São Paulo, Domingo, 05 de Dezembro de 1999


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REVERSO DA FORTUNA
Forçados a vender as empresas por conta da globalização, eles agora investem em novas áreas
Ex-empresários voltam ao mercado

Otávio Dias de Oliveira/Folha Imagem
Giuseppe Giaffone Jr., ex-dono da Continental, que investiu em oficina de blindagem de carros


FÁTIMA FERNANDES
CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO

da Reportagem Local "Vítimas" da globalização, empresários brasileiros que venderam suas companhias nos últimos anos estão de volta.
Sem condições de competir após a abertura do mercado, muitos donos de empresas familiares cederam às propostas de grandes grupos, principalmente estrangeiros, e agora, com os bolsos cheios de dinheiro, estão investindo em novos negócios.
Paulo Feijó, ex-dono da rede gaúcha de supermercados Exxtra Econômico, vai lançar neste mês um site que permite aos supermercados pesquisar preços e comprar por meio da Internet.
Banqueiro que vendeu seu banco, o BCN (Banco de Crédito Nacional), sem estar pressionado por problemas financeiros, Pedro Conde toca agora projetos imobiliários, alguns em conjunto com os filhos.
Depois de se desfazer da mais famosa fábrica de brinquedos do país, a Estrela, Mario Adler se associou a uma empresa de projetos de irrigação e saneamento.
Dimitrios Markakis trocou a rede de supermercados Cândia, vendida para o grupo português Sonae, pelo comércio de materiais de construção.
Há um mês, adquiriu o controle da Di Cicco e planeja fechar a compra de outra rede do mesmo ramo até o final do ano. Em sociedade com a família Demeterco, que também vendeu sua rede de supermercados, está montando uma empresa de logística.
Celso Varga, cujo sobrenome virou sinônimo de freios para automóveis, agora é dono de duas empresas, uma delas a Kentinha, que produz embalagens de alumínio para refeições rápidas.
O empresário baiano João Gualberto Vasconcelos, que vendeu em junho a rede varejista Petipreço para o grupo Bompreço, foi espairecer na Europa em busca de idéias para aplicar o dinheiro que recebeu.
Está negociando a compra de uma fábrica de sabão em pedra da Bombril na Bahia e tem interesse em voltar para o varejo -uma idéia é investir em farmácias.
"A maioria dos empresários que vende sua companhia volta ao mercado tocando um negócio menos importante, uma atividade mais de suporte", diz João Bosco Lodi, consultor especializado em empresas familiares.

"Empresários de pijama"
Mas existem também aqueles que não querem mais saber do mundo dos negócios. Eles se transformaram nos "empresários de pijama", na expressão de Lodi, vivendo da renda proporcionada pela aplicação dos recursos recebidos. "Quem antes reclamava dos juros elevados cobrados pelos bancos agora vive do dinheiro corrigido por essas taxas."
Há ainda o grupo de ex-empresários que prefere se dedicar integralmente ao que antes era apenas um hobby. É o caso de Cosette Alves, ex-dona do Mappin, apaixonada por teatro e cinema.
Depois de vender o controle da empresa para Ricardo Mansur, em 96, passou a ser presidente da Cinemateca Brasileira. Ela encabeça um grupo que tem a função de levantar recursos para construir um depósito climatizado para abrigar um acervo de 50 mil filmes. Pretende produzir peças e filmes e escrever um livro.
Ex-sócio da que foi a maior agência de propaganda brasileira, a MPM, vendida em 91, Luiz Macedo passa os dias no Jockey Club do Rio de Janeiro, onde organiza as corridas e cria 20 cavalos.
Ex-dono da fábrica de fogões Continental 2001, Giuseppe Giaffone Jr. é tão apaixonado por automóveis que aplicou parte do dinheiro da venda da empresa (para a Bosch-Siemens) em uma oficina de blindagem de carros, em sociedade com os quatro filhos. Comanda também uma equipe de pilotos de carros de corrida.
Muitos empresários preferem nem falar sobre a venda da companhia a qual dedicaram boa parte da vida.
Felippe Arno, que durante 40 anos foi o mandachuva da empresa fundada por sua família, por exemplo, prefere não falar das razões que o levaram a vender a Arno para o grupo francês SEB e como foi viver esse processo.
"Estou viajando, lendo e curtindo filhos e netos. Não pretendo mais ter uma atividade empresarial", diz Arno.


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