São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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EM TRANSE

Movimento é visto em Wall Street como voto de confiança em Lula, mas parte do mercado ainda desconfia do candidato

Corretora recua e agora recomenda Brasil

France Presse
Operador da Bovespa cola um adesivo de Lula em seu crachá


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A dois dias das eleições presidenciais brasileiras, a corretora de valores Merrill Lynch, a maior do mundo, volta atrás em sua classificação e eleva a recomendação dos papéis da dívida do Brasil. O movimento foi visto por Wall Street como um voto de confiança em um governo Lula.
A corretora norte-americana elevou a nota dos bônus brasileiros para "marketweight" (valor de mercado) em seu modelo de portfólio de títulos da dívida de países emergentes.
No dia 25 de setembro, a Merrill Lynch havia rebaixado os mesmos papéis para "underweight" (abaixo do valor de mercado) citando entre os motivos principais a ascensão do candidato petista nas pesquisas.
No relatório reservado distribuído ontem a seus investidores e intitulado "De Volta ao Começo", a corretora dá uma dica do que levou seus economistas a mudarem de idéia. "Nós concluímos que as eleições não devem ser encaradas como um marco para uma ação já nos primeiros dias depois de domingo [amanhã"", escreve Tulio Vera, estrategista-chefe de débito da Merrill.
"Em vez disso, recomendamos que o foco seja colocado em eventos específicos que identificamos como críticos dependendo do resultado de domingo", diz o texto. Assim, a corretora abafa e adia o nervosismo do mercado, tirando a temperatura do resultado eleitoral.
A Merrill explica sua elevação trabalhando com dois cenários. No primeiro, Luiz Inácio Lula da Silva vence as eleições já no primeiro turno, amanhã. Então, há impacto positivo para os títulos da dívida, pois o petista nomearia rapidamente sua equipe econômica.
No segundo, Lula e o governista José Serra, o favorito do mercado, disputam o segundo turno, e o impacto positivo vem dos que haviam perdido a esperança de um segundo turno, reconstruindo uma visão construtiva.

Caos e "mea culpa"
A capitulação parcial da Merrill diante de um possível governo petista dividiu Wall Street. Parte embarcou na onda e fez um rápido "mea culpa". Outra parte segue pregando o caos.
Entre os últimos está a agência classificadora de risco Fitch, que em estudo divulgado no fim do mês passado já apontava o país como o principal foco de instabilidade na economia da América Latina.
Em relatório também de ontem, o economista Joseph Bormann ameaça rebaixar a avaliação de bancos e empresas brasileiros caso uma vitória do petista já no primeiro turno ou a confirmação do segundo turno não consiga acalmar os mercados.
"Se os bancos internacionais interromperem as transações com o Brasil por um período de tempo prolongado depois das eleições, é provável que o Fitch rebaixe algumas classificações de corporações [brasileiras]", disse.
Com a Fitch concorda o analista Urban Larson, da Baring Asset Management e inventor do "portfólio Lula", pacote de ações de empresas que sofrerão menos com um governo petista.
"Wall Street ainda não está preparada para um governo Lula, os mercados têm sido histéricos quanto à possibilidade, e se ele ganhar tudo vai ficar ainda mais nervoso", disse ele à Folha.
Pouco a pouco, porém, cresce o número de economistas e de empresas que acham que não perceberam a tempo o rumo para o qual caminhava tanto a economia como a política do Brasil.
"Desde o começo da campanha, as pesquisas mostraram que os eleitores brasileiros queriam uma mudança", disse Emy Shayo, analista do banco de investimento Bear Stearns. "Acho que, entre outras coisas, as pessoas fecharam os olhos para esse fato."

Semana
O mercado brasileiro fechou a semana de forma relativamente tranquila. O dólar caiu bastante ontem, o risco-país caiu abaixo da marca dos 2.000 pontos. E a Bovespa se descolou da Bolsa de Nova York e fechou em alta.
Só ontem, o dólar caiu 2,16%, cotado a R$ 3,62. Na semana, a queda foi de 6,7%.
O risco-país caiu 3,45% ontem, para 1.960 pontos. O índice fechou abaixo dos 2.000 pontos, o que não ocorria desde o dia 23 de setembro.


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