São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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"MERCONORTE"
Vendas ao exterior pelo Amazonas crescem 61% e alcançam US$ 430 mi em 99, sem contar a soja
Exportação dá fôlego à Zona Franca

Ichiro Guerra/Folha Imagem
A rodovia Manaus-Caracas, um dos canais para escoar exportações de manufaturados da Zona Franca


FÁTIMA FERNANDES JULIO WIZIACK

da Reportagem Local A Zona Franca de Manaus, considerada a zona industrial mais "micada" do país, deu sinal de vida em 99. O Estado do Amazonas, tradicional importador e fornecedor de produtos para o mercado interno, surpreendeu o país no ano passado ao aumentar as exportações em 61% -com receita de US$ 430 milhões-, maior expansão de vendas do país em 99.
Esse valor não leva em conta as exportações de produtos agroindustriais, como a soja, que somaram cerca de US$ 200 milhões no ano passado, segundo a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Incluídos esses produtos, as exportações do Amazonas terão crescido 136%.
Pólos produtivos como eletroeletrônicos, jóias e agroindústria começam a renascer; a indústria de bebidas procura a região para baratear suas exportações. No entanto, a região ainda se beneficia de fartos descontos de impostos, 18,6% da isenção fiscal de todo o país em 1999 (leia texto ao lado).
Ainda assim, a quantia exportada pelo Estado não é grande quando comparada com as vendas de São Paulo e Minas Gerais. Os paulistas exportaram US$ 17,5 bilhões, e os mineiros, US$ 6,3 bilhões no ano passado.
Esses valores impressionam, só que estão em queda. Os dois Estados venderam em 99, respectivamente, 6,6% e 15,9% menos do que em 98. No mesmo período, as exportações brasileiras caíram 7,4%, de US$ 50,5 bilhões para US$ 46,8 bilhões.
Vários são os motivos da retomada das exportações da Zona Franca de Manaus, pólo responsável por quase toda a exportação do Amazonas. Um deles é a recessão brasileira que obrigou as empresas a desovar produtos no exterior para burlar a retração do mercado interno. Outro é a desvalorização do real, que tornou os produtos nacionais mais competitivos no exterior.
Outro fator que explica essa reviravolta nas vendas internacionais da ZFM é a construção da BR 174, rodovia que liga Manaus (AM) a Caracas, na Venezuela.
A estrada abriu caminho, no meio da selva amazônica, para a região norte da América do Sul, encurtando o tempo de chegada do produto ao país-cliente.
As mercadorias, que demoram até 15 dias para chegar a Caracas, quando transportadas em barcos pelos rios da região, levam cerca de seis dias pela estrada.
Ainda não há números que mostrem quanto o custo do transporte de carga pela estrada pode ser mais barato ou até mais caro do que por vias fluviais.
Mesmo assim, a obra é considerada estratégica, porque liga a Zona Franca ao norte da América do Sul, dando acesso aos países do Caribe e da América do Norte, mercados pouco explorados.
Basta dizer que o potencial de negócios só no Caribe está estimado em US$ 30 bilhões por ano, segundo José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Para ele, esse valor é próximo do que o Mercosul movimenta.
"O mercado do norte ainda não despertou a atenção dos empresários e pode alavancar as exportações de muitas empresas que até poderiam estar com a sobrevivência ameaçada", diz Castro.
As transações comerciais desse mercado poderiam ser pelo menos o dobro do valor movimentado pelo Mercosul, na previsão de José Ferreira Lopes, embaixador do Itamaraty e promotor comercial da Zona Franca. "As perspectivas são tão boas que a região foi batizada de Merconorte."
No ano passado, a Suframa aprovou 143 projetos de investimentos, quase 50% a mais do que em 98. Com isso, a região atraiu US$ 2,7 bilhões.
O dinheiro está sendo usado na ampliação e construção de fábricas. Pelo menos 20% da produção dessas indústrias terá de ser exportada por determinação da Suframa já no primeiro ano.
A meta da superintendência é zerar dentro de quatro anos o déficit comercial do Estado do Amazonas, que no ano passado foi de US$ 2,4 bilhões.
Segundo o vice-presidente da Suframa, Nilton Sacenco Kornijezuk, para atingir esse objetivo será necessário dobrar as exportações no período e reduzir em quase R$ 1 bilhão as importações, de US$ 2,8 bilhões no ano passado.
Para tentar viabilizar essas metas, foi criado o Programa Especial de Exportação da Amazônia Ocidental (Pexpam). Pelo programa, as tarifas portuárias de Manaus passam a ser as mesmas cobradas no porto de Santos, pelo menos 50% mais baixas.
Esse benefício vem de um fundo mantido com 3% dos embarques, recolhidos pelos exportadores.
"Esse programa deve ajudar o Estado a atingir as metas de exportação", diz Kornijezuk.



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