São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2007

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País pode acertar infra-estrutura, diz FedEx

Para economista-chefe de gigante mundial de logística, estabilidade econômica levará o Brasil a impulsionar área de transportes

Acidentes recentes servirão de alerta para acelerar investimentos no setor aéreo no país, afirma o chinês Gene Huang

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tem tudo para desenvolver sua infra-estrutura de transporte e de logística, mesmo em meio à crise aérea e às distâncias continentais.
Mais do que pela falta de planejamento, o desenvolvimento do transporte só não decolou ainda porque investimento em infra-estrutura, por definição, depende de previsibilidade de longo prazo, o que era impossível até bem pouco tempo atrás.
A avaliação é do chinês Gene Huang, economista-chefe da americana FedEx, maior empresa de entrega do mundo, que atua em 220 países. Para ele, a crise aérea resulta, entre outros fatores, do forte crescimento das companhias e do fluxo de passageiros, que não foi seguido de avanços na infra-estrutura, problema pelo qual passaram vários países. Leia entrevista à Folha.  

FOLHA - Qual a maior dificuldade de um país ao desenvolver sua infra-estrutura de transporte e logística?
GENE HUANG
- A maior dificuldade é levantar dinheiro. Para investir em infra-estrutura, precisamos de previsibilidade de longo prazo. E o Brasil não tinha isso até pouco tempo atrás. Estive aqui em 2002. O dólar estava indo para R$ 4, e os juros, acima de 20% ao ano. Quem vai querer investir com esse custo de capital? As coisas parecem diferentes agora.

FOLHA - A dimensão continental não dificulta e encarece o desenvolvimento logístico?
HUANG
- O Brasil é um dos países mais abençoados do mundo em condições geográficas. Tem uma das maiores superfícies sem montanhas, desertos ou áreas congeladas, ao contrário de Rússia, China e Canadá. O tamanho agrega valor ao serviço de transporte, fazendo com que seja mais rentável a sua exploração.

FOLHA - Quais experiências o Brasil deveria levar em conta para desenvolver o setor de transportes?
HUANG
- O Brasil deveria se espelhar na experiência da China e dos EUA, que resolveram gargalos semelhantes. Até os anos 50, os EUA não tinham um sistema rodoviário nacional, que foi construído a partir daquela década. O mesmo caso aconteceu na China: o chamado Nacional Express Way começou a ser construído apenas na década de 80, depois de um bom planejamento. A primeira lição é o ato de fazer um planejamento em nível nacional com garantias, desde o princípio, da existência de recursos para a execução dos projetos.

FOLHA - O Brasil teve dois grandes desastres aéreos em dez meses. Os aeroportos têm atrasos e cancelamentos. Houve negligência?
HUANG
- Os eventuais problemas que possam estar entre os motivos desses acidentes precisam ser reconhecidos e resolvidos sistematicamente. Mas primeiro é necessário ter certeza e entender as causas. Agora, quando um país cresce, a infra-estrutura sempre é deixada para trás e começa a ficar obsoleta. Aconteceu em todos os lugares, talvez sem a dimensão trágica dos desastres aéreos no Brasil. Mas isso também cria oportunidades de investimento para resolver a crise.

FOLHA - Como o Brasil pode lidar com essa limitação no setor aéreo?
HUANG
- É uma questão de planejamento estratégico. As autoridades devem ficar atentas ao crescimento da demanda para poder planejar possíveis ampliações na infra-estrutura já existente antes que ela não seja mais suficiente. Mas qual seria a melhor maneira? Expandir as estruturas existentes ou construir novas? A tendência mundial é sempre olhar primeiro para a infra-estrutura já existente e só depois expandi-la. Mas essa estrutura tem um limite. Quando ele chegar, deve-se partir para a construção de novos aeroportos, por exemplo. O que não pode acontecer é esperar que os limites sejam ultrapassados para começar a planejar alguma ação. Temos como exemplo os aeroportos de Hong Kong, Nova York e Xangai, que foram expandidos até o limite, e, depois, a demanda adicional foi transferida para outros aeroportos.

FOLHA - O Brasil deveria desenvolver mais o transporte terrestre?
HUANG
- É possível, sim, que novas estruturas como ferrovias e hidrovias sejam construídas, mas voltamos à questão do planejamento de longo prazo. Quando se tem um planejamento que contempla recursos comprometidos e investimentos garantidos, você desenvolve os meios mais eficazes.

FOLHA - O Brasil perde dinheiro por ter uma infra-estrutura limitada?
HUANG
- Do ponto de vista econômico, não vejo isso de maneira tão negativa assim. Acredito que os últimos acontecimentos, infelizmente, servirão como alerta da necessidade e da urgência de investimentos no setor aéreo. Essa crise acabará forçando que esses investimentos aconteçam mais rápido devido ao entendimento da seriedade da situação e da pressão que a opinião publica exerce sobre as autoridades.


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