UOL


São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DINHEIRO NO BOLSO

Estudo do Santander sobre empréstimo com desconto em folha mostra que trabalhador quer quitar dívida

Novo crédito é utilizado para pagar agiota

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sair das mãos dos agiotas é a principal razão que tem levado os trabalhadores a buscar empréstimos com desconto em folha de pagamento, modalidade de crédito regulamentada em setembro pelo governo federal.
A informação é do vice-presidente-executivo de marketing, produtos e operações do Santander Banespa, José Paiva Ferreira, ao analisar os 2.800 financiamentos concedidos pelo banco nessa modalidade no período de 6 de outubro e 3 de dezembro.
"Pagar dívidas com agiotas aparece em primeiro lugar na lista de motivos que levam os trabalhadores a buscar esses empréstimos [com desconto em folha]. Eles querem fugir dos juros extorsivos de 10%, 15% cobrados ao mês", afirmou Ferreira.
No levantamento do Santander, limpar o nome sujo na praça ou saldar as dívidas do cartão de crédito aparecem em segundo lugar no ranking de motivos para ir em busca do crédito. Por último, está o consumo de bens. O valor médio do empréstimo concedido é de R$ 2.700, a taxa média é de 2,58% ao mês, e o prazo médio, de 28 meses, segundo o Santander.
"Pensávamos que o trabalhador estava menos endividado do que realmente está. Nas metalúrgicas, encontramos trabalhadores pagando até 20% de juros ao mês. O apelido do agiota nessas fábricas é FMI [Fundo Monetário Internacional]", disse Eleno José Bezerra, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
O agiota opera emprestando dinheiro mediante a cobrança de juros elevados, sem autorização do Banco Central, e se garante com cheques pré-datados e notas promissórias em branco e/ou com documentos de transferência de propriedade de bens como veículos ou imóveis.
"A forma mais comum de o agiota operar é com cheques pré-datados, com os valores dos juros já embutidos. Mas já temos informações de agiotas que usam até cartão de crédito, simulando compra de bens", diz o presidente da Anefac (associação dos executivos de finanças), Miguel de Oliveira. De acordo com a associação, as taxas de juros cobradas pelos agiotas variam de 14% a 35% no país. Em média, são de 23% ao mês, informa.
Segundo Bezerra, a morosidade dos bancos em colocar à disposição dos trabalhadores o crédito também contribui para que o trabalhador continue recorrendo aos agiotas. "A procura pelo serviço ainda é maior do que a oferta. Os bancos que fizeram acordo para essa modalidade de empréstimo só conseguem suprir cerca de 3% da demanda. É pouco."
Na previsão do sindicato, com base na quantidade de trabalhadores que telefonam e procuram informações sobre essa modalidade de financiamento, o número de empréstimos deveria ser de 20 mil até o momento.
O Santander confirma a procura. "A busca por parte dos trabalhadores é grande. Mas, como essa não é uma modalidade de crédito amplamente divulgada e conhecida, ainda leva tempo para acertar a parte operacional com as empresas", disse Ferreira.
Para Roberto Rigotto, vice-presidente-executivo do BMG, a demora ocorre porque os departamentos jurídicos das empresas também levam tempo para estudar os contratos. A instituição já fechou mais de cem acordos com desconto em folha com empresas principalmente da região Sudeste, desde que a nova modalidade foi regulamentada, em setembro. Mas informou que opera desde 98 concedendo empréstimos dessa forma ao setor público.
Os acordos de empréstimo com desconto em folha têm juros que variam de 1,75% a 3,3% ao mês. No caso da CUT, os sindicalizados pagam taxas de 1,75% a 2,6%. No da Força, há um repasse do bancos para as entidades.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC assinou ontem com o Bradesco o primeiro acordo entre as montadoras da região para crédito consignado. O acordo beneficiará os trabalhadores da Ford.


Texto Anterior: Projeções do Ipea pioram para 2003, mas melhoram para o próximo ano
Próximo Texto: Veículos: Indústria quer carros com menos impostos
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.