São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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Analistas dizem que as perspectivas para o setor, nos próximos meses, não são favoráveis

Ações de bancos perderam 20% em julho

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ações de bancos foram do inferno para o céu na última semana. Despencaram na terça-feira, começaram a se recuperar no dia seguinte e na sexta-feira, figuraram entre as maiores altas da Bovespa. Mas a bonança não deve ser muito duradoura, segundo analistas.
A alta teria sido apenas uma correção técnica feita pelo mercado, que considerou exagerada a queda de papéis de grandes bancos. Os maiores do setor fecharam o mês de julho com perdas acumuladas em mais de 20%, em razão de temor de calote na dívida brasileira. Os bancos são os maiores detentores de títulos do governo.
A maior pressão para a queda veio de investidores e bancos estrangeiros. " Os estrangeiros, que foram os grandes vendedores, tiveram uma atuação desastrosa. Venderam coisas muito boas, como papéis de bancos, siderúrgicas, entre outros", diz Paulo Possas, sócio-diretor da administradora de carteiras de investimentos Eagle Capital.
O melhor desempenho dos C-Bonds, títulos da dívida externa brasileira, e a expectativa em relação ao acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) contribuíram para a valorização de papéis do setor bancário.
Para os próximos meses, porém, as perspectivas não são favoráveis. Os bancos estão restringindo crédito, reduzindo sua carteira de títulos públicos e estão perdendo receitas, dizem analistas.
Embora afirme que "o risco (para os bancos) é maior se houver problema na dívida", para Júlio Ziegelman, do BankBoston, em geral, "bancos têm risco baixo porque lucram com os juros na área de crédito e na tesouraria."
As preocupações devem atravessar as eleições e a posse do futuro presidente. Há uma grande quantidade de títulos da dívida pública que vencem no primeiro semestre de 2003, principalmente no primeiro trimestre.
"Estou um pouco pessimista em relação aos bancos, para o início do ano que vem. O presidente eleito vai ter que fazer a rolagem da dívida", diz Gregório Mancebo Rodriguez, da corretora Socopa.
Se as ações dos bancos voltarem a sofrer por conta do medo de um calote na dívida pública, afetarão o Ibovespa. Os bancos tiveram sua participação aumentada no índice na revisão feita pela Bovespa, para o período de setembro a dezembro deste ano.

Ibovespa
De acordo com a primeira prévia do novo Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo), divulgada na quinta-feira passada, aumentou de 8,5% para 10% a participação do setor de bancos no índice. Bradesco terá um peso de 4,950%, Itaú de 3,299% e Banco do Brasil de 1,842%.
Já a concentração do setor de telecomunicações, que crescia a cada virada de índice, manteve-se praticamente estável na nova composição, em vigor a partir de 1º de setembro.
O Ibovespa concentra os 57 papéis mais negociados no pregão paulista em doze meses. O que implica em maior participação no índice é o volume de negociação que o papel teve na Bolsa nos 12 meses anteriores. É uma média ponderada que leva em conta a liquidez de cada papel.
Algumas empresas que caíram muito no período, como GloboCabo e Embratel, ganharam participação no novo Ibovespa.
"O critério usado para compor a participação no índice gera quase uma distorção. A Vale do Rio Doce, por exemplo, está tendo correção negativa no Ibovespa", afirma Ziegelman.

FMI
Na próxima semana, o desempenho, não apenas do setor bancário como de toda a Bolsa, estará vinculado à evolução do acordo com o FMI e às pesquisas eleitorais.
Analistas se dividem quanto à possibilidade de o primeiro debate eleitoral (que seria transmitido ontem pela TV Bandeirantes) ter reflexos na Bolsa.


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