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MERCADO ABERTO
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br
A China é a próxima bolha a estourar
Não se pode subestimar a
força dos laços entre os países
e, mais do que nunca, é fundamental prestar atenção às armadilhas que a globalização esconde. O alerta é do especialista
em economia internacional
David Smick, 55, depois que
empresários e investidores foram surpreendidos pela fragilidade dos bancos americanos,
cujo desmoronamento ameaça
instituições de diversas nacionalidades.
Diretor da consultoria em
mercado financeiro Johnson
Smick International e interlocutor do ex-presidente do banco central americano Alan
Greenspan, do megainvestidor
George Soros e do ex-secretário
do Tesouro Lawrence Eagleburger, Smick está retomando
a tarefa de explicar a nova ordem contemporânea do ponto
onde Thomas L. Friedman parou no seu "O Mundo é Plano".
No recém-lançado "The World
is Curved - Hidden Dangers to
the World Economy" (em tradução livre, "O Mundo é Curvo
- Perigos Ocultos para a Economia Mundial"), que sai no Brasil em 2009 pela Editora BestSeller, ele cita a China como
uma ameaça menosprezada.
FOLHA - Por que o senhor afirma
que o avanço da China é uma "bolha"?
SMICK - Não estou querendo
dizer uma bolha no sistema financeiro, mas sim no sentido
político e social. O governo chinês está diante do desafio de
gerar empregos para uma população equivalente à do Canadá todo ano. Como a economia
mundial está ruim, suas exportações começam a cair; conseqüentemente, o país precisa estimular a demanda interna. É
complicado fazer isso, porém,
quando as pessoas têm o hábito
de poupar 50% da sua renda.
Existem ainda as elevadas expectativas de uma massa que
agora quer fazer parte da classe
média, as quais precisam ser
correspondidas. O país acha
que seu crescimento cairá de
11% ao ano para 8% ou 9%, mas
e se cair para 6%? Como será
possível controlar as pressões
sociais? Vai haver um problema muito sério.
FOLHA - Então o senhor é pessimista quanto às perspectivas para a
economia mundial?
SMICK - Um grande número de
países está se enfraquecendo
rapidamente. A demanda global está desabando. Havia uma
teoria, até alguns meses atrás,
de que o mundo estava descolando dos EUA. Obviamente,
essa idéia caiu. A Europa está se
desacelerando, e o Japão enfrenta uma recessão. Os emergentes -com algumas exceções, como o Brasil- também
sentem a demanda pelos seus
produtos diminuir. Definitivamente, são tempos difíceis.
FOLHA - Mas a economia é mesmo
feita de ciclos: depois das bonanças,
vêm as tempestades.
SMICK - Sim, concordo. É bom
imaginar que os EUA, primeiro
país a entrar em desaquecimento, será o primeiro a sair,
em algum momento no final de
2009. Vai ser um ano duro, entretanto; deve levar pelo menos
seis ou nove meses até a economia americana começar a melhorar. E o que vai determinar
quão rápida será a recuperação
é a velocidade em que as reformas financeiras forem colocadas em prática. A primeira tarefa é remover o lixo tóxico do
"subprime" dos balanços dos
bancos. Posteriormente, será
preciso uma reforma geral do
sistema bancário, a qual deve
estabelecer normas para a alavancagem e pedir mais transparência no mercado de securitização de ativos. No entanto,
tais mudanças devem ser feitas
em um nível global.
FOLHA - O Brasil deve participar
dessa discussão?
SMICK - O Brasil é muito especial. Ficamos tão fixados na
idéia de G7 [reunião das nações
mais industrializadas], e depois
G8, mas a realidade é que não
existe o grupo das maiores economias mundiais sem a China,
a Índia, o Brasil e a Rússia. Esses são os grandes atores e o
Brasil tem que fazer parte [do
grupo de líderes]. Acredito firmemente que o mercado financeiro não voltará a ser saudável
enquanto não houver uma solução global. É um momento
histórico importante como
aquele posterior à Segunda
Guerra, quando os países se
sentaram à mesa em Bretton
Woods.
DA PRAÇA SAENS PENA AO CENTRAL PARK
Após sete anos vivendo em
Nova York, em 1994 o carioca
Marcos Cohen, 42, resolveu
"deixar de vender coisas pequenas para vender coisas grandes": pediu demissão da loja de
produtos eletrônicos da qual
era gerente e aventurou-se no
ramo imobiliário. Não poderia
ter tomado melhor decisão. Foi
naquela época que os apartamentos começaram a se valorizar, na cidade, e não há crise
que derrube os preços.
"Um estúdio [quitinete] que
há 15 anos custava US$ 100 mil
não sai hoje por menos de US$
600 mil. Para cada imóvel, há
cinco compradores interessados, e não creio que essa realidade vá mudar", diz. "Nova
York, devido à qualidade de vida e à programação cultural, é a
melhor cidade do mundo, é onde todos querem estar." Com a
forte queda da Bolsa de Valores, o seu telefone não sossega
-são clientes ansiosos por sacar suas economias do mercado
acionário e colocar em imóveis,
um ativo "real".
Cohen é vice-presidente da
imobiliária de luxo Prudential
Douglas Elliman e mora na região de Columbus Circle, no coração de Manhattan. "Tenho
muito orgulho em contar que
fui da praça Saens Pena ao Central Park."
Em todo esse tempo, o executivo atendeu poucos brasileiros. "São funcionários de banco
transferidos e jornalistas que
gostam de morar no Upper
East Side. Mas a maioria prefere Miami mesmo, pelo clima."
CRISE EMOCIONAL
Para Carlos Ferreirinha, diretor-presidente da
consultoria de negócios
de luxo MCF, o luxo será
uma das vítimas da crise.
No Brasil, é cedo para citar impactos, mas a preocupação é crescente. As
maiores marcas de luxo
nos EUA não devem superar crescimento de 7%
neste ano, diz Ferreirinha. O número representa queda de 50% nos crescimentos dos últimos
anos. "É expressivo para
quem era acostumado a
altas de dois dígitos." Para os brasileiros, Ferreirinha diz que o problema
está na grande dependência entre consumo de luxo
e crédito. "O consumo
parcelado deve ser comprometido." Há também o
"impacto emocional".
Mesmo antes de impactos
reais, as pessoas param de
consumir, por precaução.
LOGOMARCA
A partir de novembro, o Instituto do Câncer Octavio
Frias de Oliveira, inaugurado em maio pelo governo de
São Paulo, irá exibir uma nova logomarca. O trabalho foi
desenvolvido pela agência Africa, do publicitário Nizan
Guanaes. O símbolo estará nas placas, nos uniformes e
nos documentos do instituto. A Africa desenvolveu o logotipo de graça para a Faculdade de Medicina da USP, gestora da entidade.
KREMLIN
A chef Carla Pernambuco
foi convidada para preparar
três jantares na embaixada
brasileira em Moscou, nos
dias 19, 20 e 21, neste que é o
mês do Brasil na Rússia. Na
programação, há também
uma palestra com o crítico
gastronômico Arnaldo Lourençato, no dia 16.
CHUVEIRO
A Albany entrou no segmento de sabonete antibacteriano, nicho liderado pela multinacional Colgate-Palmolive, dona da Protex. O Albany Protege terá versão masculina e feminina. Quarta fabricante de sabonete do país, a Albany espera subir sua participação para 8%.
NOVA ORDEM
Fernando Henrique dará
palestra sobre globalização e
a nova ordem financeira
mundial, no evento de entrega do Rochaverá Corporate Towers, no dia 20, em
São Paulo. O empreendimento de R$ 600 milhões
tem investimento da Tishman Speyer e da Autonomy.
GÔNDOLA
A marca de cigarros Carlton com o selo Dunhill começa a ser vendida em pontos-de-venda de São Paulo amanhã. Carlton passa a fazer parte da família Dunhill, mas o produto não será alterado. A marca Dunhill é uma das mais consolidadas da British American Tobacco.
com DENYSE GODOY, JOANA CUNHA e VERENA FORNETTI
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