São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

A China é a próxima bolha a estourar

Não se pode subestimar a força dos laços entre os países e, mais do que nunca, é fundamental prestar atenção às armadilhas que a globalização esconde. O alerta é do especialista em economia internacional David Smick, 55, depois que empresários e investidores foram surpreendidos pela fragilidade dos bancos americanos, cujo desmoronamento ameaça instituições de diversas nacionalidades. Diretor da consultoria em mercado financeiro Johnson Smick International e interlocutor do ex-presidente do banco central americano Alan Greenspan, do megainvestidor George Soros e do ex-secretário do Tesouro Lawrence Eagleburger, Smick está retomando a tarefa de explicar a nova ordem contemporânea do ponto onde Thomas L. Friedman parou no seu "O Mundo é Plano". No recém-lançado "The World is Curved - Hidden Dangers to the World Economy" (em tradução livre, "O Mundo é Curvo - Perigos Ocultos para a Economia Mundial"), que sai no Brasil em 2009 pela Editora BestSeller, ele cita a China como uma ameaça menosprezada.

 

FOLHA - Por que o senhor afirma que o avanço da China é uma "bolha"?
SMICK - Não estou querendo dizer uma bolha no sistema financeiro, mas sim no sentido político e social. O governo chinês está diante do desafio de gerar empregos para uma população equivalente à do Canadá todo ano. Como a economia mundial está ruim, suas exportações começam a cair; conseqüentemente, o país precisa estimular a demanda interna. É complicado fazer isso, porém, quando as pessoas têm o hábito de poupar 50% da sua renda. Existem ainda as elevadas expectativas de uma massa que agora quer fazer parte da classe média, as quais precisam ser correspondidas. O país acha que seu crescimento cairá de 11% ao ano para 8% ou 9%, mas e se cair para 6%? Como será possível controlar as pressões sociais? Vai haver um problema muito sério.

FOLHA - Então o senhor é pessimista quanto às perspectivas para a economia mundial?
SMICK - Um grande número de países está se enfraquecendo rapidamente. A demanda global está desabando. Havia uma teoria, até alguns meses atrás, de que o mundo estava descolando dos EUA. Obviamente, essa idéia caiu. A Europa está se desacelerando, e o Japão enfrenta uma recessão. Os emergentes -com algumas exceções, como o Brasil- também sentem a demanda pelos seus produtos diminuir. Definitivamente, são tempos difíceis.

FOLHA - Mas a economia é mesmo feita de ciclos: depois das bonanças, vêm as tempestades.
SMICK - Sim, concordo. É bom imaginar que os EUA, primeiro país a entrar em desaquecimento, será o primeiro a sair, em algum momento no final de 2009. Vai ser um ano duro, entretanto; deve levar pelo menos seis ou nove meses até a economia americana começar a melhorar. E o que vai determinar quão rápida será a recuperação é a velocidade em que as reformas financeiras forem colocadas em prática. A primeira tarefa é remover o lixo tóxico do "subprime" dos balanços dos bancos. Posteriormente, será preciso uma reforma geral do sistema bancário, a qual deve estabelecer normas para a alavancagem e pedir mais transparência no mercado de securitização de ativos. No entanto, tais mudanças devem ser feitas em um nível global.

FOLHA - O Brasil deve participar dessa discussão?
SMICK - O Brasil é muito especial. Ficamos tão fixados na idéia de G7 [reunião das nações mais industrializadas], e depois G8, mas a realidade é que não existe o grupo das maiores economias mundiais sem a China, a Índia, o Brasil e a Rússia. Esses são os grandes atores e o Brasil tem que fazer parte [do grupo de líderes]. Acredito firmemente que o mercado financeiro não voltará a ser saudável enquanto não houver uma solução global. É um momento histórico importante como aquele posterior à Segunda Guerra, quando os países se sentaram à mesa em Bretton Woods.

DA PRAÇA SAENS PENA AO CENTRAL PARK

Após sete anos vivendo em Nova York, em 1994 o carioca Marcos Cohen, 42, resolveu "deixar de vender coisas pequenas para vender coisas grandes": pediu demissão da loja de produtos eletrônicos da qual era gerente e aventurou-se no ramo imobiliário. Não poderia ter tomado melhor decisão. Foi naquela época que os apartamentos começaram a se valorizar, na cidade, e não há crise que derrube os preços.
"Um estúdio [quitinete] que há 15 anos custava US$ 100 mil não sai hoje por menos de US$ 600 mil. Para cada imóvel, há cinco compradores interessados, e não creio que essa realidade vá mudar", diz. "Nova York, devido à qualidade de vida e à programação cultural, é a melhor cidade do mundo, é onde todos querem estar." Com a forte queda da Bolsa de Valores, o seu telefone não sossega -são clientes ansiosos por sacar suas economias do mercado acionário e colocar em imóveis, um ativo "real".
Cohen é vice-presidente da imobiliária de luxo Prudential Douglas Elliman e mora na região de Columbus Circle, no coração de Manhattan. "Tenho muito orgulho em contar que fui da praça Saens Pena ao Central Park."
Em todo esse tempo, o executivo atendeu poucos brasileiros. "São funcionários de banco transferidos e jornalistas que gostam de morar no Upper East Side. Mas a maioria prefere Miami mesmo, pelo clima."

CRISE EMOCIONAL

Para Carlos Ferreirinha, diretor-presidente da consultoria de negócios de luxo MCF, o luxo será uma das vítimas da crise. No Brasil, é cedo para citar impactos, mas a preocupação é crescente. As maiores marcas de luxo nos EUA não devem superar crescimento de 7% neste ano, diz Ferreirinha. O número representa queda de 50% nos crescimentos dos últimos anos. "É expressivo para quem era acostumado a altas de dois dígitos." Para os brasileiros, Ferreirinha diz que o problema está na grande dependência entre consumo de luxo e crédito. "O consumo parcelado deve ser comprometido." Há também o "impacto emocional". Mesmo antes de impactos reais, as pessoas param de consumir, por precaução.

LOGOMARCA

A partir de novembro, o Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira, inaugurado em maio pelo governo de São Paulo, irá exibir uma nova logomarca. O trabalho foi desenvolvido pela agência Africa, do publicitário Nizan Guanaes. O símbolo estará nas placas, nos uniformes e nos documentos do instituto. A Africa desenvolveu o logotipo de graça para a Faculdade de Medicina da USP, gestora da entidade.

KREMLIN
A chef Carla Pernambuco foi convidada para preparar três jantares na embaixada brasileira em Moscou, nos dias 19, 20 e 21, neste que é o mês do Brasil na Rússia. Na programação, há também uma palestra com o crítico gastronômico Arnaldo Lourençato, no dia 16.

CHUVEIRO
A Albany entrou no segmento de sabonete antibacteriano, nicho liderado pela multinacional Colgate-Palmolive, dona da Protex. O Albany Protege terá versão masculina e feminina. Quarta fabricante de sabonete do país, a Albany espera subir sua participação para 8%.

NOVA ORDEM
Fernando Henrique dará palestra sobre globalização e a nova ordem financeira mundial, no evento de entrega do Rochaverá Corporate Towers, no dia 20, em São Paulo. O empreendimento de R$ 600 milhões tem investimento da Tishman Speyer e da Autonomy.

GÔNDOLA
A marca de cigarros Carlton com o selo Dunhill começa a ser vendida em pontos-de-venda de São Paulo amanhã. Carlton passa a fazer parte da família Dunhill, mas o produto não será alterado. A marca Dunhill é uma das mais consolidadas da British American Tobacco.

com DENYSE GODOY, JOANA CUNHA e VERENA FORNETTI



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