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DINHEIRO NO BOLSO
Estudo do Santander sobre empréstimo com desconto em folha mostra que trabalhador quer quitar dívida
Novo crédito é utilizado para pagar agiota
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sair das mãos dos agiotas é a
principal razão que tem levado os
trabalhadores a buscar empréstimos com desconto em folha de
pagamento, modalidade de crédito regulamentada em setembro
pelo governo federal.
A informação é do vice-presidente-executivo de marketing,
produtos e operações do Santander Banespa, José Paiva Ferreira,
ao analisar os 2.800 financiamentos concedidos pelo banco nessa
modalidade no período de 6 de
outubro e 3 de dezembro.
"Pagar dívidas com agiotas aparece em primeiro lugar na lista de
motivos que levam os trabalhadores a buscar esses empréstimos
[com desconto em folha]. Eles
querem fugir dos juros extorsivos
de 10%, 15% cobrados ao mês",
afirmou Ferreira.
No levantamento do Santander,
limpar o nome sujo na praça ou
saldar as dívidas do cartão de crédito aparecem em segundo lugar
no ranking de motivos para ir em
busca do crédito. Por último, está
o consumo de bens. O valor médio do empréstimo concedido é
de R$ 2.700, a taxa média é de
2,58% ao mês, e o prazo médio, de
28 meses, segundo o Santander.
"Pensávamos que o trabalhador
estava menos endividado do que
realmente está. Nas metalúrgicas,
encontramos trabalhadores pagando até 20% de juros ao mês. O
apelido do agiota nessas fábricas é
FMI [Fundo Monetário Internacional]", disse Eleno José Bezerra,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
O agiota opera emprestando dinheiro mediante a cobrança de
juros elevados, sem autorização
do Banco Central, e se garante
com cheques pré-datados e notas
promissórias em branco e/ou
com documentos de transferência de propriedade de bens como
veículos ou imóveis.
"A forma mais comum de o
agiota operar é com cheques pré-datados, com os valores dos juros
já embutidos. Mas já temos informações de agiotas que usam até
cartão de crédito, simulando
compra de bens", diz o presidente
da Anefac (associação dos executivos de finanças), Miguel de Oliveira. De acordo com a associação, as taxas de juros cobradas pelos agiotas variam de 14% a 35%
no país. Em média, são de 23% ao
mês, informa.
Segundo Bezerra, a morosidade
dos bancos em colocar à disposição dos trabalhadores o crédito
também contribui para que o trabalhador continue recorrendo
aos agiotas. "A procura pelo serviço ainda é maior do que a oferta.
Os bancos que fizeram acordo para essa modalidade de empréstimo só conseguem suprir cerca de
3% da demanda. É pouco."
Na previsão do sindicato, com
base na quantidade de trabalhadores que telefonam e procuram
informações sobre essa modalidade de financiamento, o número
de empréstimos deveria ser de 20
mil até o momento.
O Santander confirma a procura. "A busca por parte dos trabalhadores é grande. Mas, como essa não é uma modalidade de crédito amplamente divulgada e conhecida, ainda leva tempo para
acertar a parte operacional com as
empresas", disse Ferreira.
Para Roberto Rigotto, vice-presidente-executivo do BMG, a demora ocorre porque os departamentos jurídicos das empresas
também levam tempo para estudar os contratos. A instituição já
fechou mais de cem acordos com
desconto em folha com empresas
principalmente da região Sudeste,
desde que a nova modalidade foi
regulamentada, em setembro.
Mas informou que opera desde 98
concedendo empréstimos dessa
forma ao setor público.
Os acordos de empréstimo com
desconto em folha têm juros que
variam de 1,75% a 3,3% ao mês.
No caso da CUT, os sindicalizados pagam taxas de 1,75% a 2,6%.
No da Força, há um repasse do
bancos para as entidades.
O Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC assinou ontem com o
Bradesco o primeiro acordo entre
as montadoras da região para crédito consignado. O acordo beneficiará os trabalhadores da Ford.
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