São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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LUÍS NASSIF
A minha lista dos melhores

Minha lista das (minhas) melhores músicas do século já está chegando em 300. Nela, incluí alguns daqueles sambões clássicos dos anos 40 feitos por compositores mais urbanos, como "Despedida de Mangueira", de Benedito Lacerda e Aldo Cabral, e "Praça Onze", de Herivelto Martins e Grande Otelo.
Muitos dos sambistas clássicos, (lembrem-se da "Etelvina"), dos dois maiores sambistas marginais da história, Geraldo Pereira e Wilson Batista. De Geraldo Pereira ainda incluiria "Nega Vem Cá" e "Escurinho". De Batista, o clássico "Meus Vinte Anos": ("nos olhos das mulheres/ no espelho do meu quarto/ é que vejo a minha idade"). Passando por samba e espelho, um clássico maravilhoso contemporâneo, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro, o "Espelho".
Dos sambistas dos anos 40, uma lista enorme de Ismael Silva, meu predileto. Entrariam "Arranjastes um novo amor", "Nem tudo que se diz", "Se você jurar" e "Antonico" (nas duas primeiras utilizei o primeiro verso por não me recordar do nome).
De Nelson Cavaquinho entrariam várias, a começar por "A Flor e o Espinho". De Ataulfo, um clássico nacional, tão cantado em São Paulo, por exemplo, como Adoniran, entrariam "Saudades da Amélia", "Professorinha" e "Laranja Madura".
Há um conjunto de sambas, quase de breque, meio sambas choro, que estão entre os meus prediletos. Entre eles, "Marambaia", de Henricão, "Minha Palhoça", de J. Cascata e Leonel Azevedo. Sem contar a grande coleção de sambas com nomes de mulher, como "Isaura", "Emília", "Odete", uma versão de "Emília" que considero melhor que a própria, mas não me lembro o nome dos autores ("de manhã, muito cedinho/ Emília me acordava/ acorda, acorda, benzinho/ eu logo me levantava").
Dos sambas surgidos nos anos 60, creio que "Pressentimento", de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho seria o clássico insuperável.
Mas de Paulinho da Viola haveria uma enxurrada, como "Hoje eu vi minha nêga", "Foi um rio que passou em minha vida", resposta a outro clássico, que foi aquele samba sobre Mangueira, do próprio Paulinho e Hermínio, "Papéis", "Recado", com "Casquinha", "Sinal Fechado", e minha predileta "Para um amor de Recife".
Do período da bossa nova, a relação fica enorme. Das músicas de Carlos Lyra incluiria "Marcha da Quarta Feira de Cinzas", "Maria Ninguém", "Minha Namorada", "Primavera" e "Se é tarde". Das músicas de grandes instrumentistas que aderiram ao movimento, a imbatível "Nanã", de Moacir Santos e o repertório de Baden, a começar de "Canto de Ossanha", "Samba da benção", "Formosa" e tantas mais, e minha favorita, "Violão Vadio".
Nesse período há um subgrupo da bossa nova, de canções meio barrocas, como que pedindo cravos e harpas, entre as quais "Hoje a noite não tem luar", de Oscar Castro Neves, as modinhas de Juca Chaves, especialmente "Ana Maria" e "Pequena Marcha para um Grande Amor", algumas jóias de Sérgio Bittencourt, como "Canção do Medo".
Logo no pós-bossa nova, surge a geração de ouro dos festivais. A produção de Edu Lobo nesse período é estupenda, excetuando "Arrastão", que só venceu um festival pela interpretação de Elis Regina. Mas entrariam "Mariana", "No cordão da saideira", o dolorido "Prá dizer adeus". Depois, nos anos 80, ele e Chico Buarque produziriam a maior coleção de clássicos que já ouvi em apenas um disco, aquele do "Grande Circo Místico", entre os quais "Valsa Brasileira" e "Beatriz".
A propósito, todas as minhas filhas estão incluídas na relação: "Mariana", de Edu, "Luiza" de Tom Jobim, "Beatriz", de Edu e Chico e "Dora", de Caymmi.
Você sabe o que é uma interpretação empolgante, daquelas de deixá-lo sacolejando no carro, batucando na direção, fazendo os motoristas dos carros ao lado saírem de perto, com medo do maluco? Já tive alguns ataques de loucura assim ouvindo "1 x 0", por Pixinguinha e Benedito Lacerda e, recentemente, por Raphael Rabello e Dino; "Tico Tico no Fubá", com Paquito de Rivera e, mais antigo, com Oscar Aleman; "Noites Cariocas", no disco "Saraus de Jacob"; a terceira parte de "Remeleixo", de Jacob; as interpretações de Baden no Olympia, em 1974, Canhoto da Paraiba com seus improvisos, João Bosco cantando aquela "Feijoada", Gilberto Gil em "Expresso 2222", os sambas de breque de Germano Mathias. Achei que já tinha ouvido tudo até ouvir "Dadivilença", de e com Armandinho e Moraes Moreira no CD "Retocando o Choro", de Armandinho. Coisa de gênio!
E-mail: lnassif@uol.com.br


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