São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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Indenizações de executivos de bancos chocam americanos

Bônus milionários previstos em contrato e recebidos por dirigentes de instituições financeiras falidas são alvo de críticas

Limite a pagamento a executivos foi uma das exigências de congressistas americanos para apoiar pacote de socorro ao mercado

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Desde o agravamento da crise econômica americana, há quase três semanas, cifras como US$ 20 milhões, US$ 45 milhões ou US$ 116 milhões só têm aparecido no noticiário financeiro na forma de prejuízo. Mas há uma espécie de universo paralelo em Wall Street em que esses dólares estão no azul: a conta corrente de executivos de bancos falidos, que saíram da quebradeira recebendo bônus milionários, conforme previsto em seus contratos.
O caso do Alan Fishman, que havia assumido a presidência do Washington Mutual 17 dias antes de o banco falir -e, sob intervenção federal, ter seus ativos comprados pelo JPMorgan-, é motivo de escândalo atualmente no país. Apesar de ter ficado menos de três semanas no emprego, recebeu quase US$ 20 milhões de bônus de contratação e indenização por demissão.
A notícia desperta críticas de legisladores e colunistas econômicos, que citam a disparidade entre esses ganhos e as perdas gigantescas de acionistas e funcionários de médio e baixo escalão.
Impedir os bancos de despejar tanto dinheiro no bolso de seus executivos foi uma das exigências de deputados americanos para apoiarem o pacote de US$ 700 bilhões de socorro ao mercado, antes de ele fracassar no Congresso na primeira tentativa de aprovação, no início da semana passada.
O argumento é que seria injusto sacrificar o contribuinte em uma quantia quase trilionária enquanto a elite dos bancos quebrados -a quem se atribui a edificação da crise, pela irresponsabilidade na busca de lucro fácil- é recompensada.

Mais de US$ 100 milhões
A lista de profissionais que deixaram bancos falidos com "pára-quedas dourados", como esses bônus são chamados nos EUA, é recheada de cifras ainda mais reluzentes.
Com ajuda de bônus, Richard Fuld, que conduzia o banco Lehman Brothers quando este pediu concordata, no meio de setembro, teve ganhos de US$ 45 milhões em 2007, segundo a Equilar, empresa que pesquisa salários de executivos.
Já Stan O'Neal se aposentou do banco Merrill Lynch há menos de um ano levando para casa US$ 161 milhões em indenizações. Recentemente, o Merrill Lynch, à beira do colapso, foi vendido para o Bank of America.
Com tantos exemplos de felizardos na crise, foi notório o caso de Robert Willumstad, que rejeitou bônus de US$ 22 milhões a que teria direito por seu contrato como presidente da seguradora AIG, socorrida com US$ 85 bilhões do Fed (o banco central americano) para que não quebrasse. Ele havia deixado o cargo no início do mês e, em um e-mail ao sucessor, Edward Liddy, documentou a decisão de dispensar o dinheiro.
"Eu prefiro não receber pagamento de rescisão em um momento em que acionistas e empregados perderam valor considerável de suas ações do AIG", escreveu Willumstad, segundo a imprensa americana.


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