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São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

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POLÍTICA MONETÁRIA

Presidente diz que economia não é a de seus sonhos, mas critica a pressa de empresários e trabalhadores

Queda de juros não será drástica, diz Lula

Sergio Lima/Folha Imagem
Lula em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Planalto


WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No Palácio do Planalto, em discurso recheado de metáforas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a redução da taxa de juros não será "drástica" e cobrou mais ação dos empresários na solução de problemas sociais.
A fala do presidente, de improviso, durou cerca de 40 minutos e foi dirigida aos membros do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), que debateram um documento que pede, entre outras coisas, "redução drástica" da taxa de juros.
Com o documento na mão, Lula leu a frase em que defende a redução drástica de juros e questionou: "Por que a palavra drástica? Não bastaria falar em redução da taxa de juros?".
Lula afirmou que a queda de juros vai ocorrer, mas que "talvez não seja tão drástica como alguns querem". A próxima reunião do Banco Central para definir a taxa de juros, hoje em 22%, será nos dias 16 e 17. A expectativa do mercado é que ocorra uma queda de 1,5 ponto percentual.
Segundo Lula, a política econômica do governo é a possível: "A nossa política econômica talvez não seja a política econômica do sonho do Palocci [Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda], do meu sonho, mas é a política econômica possível neste momento".
Falando a uma platéia de cem representantes da sociedade civil, entre os quais empresários insatisfeitos com a reforma tributária, Lula afirmou que os apressados, que cobram rapidez do governo, são os mesmos que há oito meses imaginavam o desastre.
Segundo o presidente, ninguém mais do que ele deseja o crescimento econômico: "Mais do que ninguém, eu desejo criar os empregos que eu reivindiquei. A minha vida inteira foi reivindicar".
Lula usou metáforas e imagens para rechaçar os apressados e classificar sua gestão de serena [veja quadro ao lado]. Disse que "a nau tem comandante" e que não será influenciado por "ondas" porque não é surfista. Para pedir paciência, citou o período de fertilidade das mulheres.
Ao avaliar que a economia brasileira está entrando em uma nova fase, criou outra metáfora, desta vez utilizando os pés de jabuticaba do Palácio da Alvorada.
O presidente também fez uma crítica à lógica pouco sentimental de empresários e de setores da sociedade. "Os empresários e a sociedade não podem pensar apenas com a cabeça. Nós, seres humanos, somos tocados a sentimentos. O número é gelado demais, ele não dá sentimento."
Lula mencionou também as pressões de exportadores para que o dólar fique acima de R$ 3,20 e dos empresários que têm dívida em dólar para que a moeda americana fique abaixo de R$ 3,00.
"O que vai estabilizar a nossa moeda é a estabilização da economia e da política. Não vai ser o tacão do presidente do Banco Central, do ministro da Fazenda ou do presidente da República. Vai ser a lógica da confiabilidade que conquistamos no mundo", disse.
Lula disse que o governo vai fazer tudo o que puder ser feito "no sentido de colocar um dinheirinho no mercado" para aumentar o consumo. Citou linhas de crédito, liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e a possibilidade de novos acordos no setor automotivo, que teve redução de impostos.
Citando iniciativas de empresas na área social -abertura de restaurantes comunitários pela Coca-Cola, construção de cisternas por bancos e projetos de alfabetização pela Confederação Nacional da Indústria-, Lula cobrou maior participação do setor privado na solução dos problemas do país.
"Gente, vamos parar de pensar em nós mesmos. Vamos parar de sentar atrás de uma mesa e ficar dizendo: "Não, eu preciso disso, eu preciso daquilo, porque o dólar não sei das quantas, porque o juro não sei das quantas". Tudo isso é muito importante, a gente tem de discutir, mas vamos discutir o que cada um de nós pode fazer por aqueles que não tiveram a mesma oportunidade que todos nós tivemos", afirmou.
"Muitas vezes, nós cobramos muito dos outros e cobramos pouco de nós. Alguns problemas do Brasil não serão resolvidos por nenhum governo. Nós temos alguns problemas no Brasil que só serão resolvidos no dia em que a sociedade brasileira chamar para si a responsabilidade de resolvê-los", acrescentou.


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