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OPINIÃO ECONÔMICA
Entre o otimismo e o realismo
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Com a estabilização do cenário econômico, a atenção da
opinião pública volta-se para a
questão do crescimento. Será que,
finalmente, depois de inúmeros
momentos de esperanças não
concretizadas, podemos aspirar
um período de crescimento sustentado? Essa pergunta angustiada está presente com frequência
na imprensa nestes últimos dias.
Para os otimistas, dentro e fora
do governo, a resposta é claramente afirmativa. Para fundamentar essa posição, citam, como
indicadores de um paraíso próximo, a estabilidade da taxa de
câmbio, a queda vertiginosa do
chamado risco Brasil, a redução
dos juros Selic e as últimas estatísticas de uma produção industrial
em crescimento.
Reforçam sua posição lembrando o compromisso do governo
com o superávit primário de
4,25% do PIB, a reforma da Previdência e as projeções otimistas
com relação à balança comercial
em 2004. Chegam finalmente a
um quase estado de êxtase quando apontam para o compromisso
com um liberalismo sem qualificações que o ministro Palocci e
sua equipe reafirmam a todo instante.
Os que defendem uma certa
cautela em relação ao futuro dizem que os otimistas não levam
em conta certas questões que ainda estão presentes no cenário econômico brasileiro. Entre os principais obstáculos à volta do crescimento estão os juros elevados cobrados pelos bancos em suas operações de crédito, a existência de
uma carga tributária excessiva e
desigual, a fragilidade de nossas
reservas, em vista dos desequilíbrios de nossa conta corrente externa, e as limitações de nossa infra-estrutura econômica.
Na longa lista de obstáculos, para que a visão otimista prevaleça,
lembram ainda que os ganhos obtidos neste último ano estão influenciados por uma situação externa atípica, que deve ser invertida ao longo de 2004. A liquidez
internacional provocada pela
ação de vários bancos centrais
nos mercados de câmbio e juros
gerou a migração de volumes de
recursos expressivos para economias emergentes como o Brasil.
Com a normalização dos juros,
nas principais economias do
mundo, esse fluxo de capitais vai
voltar a seu leito anterior.
Um outro argumento a favor de
uma visão mais cautelosa sobre o
futuro deriva de uma rápida lembrança sobre o que ocorreu no período 1997/1998 e 2000/ 2001. Nestes dois momentos de nossa história recente, também vivemos um
período de otimismo extremado,
que foi seguido por tempos de crise e desilusão. Essa ciclotimia em
relação ao Brasil acontece porque
os mercados financeiros internacionais não conseguem entender
as reais limitações, de natureza
microeconômica, que existem em
nosso sistema produtivo.
O descompasso entre indicadores macroeconômicos e as limitações operacionais de um sistema
produtivo ineficiente ocorre com
frequência no mundo de hoje. Ele
aparece porque as dificuldades
associadas à definição e à execução de uma política macroeconômica eficiente são infinitamente
menores do que as necessárias para realizar a reforma estrutural
de uma economia em desenvolvimento.
Por outro lado, a facilidade para um país se endividar em momentos de euforia ou de juros
muito baixos esconde essa limitação e permite a ocorrência de espasmos de crescimento, ou, como
gosto de chamar, do vôo da galinha.
Minha opinião é que estamos
vivendo hoje a repetição do ocorrido nos períodos de 1997/1998 e
2000/2001. O otimismo gerado pela política macroeconômica do
governo Lula está fazendo os
mercados minimizarem problemas graves que estão presentes na
nossa economia. Alguns desses
gargalos já existiam antes da posse do governo do PT; outros foram
criados em razão da existência de
uma agenda típica de esquerda
em setores críticos como os da regulação da concessão de serviços
públicos e da operação das licenças ambientais.
Os mercados têm reagido como
se apenas o governo Palocci existisse, não levando a sério a força
do setor histórico do PT no comando de áreas importantes. Eu
não acredito na conversão à economia de mercado da ministra de
Minas e Energia e de sua equipe
de estatistas convictos. Da mesma
forma, não vejo como caminhar
na direção de uma economia de
mercado eficiente quando o governo coloca na ANP (Agência
Nacional do Petróleo) um ex-deputado comunista histórico e sincero defensor da Petrobras como
empresa monopolista e na Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) um militante do pensamento da Telebrás estatal.
Mas o mercado, quando resolve
cavalgar o corcel do otimismo,
não tem olhos para essas questões. Somente ao meio de uma
crise é que esse outro lado do governo será considerado.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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