São Paulo, segunda, 5 de outubro de 1998

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VAREJO
Grupo Pão de Açúcar mantém meta de chegar a US$ 7,5 bi até 2000
Crescer na crise é o novo jogo de Diniz

RICARDO GRINBAUM
FÁTIMA FERNANDES

da Reportagem Local

Abílio Diniz, 60, dono do grupo Pão de Açúcar, quer enfrentar a recessão prevista para 99 com o mesmo espírito competitivo com que pratica esportes duas vezes por dia.
Com US$ 500 milhões disponíveis em caixa, Diniz decidiu manter os planos de aumento do faturamento da rede dos US$ 5,2 bilhões, previstos para este ano, para US$ 7,5 bilhões até o ano 2000.
"Combinamos na empresa que se as vendas caírem, serão às dos nossos concorrentes. Esse é o nosso desafio. É como uma corrida. Se pararmos, os que estão do nosso lado passam na frente."
As condições para a prova do Pão de Açúcar ficaram mais difíceis. Com o mercado internacional fechado para países em desenvolvimento, o grupo adiou a emissão de US$ 100 milhões em debêntures - títulos que rendem juros - previstas para este ano.
"Não é um bom momento para mexer nisso. Como fizemos outra emissão de R$ 250 milhões, em agosto, no Brasil, achamos que estava de bom tamanho."
Mesmo sem novas emissões, o grupo chega aos 50 anos, completados em setembro, em expansão. Em um ano, o grupo comprou lojas de seis redes, somando mais US$ 1 bilhão ao seu faturamento anual. Agora, estuda negócios nos países vizinhos, do Mercosul.
Ao contrário de outros empresários, Diniz afirma que não têm planos de recomprar as ações do grupo, mais baratas com a crise. "Emitimos ações com o compromisso de investir no crescimento da empresa", afirma Diniz, "mas isso não significa que a atitude de outras empresas seja incorreta".
Dizendo-se confiante que o real não será desvalorizado, o dono do Pão de Açúcar acredita que remeter dólares para o exterior é uma moda. "Essa é uma defesa que pode custar caro, é um movimento que não acho correto."
Na sua opinião, o Brasil tem condições de voltar a crescer no ano 2000. Se nesse período, o Pão de Açúcar cumprir seus planos - e se a concorrência não for mais rápida - o grupo passa do 83ª lugar no ranking mundial de supermercados, em 97, para o 48º lugar.
É um grande salto para uma empresa que começou com uma doçaria, em 48, e ganhou o nome de Pão de Açúcar em homenagem à primeira paisagem que o migrante português, Valentim dos Santos Diniz, pai de Abílio, viu ao chegar de navio ao país, em 29.
Em meio século de história, o Pão de Açúcar já foi a maior cadeia de supermercados da América Latina, quase quebrou devido a problemas administrativos e disputas familiares, e se tornou modelo de recuperação empresarial.
Hoje, a empresa controlada por Abílio, negocia suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo e Nova York. A sucessão já foi decidida. "As minhas ações de controle irão para as mãos de dois dos meus quatro filhos, a Ana Maria e o João Paulo, em partes iguais."



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