São Paulo, segunda-feira, 05 de outubro de 2009

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Sem reformas, Fundo voltará à "irrelevância", ameaça Mantega

DO ENVIADO A ISTAMBUL

O governo brasileiro voltou a insistir em que a reforma do sistema de representatividade dos países no FMI conceda um aumento de sete pontos percentuais aos emergentes, e não apenas os cinco pontos acordados no G20 há dez dias.
Em discurso ontem diante do comitê financeiro do Fundo, o ministro Guido Mantega (Fazenda) exortou os países-membros a acelerar a reforma e dar mais voz aos emergentes.
"Claro que há um outro cenário. Com a crise perdendo força, o Fundo pode voltar à sua irrelevância e se tornar novamente uma instituição atormentada por dúvidas existenciais. E os países vão buscar proteção acumulando reservas elevadas para evitar o custo político de ter de recorrer ao FMI", afirmou Mantega. "Não é isso o que queremos."
Antes da atual crise global, o FMI vinha perdendo rapidamente influência e estava deficitário, já que não havia países em crise tomando dinheiro emprestado a juros do órgão.
O argumento da Fazenda e dos outros membros do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) é que sete pontos a mais na participação dividiria praticamente à metade o peso entre emergentes e países ricos no Fundo.
Em seu pronunciamento, Timothy Geithner, secretário do Tesouro dos EUA (maior sócio do FMI e único país com poder de veto), afirmou que os emergentes devem receber "pelo menos" cinco pontos a mais nas cotas e cobrou agilidade do FMI para a mudança.
Ele disse também que nenhuma reforma no comitê-executivo do Fundo poderá reduzir o número de cadeiras dos emergentes. Os EUA defendem um corte de 24 para 20 vagas no comitê à custa dos europeus.
Questionado sobre a insistência do Brasil pelos sete pontos, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse que o acordo do G20 prevê cinco pontos. "O Bric quer mais, e outros países, menos."
Ele disse que, dos pontos acertados ontem, um dos mais importantes é a criação do "Exercício de Alerta Preventivo", em que o FMI passará a fazer correlações entre seus países-membros. A ideia é examinar individualmente, regionalmente e globalmente as várias hipóteses de crise que podem surgir a partir de desequilíbrios de regiões específicas ou países.
Outra prioridade do FMI será elaborar um fundo acessível a todos os seus 186 membros que substitua as reservas internacionais que cada país acumula individualmente.
O Brasil é favorável à ideia, mas quer que o saque seja automático e sem nenhuma condição. Strauss-Kahn concorda, mas diz que ainda é muito cedo para imaginar como será o mecanismo de funcionamento desse fundo. (FCZ)


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