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REGULAÇÃO
Antônio Carlos Valente alega razões pessoais e deixa o cargo; substituto será indicado pelo presidente Lula
Vice deixa a Anatel; governo deve ter maioria no conselho
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Antônio Carlos Valente, 51, pediu demissão ontem do cargo de
vice-presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Ele tinha mandato, com estabilidade, até novembro, quando
poderia ser reconduzido. Valente
alegou estar sendo pressionado
por sua família. Ele ocupava cargo
de direção na agência desde 1997.
Com a saída de Valente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
tem duas vagas abertas no conselho da agência para preencher.
Lula já nomeou o ex-sindicalista
Pedro Jaime Ziller para a presidência da Anatel, em janeiro.
Com mais duas nomeações, o governo terá maioria no conselho,
composto de cinco membros.
Todas as decisões importantes
para o setor de telecomunicações
são tomadas pelo conselho. Valente deixa o posto antes de duas
decisões de impacto: a aprovação
da compra da Embratel pela empresa mexicana Telmex e a definição de reajustes das tarifas de telefonia fixa. Três votos são suficientes para definir uma decisão.
Desde o início do ano passado, o
governo vem entrando em atrito
com as agências reguladoras, acusadas de terem tomado o lugar
dos ministérios e de estarem exorbitando no exercício de suas funções. O governo chegou a pensar
em acabar com a estabilidade dos
diretores, mas a repercussão negativa fez com que a medida fosse
descartada.
Ainda assim, o governo enviou
ao Congresso projeto de lei com
modificações no funcionamento
das agências. O projeto estabelece
que o presidente poderá nomear
um ouvidor, sem necessidade de
aprovação do Senado, e que haverá um contrato de gestão entre as
agências e os ministérios aos
quais estão vinculadas. O contrato é uma forma de controlar o repasse de verbas para as agências,
que fica vinculado ao cumprimento de metas contratuais.
Valente negou que sua saída estivesse relacionada à atitude do
governo Lula em relação às agências. Ele atribuiu a decisão a razões pessoais: "Muitas vezes passei finais de semana longe da minha família. Eu tenho um título
que acho que ninguém gostaria
de carregar, que é de um pai ausente, marido ausente e filho ausente", disse.
Em abril de 2002, Valente entrou em atrito com o Banco Central, que estava tentando interferir, por meio da CPE (Câmara de
Política Econômica), na regulação do setor de telecomunicações.
Na ocasião, Valente questionou
o fato de dirigentes do BC terem
levado à CPE documento da BCP
(operadora de celular de São Paulo), com uma análise pessimista
sobre o setor de telecomunicações, pedindo mudanças nas regras sobre metas de oferta de telefones e de reajuste de tarifas.
Valente também não se dava
bem com o ex-presidente da Anatel Luiz Guilherme Schymura.
Ontem, ele fez uma referência velada a esse desentendimento.
"Agora a agência está em boas
mãos. Se ela não estivesse, eu não
estaria saindo, porque não saí em
momentos anteriores", disse.
Em janeiro, a revista "Época"
publicou que Valente e o conselheiro José Leite Pereira Filho faziam parte do conselhos da Perdigão e Acesita, respectivamente.
Ambos deixaram os conselhos
das empresas. Ontem, Valente
admitiu que a saída provocou
perda salarial, o que pesou na decisão de pedir demissão da Anatel. Um conselheiro da Anatel ganha aproximadamente R$ 8.000.
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