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País pode acertar infra-estrutura, diz FedEx
Para economista-chefe de gigante mundial de logística, estabilidade econômica levará o Brasil a impulsionar área de transportes
Acidentes recentes servirão
de alerta para acelerar
investimentos no setor
aéreo no país, afirma o
chinês Gene Huang
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil tem tudo para desenvolver sua infra-estrutura
de transporte e de logística,
mesmo em meio à crise aérea e
às distâncias continentais.
Mais do que pela falta de planejamento, o desenvolvimento do
transporte só não decolou ainda porque investimento em infra-estrutura, por definição,
depende de previsibilidade de
longo prazo, o que era impossível até bem pouco tempo atrás.
A avaliação é do chinês Gene
Huang, economista-chefe da
americana FedEx, maior empresa de entrega do mundo,
que atua em 220 países. Para
ele, a crise aérea resulta, entre
outros fatores, do forte crescimento das companhias e do
fluxo de passageiros, que não
foi seguido de avanços na infra-estrutura, problema pelo qual
passaram vários países.
Leia entrevista à Folha.
FOLHA - Qual a maior dificuldade
de um país ao desenvolver sua infra-estrutura de transporte e logística?
GENE HUANG - A maior dificuldade é levantar dinheiro. Para
investir em infra-estrutura,
precisamos de previsibilidade
de longo prazo. E o Brasil não
tinha isso até pouco tempo
atrás. Estive aqui em 2002. O
dólar estava indo para R$ 4, e os
juros, acima de 20% ao ano.
Quem vai querer investir com
esse custo de capital? As coisas
parecem diferentes agora.
FOLHA - A dimensão continental
não dificulta e encarece o desenvolvimento logístico?
HUANG - O Brasil é um dos países mais abençoados do mundo
em condições geográficas. Tem
uma das maiores superfícies
sem montanhas, desertos ou
áreas congeladas, ao contrário
de Rússia, China e Canadá. O
tamanho agrega valor ao serviço de transporte, fazendo com
que seja mais rentável a sua exploração.
FOLHA - Quais experiências o Brasil
deveria levar em conta para desenvolver o setor de transportes?
HUANG - O Brasil deveria se espelhar na experiência da China
e dos EUA, que resolveram gargalos semelhantes. Até os anos
50, os EUA não tinham um sistema rodoviário nacional, que
foi construído a partir daquela
década. O mesmo caso aconteceu na China: o chamado Nacional Express Way começou a
ser construído apenas na década de 80, depois de um bom
planejamento. A primeira lição
é o ato de fazer um planejamento em nível nacional com garantias, desde o princípio, da
existência de recursos para a
execução dos projetos.
FOLHA - O Brasil teve dois grandes
desastres aéreos em dez meses. Os
aeroportos têm atrasos e cancelamentos. Houve negligência?
HUANG - Os eventuais problemas que possam estar entre os
motivos desses acidentes precisam ser reconhecidos e resolvidos sistematicamente. Mas primeiro é necessário ter certeza e
entender as causas. Agora,
quando um país cresce, a infra-estrutura sempre é deixada para trás e começa a ficar obsoleta. Aconteceu em todos os lugares, talvez sem a dimensão trágica dos desastres aéreos no
Brasil. Mas isso também cria
oportunidades de investimento para resolver a crise.
FOLHA - Como o Brasil pode lidar
com essa limitação no setor aéreo?
HUANG - É uma questão de planejamento estratégico. As autoridades devem ficar atentas
ao crescimento da demanda
para poder planejar possíveis
ampliações na infra-estrutura
já existente antes que ela não
seja mais suficiente. Mas qual
seria a melhor maneira? Expandir as estruturas existentes
ou construir novas? A tendência mundial é sempre olhar primeiro para a infra-estrutura já
existente e só depois expandi-la. Mas essa estrutura tem um
limite. Quando ele chegar, deve-se partir para a construção
de novos aeroportos, por exemplo. O que não pode acontecer é
esperar que os limites sejam ultrapassados para começar a
planejar alguma ação.
Temos como exemplo os aeroportos de Hong Kong, Nova
York e Xangai, que foram expandidos até o limite, e, depois,
a demanda adicional foi transferida para outros aeroportos.
FOLHA - O Brasil deveria desenvolver mais o transporte terrestre?
HUANG - É possível, sim, que
novas estruturas como ferrovias e hidrovias sejam construídas, mas voltamos à questão do
planejamento de longo prazo.
Quando se tem um planejamento que contempla recursos
comprometidos e investimentos garantidos, você desenvolve
os meios mais eficazes.
FOLHA - O Brasil perde dinheiro por
ter uma infra-estrutura limitada?
HUANG - Do ponto de vista econômico, não vejo isso de maneira tão negativa assim. Acredito que os últimos acontecimentos, infelizmente, servirão
como alerta da necessidade e
da urgência de investimentos
no setor aéreo. Essa crise acabará forçando que esses investimentos aconteçam mais rápido devido ao entendimento da
seriedade da situação e da pressão que a opinião publica exerce sobre as autoridades.
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