSAL DO RIO
Sempre quando se compara a
situação no mercado de trabalho
de negros, pardos e brancos, a
maior dificuldade dos pesquisadores é determinar se a desigualdade é mais bem explicada pelo
preconceito ou pela diferença na
escolaridade.
Os dados do IBGE indicam que
muito dessa diferença é explicada
pela escolaridade. A pesquisa
mostra que brancos têm, em média, 2,1 anos de estudo a mais do
que negros e pardos, quando se
analisa a população ocupada, e 1,5
ano de estudo a mais entre os desempregados.
Entre os ocupados, a média de
escolaridade é de 9,8 anos de estudo para brancos e de 7,7 para negros e pardos. Quando se analisa
esse mesmo dado na população
desempregada, brancos aparecem com 9,5 anos de estudo, enquanto negros e pardos têm, em
média, 8 anos de estudo.
A comparação pode ser feita
também analisando toda a população em idade ativa (com dez
anos ou mais de idade). Entre os
brancos, 42,9% possuíam ao menos um diploma de ensino médio
completo. Entre os negros, essa
proporção caía para 24,9%.
Para Marcelo Paixão, pesquisador do Instituto de Economia da
UFRJ, que defende ações afirmativas para beneficiar negros e pardos no mercado de trabalho, a desigualdade racial não pode ser explicada por uma simples relação
de causa e efeito.
"Existe preconceito e discriminação no mercado de trabalho,
mas há também um histórico de
desvantagens acumuladas pelos
negros e pardos no Brasil", diz
Paixão.
Ele diz que a desigualdade racial
de hoje é explicada por um círculo
vicioso que vem se perpetuando
ao longo de várias gerações. "Desde o período da escravidão, a situação de pobreza é maior na população negra. Essa pobreza gera
baixa instrução, que gera mais
pobreza para a geração seguinte.
O perfil da desigualdade persiste
de maneira contínua. Há uma
inércia muito grande para romper esse círculo e ele ajuda a explicar a desigualdade detectada pela
pesquisa do IBGE."
Uma das maiores diferenças encontradas na pesquisa foi na taxa
que compara a proporção de pessoas que recebem menos de um
salário mínimo mensal por jornada de 40 horas semanais de trabalho. Entre negros e pardos, a porcentagem é de 18,2%, mais do que
o dobro da encontrada entre
brancos, que é de 7,5%.
Segundo Cimar Pereira, gerente
da Pesquisa Mensal de Emprego,
a comparação dos dados do IBGE
desde 2002 (foi possível fazer o
mesmo cruzamento nos últimos
30 meses) mostra que a desigualdade racial tem ficado estável em
todos os itens comparados. "O
quadro praticamente não mudou
nestes quase três anos", afirma.
Esse quadro de estabilidade nos
números da situação precária do
emprego para negros e pardos é
comprovado na vida real. "Já fiz
muita ficha de emprego, entrei
em várias filas e estou aguardando uma oportunidade há sete meses. Eu corro, corro e corro atrás,
mas a situação está difícil mesmo", afirma a carioca Marinete
do Espírito Santo Filha.
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