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AGROFOLHA
PECUÁRIA
Técnicas de manejo racional e seleção de temperamento diminuem o cansaço, prejudicial ao rendimento dos animais
Bois sem estresse dão mais carne e lucro
JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL
Tratar o gado com "humanidade", cuidando de seu bem-estar e
selecionando os animais de acordo com o seu bom temperamento. Tudo isso, segundo especialistas, pode tornar a pecuária mais
rentável, melhorando os índices
de produção -e de lucro.
Um dos primeiros criadores a
adotar esse tipo de manejo no
Brasil foi Eduardo Cardoso, da
Fazenda Mundo Novo, em Uberaba (MG). Desde que assumiu o
rebanho, remanescente da venda
de sua empresa, a Manah, deu sequência à filosofia de um suíço
que, no início do século, criou a linhagem nelore lemgruber.
Pela teoria do manejo racional,
um animal menos estressado será
mais rentável na hora da engorda
e abate. Isso porque, mais "calmo", utiliza menos energia e, portanto, gasta menos gordura e
massa muscular.
Na seleção promovida por Cardoso em sua fazenda, por exemplo, além dos quesitos normais
-como formação de carcaça,
precocidade para abate e fertilidade-, são também selecionados
aspectos como temperamento e
rusticidade. Animais mais mansos e rústicos são mais interessantes do que aqueles mais ariscos e
sensíveis.
A calma nos animais, além de
ser selecionada, tem de ser garantida no manejo. O temperamento
calmo melhora a qualidade da
carne -que fica dura com descargas de adrenalina constantes,
originadas do estresse ao qual os
animais são submetidos.
"Esse tipo de manuseio é mais
moderno. Hoje o gado é tratado
na "amizade", não mais na porrada", diz Cardoso.
A garantia de que o gado vai
permanecer sem estresse é obtida
por técnicas que podem parecer
estranhas à primeira vista, mas
que dão ótimos resultados.
Uma delas é a do curral circular.
A visão de um boi não é preparada para "ver" cantos. Em um curral quadrado, o canto parece ser
uma saída e os bois ficam amontoados, trombando uns com os
outros e ficando estressados.
Já num círculo, para o qual sua
visão está preparada, eles não se
amontoam, não ficam estressados ou se exercitam sem necessidade, garantindo melhor qualidade e quantidade de carne.
Outra medida é evitar gritos ou
agressões aos animais durante o
manejo. Um boi tratado com calma, segundo Cardoso, tende a ser
calmo. Por isso, seus peões raramente falam alto, não usam chicotes e cuidam das instalações da
fazenda para que o gado não se
machuque ao entrar nos currais.
A rusticidade é outro ponto fundamental para Cardoso. Segundo
ele, usar pastagem diferente daquela encontrada na maior parte
do país, aplicar medicamentos
contra algumas doenças, entre
outras coisas, apenas mascara as
qualidades naturais do animal.
Ou seja, ele é adepto de deixar o
gado no pasto, sem muita interferência. De acordo com sua teoria,
por exemplo, entre dois animais
não medicados contra a mosca do
chifre (praga que diminui o rendimento do gado), aquele que tem,
naturalmente, menos moscas é
mais interessante para ele.
Isso ele aplica tanto à resistência
contra pragas como à rentabilidade com pastos menos nutritivos.
O resultado é que seus animais,
no pasto, parecem gado comum.
Mas, ao serem confinados antes
do abate com alimentação melhor, ganham peso muito mais rapidamente que o gado comum.
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