São Paulo, Domingo, 05 de Dezembro de 1999


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BOLSA
Queda do juro real e expectativas positivas levam investidor a enfrentar de novo o mercado de risco
Fundos de ações recebem R$ 2 bilhões

GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação

Os fundos de ações e carteira livre receberam, no mês passado, um volume de dinheiro que lembra o boom do primeiro semestre de 97, antes que a crise asiática esfriasse o ânimo dos investidores.
Levantamento do Banco Central indica que a captação líquida (depósitos menos saques) desses fundos em novembro foi positiva em R$ 2,05 bilhões até o dia 26, último dado disponível, o que não acontecia desde meados de 97.
Esse volume de recursos, equivalente a uma média de R$ 114 milhões por dia útil, explica a recente escalada do Ibovespa, cheio de energia pelo menos até a última sexta-feira.
A Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento) contabilizou R$ 638,93 milhões positivos no mês fechado, mas não abrange todos os fundos.
A Bolsa teve altos e baixos e viu o Índice Bovespa dobrar em 99, superando o recorde histórico de julho de 97. Mas a alta foi empurrada pelos estrangeiros e tesourarias de grandes bancos. Nos fundos, foram mais de dois anos de captação relativamente estável, como mostra o gráfico ao lado.

De onde vem?
Os analistas não são unânimes na avaliação de quem estaria por trás de todo esse dinheiro que vem entrando na Bolsa. Já é a classe média, ou seja, pessoas físicas, ou a onda é basicamente dos investidores institucionais, ou seja, seguradoras e fundos de pensão?
Para Júlio Ziegelmann, diretor de renda variável do BankBoston, não são apenas os institucionais que estão voltando. "Há bastante pessoa física", diz ele, embora ressalve que esse comportamento ainda não está disseminado.
Álvaro Augusto de Freitas Vidigal, gerente de operações da corretora Socopa, acha que o grosso dos recursos está ligado aos fundos de pensão.
Muitos já tinham posições na Bolsa, mas agora, diz ele, está havendo uma tendência maior de terceirização da administração de recursos, o que leva à criação de fundos exclusivos.
Para Marcelo Giufrida, diretor da Anbid e do Banco CCF, são pessoas físicas que estão de volta ao mercado.
Estrangeiros, institucionais ou classe média, a verdade é que a Bolsa está atraindo mais dinheiro, muito dinheiro.
Luís Stuhlberger, diretor da Hedging-Griffo Asset Management, afirma que uma realocação de portfólio (carteira de investimentos) como a atual só ocorrera antes em 92 e 97.
A gota d'água para a virada, avalia Stuhlberger, foi a percepção de juros reais mais baixos. Desde 94, taxas de juros muito elevadas fizeram o dinheiro migrar para a renda fixa, "criando um efeito-riqueza acima do normal".
Antes, observa, o CDI (mercado de juro interbancário que baliza as aplicações) oferecia segurança, rentabilidade e liquidez. Agora, a rentabilidade não é tão atraente, pelo menos para os padrões brasileiros.
Rentabilidade mais atraente, como IGP-M mais 12% ao ano nos títulos públicos recém-lançados, ou 14% mais dólar nos títulos cambiais, pressupõe investimento a mais longo prazo, afirma.
Stuhlberger ressalta, porém, que isso não é mau. É até bom, para o governo, porque alivia muito o custo de rolagem da dívida pública, acrescenta. "O brasileiro terá de se acostumar com juros mais baixos."
Em conta rápida, ele lembra que os juros reais foram em média de 23% nos últimos anos. Se caírem para 13%, haverá uma economia de uns R$ 40 bilhões para os cofres públicos em relação ao passado. "Equivale a um déficit da Previdência", compara.
Mas a desmobilização da renda fixa para a variável por enquanto é pequena, se situada no M4 (o conceito mais amplo dos meios de pagamento), afirma o executivo. Ele prevê que o mercado de imóveis também deverá sentir esse efeito.
Ziegelmann concorda que a guinada para a renda variável está relacionada aos juros mais baixos. E discorda que o brasileiro tenha medo de risco e, por isso, foge da Bolsa.
"Com uma década de juros na lua, ficar na renda fixa foi uma decisão racional", afirma o diretor do BankBoston.
Giufrida aponta uma combinação de fatores para a volta de investidores ao mercado de ações. Além dos juros e das expectativas positivas para a economia e, consequentemente, para a Bolsa, ele cita a percepção de que o acionista minoritário passará a ser mais ouvido daqui para a frente.


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