São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2004

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FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Apesar de calmaria com a recente elevação da taxa pelo Fed, novas altas testarão a resistência dos emergentes

Alívio com juros dos EUA pode durar pouco

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mercados financeiros demonstraram alívio depois que o Fed (o banco central dos Estados Unidos) elevou em apenas 0,25 ponto percentual os juros na quarta-feira passada. Mas, decorridos poucos dias, alguns analistas já afirmam que alegria de emergente pode durar pouco.
No dia do anúncio do Fed, dólar, risco-país e juros nos mercados futuros recuaram, enquanto o Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo) subia. E continuaram nessa tendência positiva até o final da semana.
O que os analistas querem saber agora é quando vai começar o chamado vôo para a qualidade -a movimentação de investidores em direção a títulos da dívida dos EUA, considerados ativos seguros e que estarão pagando taxas cada vez mais altas.
Mas a volatilidade, embora mais branda, deve continuar, segundo economistas. Para alguns analistas, um ponto delicado na trajetória de alta das taxas dos Estados Unidos será atingido quando os juros americanos, que acabam de subir para 1,25%, passarem dos 2% -o que pode ocorrer pouco antes do final deste ano.
"A Europa deve tentar manter os juros, hoje em 2%, até que a taxa americana alcance esse patamar. E aí vai começar a acompanhar o Fed para evitar desequilíbrio e impedir que o dinheiro vá da Europa para os EUA", diz Luiz Antonio Vaz das Neves, diretor de pesquisa da corretora Planner.
A alta de juros nos EUA preocupa porque a redução do interesse por ativos brasileiros diminui os fluxos de investidores para o país. Com menos dólares, a taxa de câmbio tende a subir, o que provoca alta também de parte da dívida pública atrelada ao câmbio.
O alto grau de endividamento do Brasil poderá colocá-lo em posição desfavorável em relação a outros emergentes. "Na hora de baixar o percentual alocado nesses países, gestores de fundos se perguntarão quem são as economias mais endividadas e que mais sofrerão com a redução de investimentos, diz Neves. "Infelizmente somos a Turquia e nós."
Desde que o Fed sutilmente sinalizou em janeiro que poderia subir os juros, o fluxo de investimentos recuou. Foi um primeiro movimento de manada, segundo analistas, mas pode ocorrer um movimento maior.
O alívio que se viu nos mercados na semana passada será continuamente testado. Mais do que nunca, as atenções estarão voltadas para cada índice da economia norte-americana que será divulgado. A partir deles, investidores tentarão entender o ritmo que o Fed imprimirá à redução dos juros americanos. A expectativa é que os juros voltem a subir 0,25 ponto percentual em cada uma das reuniões do Fed agendadas para o segundo semestre.
"A declaração do Fed não nos deu a mesma tranqüilidade que o resto do mercado assumiu em relação à possibilidade de concretização da alta gradual de juros nos EUA", segundo Alexandre Póvoa. "Percebe-se uma euforia."
Para Neves, a calmaria dos mercados soa meio falsa. "Parece ressaca do mar: por cima, água calminha, por baixo, a coisa está revolta. Na última vez em que o Fed subiu juros, de início, a Bolsa subiu três pregões seguidos e, depois, caiu em 15."


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