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RECEITA ORTODOXA
Reunião questiona risco inflacionário com crescimento acelerado, um dos fundamentos para a elevação dos juros
Mantega convoca debate sobre ata do BC
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dos fundamentos da política de juros altos do governo Luiz
Inácio Lula da Silva -segundo o
qual o crescimento econômico
acelerado põe em risco o controle
da inflação- foi contestado ontem nas vizinhanças do Palácio do
Planalto, numa reunião organizada pelo ministro Guido Mantega
(Planejamento).
Mantega convidou sete economistas de fora do governo para
debater texto do seu assessor especial, Antonio Barros de Castro.
Intitulado "A hipótese do crescimento rápido e sustentável", o
documento questiona se a economia brasileira poderia ou não
crescer aceleradamente sem alimentar a inflação.
As atas das últimas reuniões do
Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) vêm
reiterando a preocupação com o
rápido preenchimento da capacidade ociosa da economia, que teria chegado a um recorde histórico de 83,3% em agosto, de acordo
com a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
"A partir dos níveis de produção já atingidos, a política monetária precisa permanecer vigilante", diz a última ata do Copom,
num sinal claro de que os juros
vão continuar em alta.
"Embora algum arrefecimento
espontâneo possa estar a caminho, os dados disponíveis não sugerem que seja intenso o bastante
para preservar a compatibilidade
entre a trajetória de metas de inflação e a velocidade de preenchimento da capacidade ociosa da
economia", completa a ata.
Com o cuidado de dizer que não
se havia discutido a política monetária do governo, o chefe da assessoria econômica do Planejamento, Demian Fiocca, resumiu
assim a avaliação majoritária na
reunião de ontem: "Não há como
afirmar peremptoriamente que a
economia não pode crescer mais
do que 3% ou 4%".
Barros de Castro chegou a classificar de "absolutamente impossível" determinar o chamado PIB
potencial -o percentual a que o
país pode crescer sem que haja
pressões inflacionárias.
"São hipóteses heróicas sobre
coisas que são quase subjetivas",
avaliou, insistindo em que são
"frágeis" os indicadores de capacidade ociosa.
Aperto fiscal
No documento que deu base ao
debate de ontem, Castro afirma
que, nos últimos 50 anos, "numerosas economias transitaram de
situações de baixo ou nulo crescimento para a expansão rápida e
sustentada". A maioria delas apelou para a desvalorização do câmbio, e só uma minoria, para as reformas econômicas.
A reunião de ontem foi a primeira de uma série, de acordo
com os planos de Guido Mantega.
Por ora, o debate segue sem conclusões, apesar da condenação a
um aperto fiscal extra em 2005,
que inibiria investimentos públicos, e da defesa de medidas de estímulo a investimentos em setores que estão próximos ao limite
de sua capacidade, como os siderúrgico, de autopeças e de papel e
celulose, sobretudo via redução
dos tributos.
Para o ministro Guido Mantega,
não é hora de discutir a mudança
da meta de inflação para 2005, oficialmente de 4,5%. "Mesmo sendo apertada, a meta só deve ser
mexida em última hipótese", avaliou o ministro.
Participaram do debate de ontem: Júlio
Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial), Antonio Correia de Lacerda, presidente da
Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos
de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), Ricardo Bielschovsky, da Cepal (Comissão Econômica
para América Latina e Caribe), Rogério
Studart, diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento, João Sayad, vice-presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), e os professores Paulo Nogueira Batista Júnior, da
FGV (Fundação Getúlio Vargas), e Nelson
Henrique Barbosa Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
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