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São Paulo, quinta-feira, 06 de fevereiro de 2003

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Taxa de janeiro frustra e fica acima da estimativa da instituição

Na inflação, esperança ainda não venceu o medo, diz Fipe

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Na inflação, "a esperança ainda não venceu o medo. Talvez isso ocorra em fevereiro". Essa frase de efeito de Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), mostra que a taxa de inflação do mês passado ficou bem diferente do que se previa.
Estimada inicialmente para ficar abaixo do 1,83% de dezembro, a inflação do mês passado frustrou e ficou bem acima das estimativas, diz o economista da Fipe. A taxa de janeiro foi de 2,19%, a maior para o mês desde o início do Plano Real.
Neste mês, a taxa também deve superar as estimativas iniciais e ficar próxima de 1%. Apesar dessa decolada da taxa nos dois primeiros meses do ano, Heron mantém a previsão de 7% para 2003. "Essa é uma taxa otimista, não vou negar", disse ele.
O economista mantém a estimativa para o ano porque, segundo ele, houve uma antecipação da pressão de transportes de junho para janeiro. "O ritmo atual de inflação é um absurdo", diz o economista. Uma taxa de 2% ao mês significa que, a cada R$ 1.000, os paulistanos perdem R$ 20 da renda. Em cinco meses, a perda é de R$ 100. "A recuperação dessa renda a curto prazo é impraticável."
A perda de renda empobrece as famílias e vai ajudar a segurar a fúria da inflação nos próximos meses. As empresas que fizeram reajustes preventivos no final do mandato de FHC, aproveitando a mudança de governo, provavelmente deverão readequar para baixo os preços, diz o economista.

Seis meses de sufoco
Os números da Fipe são impressionantes. Nos últimos 12 meses, a inflação foi de 11,67%, a maior desde outubro de 96. Dessa taxa, 10,11% ocorreram apenas nos últimos seis meses.
Apesar de as taxas de inflação estarem acima da previsão neste início de ano, a trajetória da inflação ainda é de queda em relação à pressão do final do ano passado.
O economista da Fipe diz que as pressões vieram de apenas dois setores: transportes e educação. O setor de transportes, que tinha registrado alta de apenas 0,71% em dezembro, teve reajuste médio de 6,16% no mês passado. O principal foco de pressão veio dos transportes coletivos, que subiram 10,23% devido ao reajuste de ônibus liberado pela prefeita Marta Suplicy (PT).
No setor de educação, a alta foi de 7,87%. Os reajustes sempre ocorrem nos meses de janeiro. A Fipe constatou, no entanto, que as escolas não conseguiram repassar toda a inflação do ano passado para as matrículas, o que mostra perda de renda da classe média.
Transporte e educação fizeram a diferença no mês passado, diz Heron. Esses dois itens foram responsáveis por uma taxa de inflação de 1,17%. Sem eles, a inflação de janeiro teria ficado em 1%, abaixo da de dezembro.
A inflação de janeiro foi elevada também porque os alimentos não caíram como se previa. O aumento médio no setor foi de 1,88%, contra 3,36% em dezembro. Os preços devem continuar caindo nesse setor. Os pesquisadores da Fipe já constataram reduções nominais nos preços de janeiro.
A alta da inflação de janeiro vai comprometer a taxa deste mês. Além de novos aumentos, como os de gasolina, álcool e tarifas de telefone celular, o índice vai receber os resíduos dos reajustes de transportes e gás ocorridos em janeiro. Só esses itens devem gerar inflação de 0,65% para este mês.


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