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GLOBALIZAÇÃO
A 3ª Conferência Ministerial de Seattle termina em impasse
OMC fracassa e a Rodada
do Milênio fica adiada
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Seattle
A 3ª Conferência Ministerial de
Seattle terminou na noite de sexta-feira (madrugada de sábado
em Brasília) exatamente como começara: em total impasse, o que
forçou o adiamento da convocação da Rodada do Milênio, o novo
e abrangente ciclo de negociações
comerciais planetárias.
Convocar a rodada era o objetivo principal da reunião de ministros dos 135 países-membros da
organização.
Mas a agenda era tão carregada
de divergências que não foi possível chegar a um acordo nem durante meses de negociações prévias em Genebra nem nos quatro
frenéticos dias que durou a conferência de Seattle.
Resultado: a reunião foi suspensa. O diretor-geral da OMC, o
neozelandês Mike Moore, ficou
incumbido de estudar em profundidade o processo de negociação,
de forma a combinar transparência com eficácia.
Feito o estudo, o diretor-geral
convocará, "o mais breve possível", o reinício da conferência para afinal chegar-se, se for possível,
à Rodada do Milênio.
A tentativa de obter um consenso sobre o documento final ocupou representantes de 25 países,
os principais atores do jogo comercial planetário, das 7h (13h
em Brasília) até 21h15.
Quatorze horas de inútil esforço. E mesmo que tivessem obtido
um consenso teriam depois que
submetê-lo ao grupo, bem mais
numeroso, de excluídos da chamada "green room", a sala em
que se reuniram os privilegiados.
A revolta dos excluídos com a
falta de transparência no processo
negociador era tamanha que dificilmente teriam aprovado o que
quer que fosse.
"Foi um exercício de pretensão
em vez de transparência", disparou a delegação do Zimbábue,
ecoando críticas de inúmeros outros excluídos.
O chanceler brasileiro Luiz Felipe Lampreia é outro que culpa os
procedimentos adotados pelo desenlace, além das divergências entre os países.
É verdade que, em outras negociações, o procedimento excludente também fora usado, "mas
agora os tempos são outros. Muitos países não se sentiram participantes e reagiram fortemente",
diz o chanceler.
Os pontos de divergência que
acabaram congelando a reunião
por tempo indeterminado foram
os mesmos que já haviam surgido
em Genebra. Entre os principais,
os seguintes:
1 - Agricultura - Os grandes exportadores agrícolas, como Brasil
e Estados Unidos, exigiam uma
ampla liberalização do setor, ainda cercado de um altíssimo muro
protecionista.
A União Européia, o Japão, a
Noruega e a Suíça resistiram.
2 - Anti-dumping - Brasil e Japão, principalmente, insistiam
em mudanças nas regras que permitem a um país impor retaliações a outro, acusando-o de vender produtos a preços de custo ou
até abaixo dele (o dumping).
Os Estados Unidos não aceitam
de forma alguma.
3 - Padrões trabalhistas - Os Estados Unidos insistiram, virtualmente sozinhos, em vincular comércio e padrões trabalhistas, para horror de países em desenvolvimento, entre eles o Brasil.
4 - Políticas de concorrência e
de investimentos - Os EUA achavam que ambos os temas não estavam maduros para uma negociação. A União Européia, ao contrário, insistia neles.
Talvez até tivesse cedido em
agricultura, se houvesse acordo
nesses dois pontos.
Tudo somado, "não houve tempo nem para dar transparência ao
processo nem para chegar a um
acordo em torno de assuntos tão
complexos", como analisava o
embaixador do Brasil em Genebra, Celso Amorim.
Diante das divergências, o chanceler do Brasil, Luiz Felipe Lampreia, nega-se a fazer qualquer
previsão a respeito de quando poderá ser convocada a Rodada do
Milênio.
As negociações voltam agora
para Genebra, o QG da OMC.
Mas, em três capítulos, pelos
acordos da Rodada Uruguai, o ciclo anterior, elas terão que começar de qualquer forma em 1º de janeiro: agricultura, serviços e Trips
(a sigla em inglês para aspectos ligados ao comércio da propriedade intelectual).
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