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BOLSA
Queda do juro real e expectativas positivas levam investidor a enfrentar de novo o mercado de risco
Fundos de ações recebem R$ 2 bilhões
GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação
Os fundos de ações e carteira livre receberam, no mês passado,
um volume de dinheiro que lembra o boom do primeiro semestre
de 97, antes que a crise asiática esfriasse o ânimo dos investidores.
Levantamento do Banco Central indica que a captação líquida
(depósitos menos saques) desses
fundos em novembro foi positiva
em R$ 2,05 bilhões até o dia 26, último dado disponível, o que não
acontecia desde meados de 97.
Esse volume de recursos, equivalente a uma média de R$ 114
milhões por dia útil, explica a recente escalada do Ibovespa, cheio
de energia pelo menos até a última sexta-feira.
A Anbid (Associação Nacional
dos Bancos de Investimento) contabilizou R$ 638,93 milhões positivos no mês fechado, mas não
abrange todos os fundos.
A Bolsa teve altos e baixos e viu
o Índice Bovespa dobrar em 99,
superando o recorde histórico de
julho de 97. Mas a alta foi empurrada pelos estrangeiros e tesourarias de grandes bancos. Nos fundos, foram mais de dois anos de
captação relativamente estável,
como mostra o gráfico ao lado.
De onde vem?
Os analistas não são unânimes
na avaliação de quem estaria por
trás de todo esse dinheiro que
vem entrando na Bolsa. Já é a classe média, ou seja, pessoas físicas,
ou a onda é basicamente dos investidores institucionais, ou seja,
seguradoras e fundos de pensão?
Para Júlio Ziegelmann, diretor
de renda variável do BankBoston,
não são apenas os institucionais
que estão voltando. "Há bastante
pessoa física", diz ele, embora ressalve que esse comportamento
ainda não está disseminado.
Álvaro Augusto de Freitas Vidigal, gerente de operações da corretora Socopa, acha que o grosso
dos recursos está ligado aos fundos de pensão.
Muitos já tinham posições na
Bolsa, mas agora, diz ele, está havendo uma tendência maior de
terceirização da administração de
recursos, o que leva à criação de
fundos exclusivos.
Para Marcelo Giufrida, diretor
da Anbid e do Banco CCF, são
pessoas físicas que estão de volta
ao mercado.
Estrangeiros, institucionais ou
classe média, a verdade é que a
Bolsa está atraindo mais dinheiro,
muito dinheiro.
Luís Stuhlberger, diretor da
Hedging-Griffo Asset Management, afirma que uma realocação
de portfólio (carteira de investimentos) como a atual só ocorrera
antes em 92 e 97.
A gota d'água para a virada, avalia Stuhlberger, foi a percepção de
juros reais mais baixos. Desde 94,
taxas de juros muito elevadas fizeram o dinheiro migrar para a renda fixa, "criando um efeito-riqueza acima do normal".
Antes, observa, o CDI (mercado
de juro interbancário que baliza
as aplicações) oferecia segurança,
rentabilidade e liquidez. Agora, a
rentabilidade não é tão atraente,
pelo menos para os padrões brasileiros.
Rentabilidade mais atraente,
como IGP-M mais 12% ao ano
nos títulos públicos recém-lançados, ou 14% mais dólar nos títulos
cambiais, pressupõe investimento a mais longo prazo, afirma.
Stuhlberger ressalta, porém,
que isso não é mau. É até bom, para o governo, porque alivia muito
o custo de rolagem da dívida pública, acrescenta. "O brasileiro terá de se acostumar com juros
mais baixos."
Em conta rápida, ele lembra que
os juros reais foram em média de
23% nos últimos anos. Se caírem
para 13%, haverá uma economia
de uns R$ 40 bilhões para os cofres públicos em relação ao passado. "Equivale a um déficit da Previdência", compara.
Mas a desmobilização da renda
fixa para a variável por enquanto
é pequena, se situada no M4 (o
conceito mais amplo dos meios
de pagamento), afirma o executivo. Ele prevê que o mercado de
imóveis também deverá sentir esse efeito.
Ziegelmann concorda que a
guinada para a renda variável está
relacionada aos juros mais baixos.
E discorda que o brasileiro tenha
medo de risco e, por isso, foge da
Bolsa.
"Com uma década de juros na
lua, ficar na renda fixa foi uma decisão racional", afirma o diretor
do BankBoston.
Giufrida aponta uma combinação de fatores para a volta de investidores ao mercado de ações.
Além dos juros e das expectativas
positivas para a economia e, consequentemente, para a Bolsa, ele
cita a percepção de que o acionista minoritário passará a ser mais
ouvido daqui para a frente.
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