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GRÃOS
Ministério confirma que funcionário norte-americano entregou lista de medidas
EUA propuseram quarentena à soja
DO COLUNISTA DA FOLHA
O Ministério da Agricultura
confirmou, em nota oficial, a suspeita levantada por Jorge Salim
Waquim, chefe de gabinete da Secretaria de Defesa Agropecuária:
os EUA propuseram, de fato,
"uma série de medidas" de quarentena no comércio de soja e derivados com o país.
A suspeita de Waquim tornou-se pública na segunda-feira,
quando ele denunciou o fato de
que um funcionário da agricultura norte-americana havia sido localizado na região de Barreiras
(BA) fazendo pesquisas sobre a
praga chamada "ferrugem da soja" (mal que se originou na Ásia).
Waquim exagerou na acusação,
ao dizer que poderia se tratar de
bioterrorismo, na medida em que
o esporo, o microorganismo que
causa a doença, está na lista norte-americana de agentes do terrorismo biológico.
Mas a outra suspeita do funcionário brasileiro era correta: depois de visitar a Bahia entre 18 e 23
de maio passado, o funcionário
(só agora identificado como Hossein El-Nashaar) solicitou audiência com seu congênere brasileiro,
o DDIV (Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal).
O encontro realizou-se no dia 11
passado e foi nele que El-Nashaar
listou as medidas de quarentena
que propunha.
Os técnicos brasileiros rejeitaram a lista alegando que a quarentena só poderia ser adotada após
"processo oficial de análise de risco de praga, e não de uma simples
visita", como a que o norte-americano fizera.
Sheila Ribeiro, técnica do
DDIV, disse ontem à Folha que
análises de risco de praga são rotineiras em diferentes países. O erro de El-Nashaar foi não ter feito o
pedido oficial para a análise, que
até teria base técnica: os Estados
Unidos não têm a "ferrugem da
soja" e poderiam, em tese, importá-la com os 70 mil quilos de farelo que o Brasil lhes venderia.
Embora pudesse ser tecnicamente justificado, o comportamento do funcionário norte-americano foi tão irregular que levou
o Ministério da Agricultura a pedir esclarecimentos a seu congênere norte-americano sobre "os
reais objetivos da visita do pesquisador ao Brasil".
É óbvio que o miniincidente ganhou maiores proporções no
contexto da acesa polêmica entre
Brasil e Estados Unidos sobre
protecionismo agrícola (polêmica
que existe também entre Brasil e
União Européia).
Risco de retaliação
O governo e os produtores brasileiros se julgam prejudicados e
não escondem o temor de que, à
medida que aumenta a exportação do agronegócio brasileiro, aumente também o risco de retaliação, com o uso de instrumentos
como o da quarentena para a soja.
Ainda ontem, o Ministério da
Agricultura divulgou o balanço
exportador do agronegócio brasileiro, o qual mostra que 47,5% das
exportações do país provêm da
agropecuária.
A soja contribuirá, neste ano,
com US$ 8 bilhões de exportações, número com o qual o Brasil
desloca os EUA do posto de maior
exportador mundial.
O ministro Roberto Rodrigues
(Agricultura), nas conversas com
seus assessores, tem dito que esse
avanço exportador significa que
"o Brasil está tirando alguém do
mercado e esse alguém não vai ficar satisfeito com isso".
É natural, nessas circunstâncias,
que haja um imenso ruído quando um funcionário justamente do
país que perdeu o primeiro lugar
para o Brasil dá um passo em falso, como o de sugerir uma quarentena da soja sem análise de risco devidamente formalizada.
Pelo que a Folha apurou, foi
exatamente isso que se deu: sem
ter feito análise nenhuma, El-Nashaar propôs a quarentena.
A dúvida é se foi uma iniciativa
pessoal ou orientação superior.
A Embaixada dos EUA, em resposta à consulta feita pela Folha,
informa que tinha conhecimento
da discussão sobre medidas de
quarentena, mas alega que foi
"preliminar e sujeita a futura troca de informações sobre a ferrugem no Brasil".
Diz também que as suspeitas sobre o risco da praga se basearam
em "informações públicas amplamente disponíveis em sites na internet e publicações brasileiras".
Lembra, ainda, que o Brasil relatou a existência de ferrugem asiática desde 2001.
(CLÓVIS ROSSI)
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