|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Até onde vai a alta dos juros?
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A ata da última reunião do
Copom nos traz um diagnóstico claro de como o Banco
Central vê o comportamento da
inflação, neste último trimestre
de 2004. Dois fatores principais
estão no centro de suas preocupações: os preços dos derivados
de petróleo e a crescente ocupação da capacidade produtiva de
nossa indústria.
O aumento dos derivados, em
razão do petróleo mais caro nos
mercados externos, foi atrasado
por causa das eleições municipais. Sua correção, agora, ameaça influenciar diretamente a inflação de 2005 e tornar ainda
mais difícil o cumprimento da
meta fixada pelo BC. A boa notícia nesse campo é que o mercado
tem dado mostras de que, para o
próximo ano, os preços desses
produtos podem estabilizar-se
ou mesmo cair em razão de um
menor crescimento econômico
no mundo.
Já a questão da redução continuada da folga na capacidade
produtiva de nossa indústria
apresenta uma dificuldade
maior para a ação do Banco
Central. O nível de utilização na
indústria brasileira, neste final
de ano, já supera o verificado durante os melhores anos do Plano
Real. Esse resultado é a combinação de um crescimento extraordinário de nossas exportações
durante os últimos três anos e o
início da recuperação do consumo interno nos últimos meses. O
aumento das taxas de juros internas, provocado por uma Selic
mais elevada, tem muito pouca
influência sobre as exportações,
pois é a demanda externa que
determina seu volume. Juros
mais elevados no Brasil não vão
reduzir a demanda externa por
automóveis e outros bens industrializados aqui produzidos.
O único canal interno ligado à
taxa Selic, que pode afetar o crescimento da produção industrial
voltada para o exterior, seria a
valorização do real em razão da
entrada de capital financeiro de
curto prazo. Com câmbio valorizado, alguns exportadores perderiam competitividade e reduziriam seu volume de vendas.
Por essa razão, tenho a convicção de que o Banco Central, com
sua política de juros mais elevados para estabilizar a ocupação
de nossa indústria, está enxugando gelo. Somente a parcela
voltada para o mercado interno
será afetada.
Acontece que a maioria dos setores ligados ao consumo dos
brasileiros está com capacidade
ociosa ainda elevada e, portanto,
longe de criar o que os economistas chamam de inflação de demanda. A redução de suas vendas atingiria poucos setores que
operam no limite de sua produção e sua falta seria, certamente,
compensada por um maior esforço exportador.
Sendo isso verdade, podemos
esperar um período mais longo
de aumento de juros por parte do
Banco Central, se não houver novamente um aumento na meta
de inflação para 2005.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
Texto Anterior: Saiba mais: OAB questiona correção menor para compensar Próximo Texto: Perspectivas: Menos consumidores estão confiantes Índice
|