São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

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DESIGUALDADE

Brancos têm mais tempo de estudo do que negros e pardos na média, o que é valorizado pelo mercado de trabalho

Para IBGE, escolaridade explica diferenças

DA SUCURSAL DO RIO

Sempre quando se compara a situação no mercado de trabalho de negros, pardos e brancos, a maior dificuldade dos pesquisadores é determinar se a desigualdade é mais bem explicada pelo preconceito ou pela diferença na escolaridade.
Os dados do IBGE indicam que muito dessa diferença é explicada pela escolaridade. A pesquisa mostra que brancos têm, em média, 2,1 anos de estudo a mais do que negros e pardos, quando se analisa a população ocupada, e 1,5 ano de estudo a mais entre os desempregados.
Entre os ocupados, a média de escolaridade é de 9,8 anos de estudo para brancos e de 7,7 para negros e pardos. Quando se analisa esse mesmo dado na população desempregada, brancos aparecem com 9,5 anos de estudo, enquanto negros e pardos têm, em média, 8 anos de estudo.
A comparação pode ser feita também analisando toda a população em idade ativa (com dez anos ou mais de idade). Entre os brancos, 42,9% possuíam ao menos um diploma de ensino médio completo. Entre os negros, essa proporção caía para 24,9%.
Para Marcelo Paixão, pesquisador do Instituto de Economia da UFRJ, que defende ações afirmativas para beneficiar negros e pardos no mercado de trabalho, a desigualdade racial não pode ser explicada por uma simples relação de causa e efeito.
"Existe preconceito e discriminação no mercado de trabalho, mas há também um histórico de desvantagens acumuladas pelos negros e pardos no Brasil", diz Paixão.
Ele diz que a desigualdade racial de hoje é explicada por um círculo vicioso que vem se perpetuando ao longo de várias gerações. "Desde o período da escravidão, a situação de pobreza é maior na população negra. Essa pobreza gera baixa instrução, que gera mais pobreza para a geração seguinte. O perfil da desigualdade persiste de maneira contínua. Há uma inércia muito grande para romper esse círculo e ele ajuda a explicar a desigualdade detectada pela pesquisa do IBGE."
Uma das maiores diferenças encontradas na pesquisa foi na taxa que compara a proporção de pessoas que recebem menos de um salário mínimo mensal por jornada de 40 horas semanais de trabalho. Entre negros e pardos, a porcentagem é de 18,2%, mais do que o dobro da encontrada entre brancos, que é de 7,5%.
Segundo Cimar Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego, a comparação dos dados do IBGE desde 2002 (foi possível fazer o mesmo cruzamento nos últimos 30 meses) mostra que a desigualdade racial tem ficado estável em todos os itens comparados. "O quadro praticamente não mudou nestes quase três anos", afirma.
Esse quadro de estabilidade nos números da situação precária do emprego para negros e pardos é comprovado na vida real. "Já fiz muita ficha de emprego, entrei em várias filas e estou aguardando uma oportunidade há sete meses. Eu corro, corro e corro atrás, mas a situação está difícil mesmo", afirma a carioca Marinete do Espírito Santo Filha.


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