São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O IMPÉRIO SE MOVE

Tesouro americano empresta US$ 1,5 bi para país reabrir bancos hoje; FMI anuncia ampliação do pacote

EUA mudam estratégia e socorrem Uruguai

France Presse
Grupo protesta na frente da casa da família Peirano, dona do Banco de Montevidéu, acusada de retirar recursos do país


MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O Tesouro dos EUA decidiu emprestar US$ 1,5 bilhão de suas próprias reservas para permitir que os bancos do Uruguai reabram hoje. O empréstimo é emergencial e será devolvido pelo Uruguai aos EUA em uma semana, quando o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Bird (Banco Mundial) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) liberarem recursos de um novo pacote de ajuda ao país, anunciado no final da tarde de ontem.
As instituições elevaram em US$ 800 milhões seus empréstimos para o país. Somados, todos os pacotes oferecidos desde abril totalizam US$ 3,8 bilhões, quase 20% do PIB do país.
Em nota oficial, FMI, BID e Bird também anunciaram ontem o objetivo de acelerar os desembolsos ao Uruguai "de modo a tornar disponível US$ 1,5 bilhão das três instituições na próxima semana."
O financiamento direto dos EUA ao Uruguai visa antecipar imediatamente o valor de US$ 1,5 bilhão ao país. Em nota oficial divulgada enquanto chegava ontem ao Brasil, o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'Neill, anunciou da seguinte maneira o empréstimo-ponte: "Para garantir financiamento rápido ao governo do Uruguai em apoio a seu sistema bancário, o governo dos EUA concordou em fornecer até US$ 1,5 bilhão como um financiamento-ponte de curto prazo de seu Fundo de Estabilização Cambial."
Ainda segundo a nota, o "Uruguai implementou políticas econômicas sólidas e adotou o princípio do livre mercado...Um governo que implementa tais políticas econômicas fortes merece o apoio das instituições financeiras internacionais e dos EUA".
O "empréstimo-ponte" ao Uruguai será garantido integralmente pelos recursos das três instituições multilaterais e terá um prazo curtíssimo. Mesmo assim, é um marco. Será a primeira vez em que os EUA financiam diretamente um país emergente desde que George W. Bush assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2001.
Bush e O'Neill, foram críticos ferozes dos empréstimos diretos concedidos na década de 90 por Bill Clinton a economias emergentes em crise. O México (94) e o Brasil (98) receberam recursos do mesmo Fundo de Estabilização Cambial agora sendo ativado para ajudar o Uruguai.
Até o empréstimo de ontem, a filosofia da Casa Branca era a de que contribuintes norte-americanos não podiam ser obrigados a pagar pelas mazelas de outros governos e por empréstimos exagerados de bancos.
Embora possa ser criticado nos EUA por mudar sua política no meio do caminho, O'Neill poderá usar politicamente esse empréstimo para proteger-se de protestos no Brasil, na Argentina e no Uruguai. O secretário é criticado no Cone Sul não só pela política pouco generosa que implementou no Tesouro, mas também pelas recentes gafes que cometeu e que tumultuaram a economia brasileira recentemente.
John Taylor, subsecretário do Tesouro dos EUA encarregado de assuntos internacionais, negou que a decisão de emprestar recursos diretamente ao Uruguai represente um recuo na política restritiva da Casa Branca.
Segundo Taylor, o empréstimo-ponte "é essencial para que o Uruguai possa abrir seus bancos hoje e reencaminhar seu sistema de transações financeiras."
O empréstimo-ponte foi necessário devido ao descasamento entre o cronograma de desembolsos das instituições e a situação crítica dos bancos uruguaios, fechados desde terça passada.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Corralito parcial passa e bancos vão reabrir hoje
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.