São Paulo, quinta, 5 de novembro de 1998

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AJUDA EXTERNA
Dinheiro, sem vínculo com o FMI, seria destinado a empresas prejudicadas pela falta de crédito à exportação
Japão pode emprestar US$ 1 bi ao Brasil

MARCIO AITH
de Tóquio

O Japão decidiu conceder ao Brasil um empréstimo direto de US$ 1 bilhão para financiar empresas brasileiras que estão sofrendo com a falta de créditos à exportação.
O empréstimo seria concedido pelo Japão em caráter bilateral depois de o Brasil concluir sua negociação com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Seria um empréstimo novo, sem qualquer vínculo com o pacote de ajuda de US$ 30 bilhões que o FMI dará ao Brasil ou com o fundo extraordinário de contingência de US$ 90 bilhões ao FMI anunciado pelo G-7 (grupo das sete nações mais ricas do mundo) na semana passada.
A nova iniciativa do Japão foi divulgada ontem numa entrevista coletiva confusa do ministro de Finanças do Japão, Kiichi Miyazawa, e detalhada pela Folha com autoridades do ministério e do Eximbank (o banco de fomento a exportações do país que seria o agente desse empréstimo).
No começo da semana passada, o vice-ministro de Finanças do país, Koji Tanami, havia dito que o Japão não estudava qualquer ajuda ao Brasil nem estava num estágio no qual poderia tomar qualquer decisão a respeito.
Ontem, Miyazawa revelou que existe disposição do governo japonês em auxiliar o Brasil.
"Se os Estados Unidos, Europa e Canadá fizerem uma contribuição, o Japão provavelmente fará", disse ele.
Miyazawa respondia a uma pergunta sobre a possibilidade de o Japão conceder empréstimos bilaterais ao Brasil, independentemente do FMI ou do G-7.
Ao mencionar em sua resposta os outros países do G-7, Miyazawa deu a entender que o empréstimo ainda dependia da iniciativa de outros países. Miyazawa também parecia se referir ao fundo de contingência do G-7.
No entanto, um assessor direto do ministro informou que Miyazawa referia-se à idéia de dar ao Brasil um novo empréstimo. Ainda há dúvidas sobre a forma desse empréstimo, mas ele está praticamente garantido, apesar da falta de certeza do ministro.
A hipótese mais provável é a de financiar exportadores brasileiros, mas ele poderia também ser concedido para fortalecer as reservas do país.
Oficialmente, o Eximbank afirma que não recebeu ainda nenhum pedido do governo japonês para estudar o novo empréstimo ao Brasil, mas esse empréstimo já estava sendo cogitado pelo Japão desde a reunião anual do FMI e do Banco Mundial em Washington, no começo de outubro.

Divisão do peso
Apesar de ter decidido emprestar dinheiro novo ao Brasil, o governo japonês e o dos EUA ainda têm divergências sobre o valor com o qual cada um dos dois países irá financiar os US$ 90 bilhões adicionais ao FMI.
O governo do Japão considera ter feito esforços substanciais para ajudar o Sudeste Asiático a sair da crise financeira iniciada em 1997 e acha que os Estados Unidos deveriam arcar com a maior parte dos recursos que poderão ser usados para ajudar o Brasil. A divisão do ônus entre os ricos ainda não foi decidida.
Nos últimos dois anos, o Eximbank japonês já se comprometeu a investir US$ 2 bilhões no Brasil, em obras como o gasoduto Brasil-Bolívia e a reforma de rodovias nos Estados de São Paulo, Tocantins e Ceará.
Antes de o Real ter entrado em crise, o Eximbank do Japão havia concluído que o Brasil ganhara pontos no cenário internacional pela forma com a qual reagiu à crise asiática no final do ano passado, elevando os juros e anunciando medidas fiscais de emergência.
As medidas fiscais de emergência não tiveram êxito. Uma missão oficial do banco esteve no Brasil em setembro para verificar a situação brasileira, mas não emitiu qualquer opinião oficial a respeito do assunto.



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