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Cidades médias têm maior crescimento econômico do país
Indústria substitui agropecuária e impulsiona a expansão
de municípios que têm entre 100 mil e 500 mil habitantes
Crescimento demográfico
também é mais acentuado;
cidades grandes perdem
participação no PIB total,
pequenas, na população
AMARO GRASSI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As cidades de tamanho médio vêm liderando a expansão
da atividade econômica industrial brasileira desde pelo menos o início da década. É o que
demonstra um cruzamento de
dados recém-concluído pelo
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) para o
período compreendido entre
2002 e 2005.
A pesquisa, feita a partir de
estatísticas e estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), mostra
que as cidades com entre 100
mil e 500 mil habitantes superam as demais em crescimento
do PIB (Produto Interno Bruto), do PIB per capita e demográfico (veja quadro abaixo).
Segundo o Ipea, o PIB nas cidades dentro desse corte cresceu, em média, a uma taxa de
5,27% ao ano, contra 4,63% das
grandes e 4,29% das pequenas
no período. A desagregação dos
índices por setor da economia
revela ainda o crescimento do
PIB industrial e de serviços em
detrimento da atividade agropecuária.
O crescimento econômico
tem se dado à custa das cidades
com mais de 500 mil habitantes, capitais sobretudo, que
perdem participação no total
do PIB do Brasil. Mas o aumento populacional cobra o preço
nas cidades abaixo dos 100 mil.
Os índices não contabilizam os
anos de 2006 e 2007, de maior
crescimento do país.
Apesar do indício de desconcentração regional, a maioria
dos 236 municípios nessa faixa,
nos quais vivem 47 milhões de
pessoas, ainda está sobretudo
na região Sudeste (118 municípios) (veja mapa abaixo), com
alta concentração no Estado de
São Paulo (64). Logo atrás vêm
o Sul (46) e o Nordeste (43).
No entanto alguns dos maiores índices de crescimento demográfico encontram-se nas
cidades médias do Norte (16) e
do Centro-Oeste (13), áreas de
fronteira econômica.
Elos de integração
Para essa pesquisa, o Ipea
considerou cidades médias os
municípios com população
maior do que 100 mil e menor
do que 500 mil habitantes. Na
prática, contudo, elas podem
ser destacadas de acordo com
sua função no sistema urbano
nacional.
Para Diana Motta, da Diretoria de Estudos Regionais e Urbanos do Ipea, elas caracterizam-se por constituir "elos de
integração regional". E podem
ser de três tipos, diz: as que gravitam em torno de regiões metropolitanas; as que centralizam uma aglomeração de cidades menores; e as isoladas.
Muitas dessas cidades compõem as regiões metropolitanas das principais capitais e,
portanto, não significam necessariamente interiorização.
Cidades que são elos de integração, mas que devido a um
desenvolvimento mais antigo e
consolidado ultrapassaram os
500 mil habitantes, ficam fora
desse recorte. Por exemplo,
Londrina (PR), Uberlândia
(MG) e algumas de São Paulo,
todas do segundo tipo.
Segundo o diretor do Departamento de Competitividade e
Tecnologia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), José Roriz, as empresas procuram no interior
proximidade do acesso à matéria-prima e do mercado e mão-de-obra especializada. Além
disso, "elas saem buscando
vantagens fiscais".
Reaglomeração
A interiorização do desenvolvimento econômico é, em certa
medida, um fenômeno conhecido desde pelo menos meados
da década de 1990. O que a pesquisa do Ipea evidencia é a reaglomeração em cidades intermediárias, isto é, que retêm
parte do êxodo do interior e
atraem investimentos antes
destinados às metrópoles.
Um trabalho do pesquisador
do Ipea Lauro Ramos sobre
mercado de trabalho, de 2006,
por exemplo, mostra o melhor
desempenho das áreas urbanas
não-metropolitanas em fatores
como ocupação, ocupação industrial, desemprego, informalidade e renda de 1992 a 2005.
Há um certo consenso de que
a migração econômica para o
interior guarda relação estreita
com a abertura econômica da
década passada, que abriu o
país à competição internacional. As melhorias em comunicação e a qualidade dos serviços
prestados nas cidades de tamanho médio foram facilitadores.
No Estado de São Paulo, onde o processo teve início e foi
mais acelerado, o interior superou a Grande São Paulo em peso industrial em 2004. Para
Motta, não é possível fazer uma
previsão nesse sentido para todo o país, mas trata-se, sem dúvida, de uma tendência.
AMARO GRASSI participou da
45ª turma de treinamento da
Folha, que foi patrocinada pela
Philip Morris Brasil e pela
Odebrecht
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