São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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AGROFOLHA

PECUÁRIA

Técnicas de manejo racional e seleção de temperamento diminuem o cansaço, prejudicial ao rendimento dos animais

Bois sem estresse dão mais carne e lucro

JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL

Tratar o gado com "humanidade", cuidando de seu bem-estar e selecionando os animais de acordo com o seu bom temperamento. Tudo isso, segundo especialistas, pode tornar a pecuária mais rentável, melhorando os índices de produção -e de lucro.
Um dos primeiros criadores a adotar esse tipo de manejo no Brasil foi Eduardo Cardoso, da Fazenda Mundo Novo, em Uberaba (MG). Desde que assumiu o rebanho, remanescente da venda de sua empresa, a Manah, deu sequência à filosofia de um suíço que, no início do século, criou a linhagem nelore lemgruber.
Pela teoria do manejo racional, um animal menos estressado será mais rentável na hora da engorda e abate. Isso porque, mais "calmo", utiliza menos energia e, portanto, gasta menos gordura e massa muscular.
Na seleção promovida por Cardoso em sua fazenda, por exemplo, além dos quesitos normais -como formação de carcaça, precocidade para abate e fertilidade-, são também selecionados aspectos como temperamento e rusticidade. Animais mais mansos e rústicos são mais interessantes do que aqueles mais ariscos e sensíveis.
A calma nos animais, além de ser selecionada, tem de ser garantida no manejo. O temperamento calmo melhora a qualidade da carne -que fica dura com descargas de adrenalina constantes, originadas do estresse ao qual os animais são submetidos.
"Esse tipo de manuseio é mais moderno. Hoje o gado é tratado na "amizade", não mais na porrada", diz Cardoso.
A garantia de que o gado vai permanecer sem estresse é obtida por técnicas que podem parecer estranhas à primeira vista, mas que dão ótimos resultados.
Uma delas é a do curral circular. A visão de um boi não é preparada para "ver" cantos. Em um curral quadrado, o canto parece ser uma saída e os bois ficam amontoados, trombando uns com os outros e ficando estressados.
Já num círculo, para o qual sua visão está preparada, eles não se amontoam, não ficam estressados ou se exercitam sem necessidade, garantindo melhor qualidade e quantidade de carne.
Outra medida é evitar gritos ou agressões aos animais durante o manejo. Um boi tratado com calma, segundo Cardoso, tende a ser calmo. Por isso, seus peões raramente falam alto, não usam chicotes e cuidam das instalações da fazenda para que o gado não se machuque ao entrar nos currais.
A rusticidade é outro ponto fundamental para Cardoso. Segundo ele, usar pastagem diferente daquela encontrada na maior parte do país, aplicar medicamentos contra algumas doenças, entre outras coisas, apenas mascara as qualidades naturais do animal.
Ou seja, ele é adepto de deixar o gado no pasto, sem muita interferência. De acordo com sua teoria, por exemplo, entre dois animais não medicados contra a mosca do chifre (praga que diminui o rendimento do gado), aquele que tem, naturalmente, menos moscas é mais interessante para ele.
Isso ele aplica tanto à resistência contra pragas como à rentabilidade com pastos menos nutritivos. O resultado é que seus animais, no pasto, parecem gado comum. Mas, ao serem confinados antes do abate com alimentação melhor, ganham peso muito mais rapidamente que o gado comum.


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