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Corretor diz que não quer ser "bode expiatório"
Francês responsável por maior fraude bancária nega agir por ambição pessoal
Operador que causou prejuízo de 7 bilhões ao Société Générale diz que perdeu noção de valores e que "se deixou levar"
PIERRE ROCHICCIOLI
DA FRANCE PRESSE
O corretor financeiro francês
Jérôme Kerviel, acusado pelo
banco Société Générale de ser o
causador da maior fraude histórica do setor financeiro, rompeu seu silêncio ontem e admitiu em entrevista à agência
France Presse sua "parte da
responsabilidade", ainda que se
negue a ser "o bode expiatório"
nesse escândalo.
"Fui apontado [como único
responsável] pelo Société Générale. Assumo minha parte da
responsabilidade, mas não serei o bode expiatório do Société
Générale", disse o operador à
France Presse, em entrevista
realizada no escritório de sua
advogada, Elisabeth Meyer, em
Paris.
Vestindo camisa branca e
calça jeans, o corretor financeiro mais famoso do mundo não
quis entrar em detalhes e enfatizou que "prefere reservar as
declarações aos juízes" de instrução do caso.
O Société Générale anunciou
em 24 de janeiro que Kerviel,
31, havia causado perdas de
4,9 bilhões (US$ 7,1 bilhões) ao
realizar operações não autorizadas no mercado, sem que os
sistemas de controle do banco
as detectassem.
De acordo com o Société Générale, o funcionário chegou a
investir 50 bilhões, um montante que, de acordo com os especialistas, não poderia passar
despercebido por qualquer
banco.
"Você perde a noção dos valores quando está mergulhado
nesse tipo de trabalho... A pessoa se deixa levar, um pouco",
explicou Kerviel com voz tímida e suave, confessando que
ainda não conseguiu se dar
conta realmente das implicações internacionais do escândalo, que ele acompanha "pelos
jornais e pela internet".
Controle falho
Um relatório divulgado na
segunda-feira pela ministra das
Finanças da França, Christine
Lagarde, concluiu que os controles internos do Société Générale não funcionaram como
deveriam, neste caso.
"Nunca tive ambição pessoal
quanto a esse assunto. O objetivo era propiciar lucros ao banco", enfatizou Kerviel.
Desde que o escândalo chegou ao conhecimento público,
o corretor, cuja foto chegou à
primeira página na imprensa
de todo o mundo, está sob proteção da polícia, morando em
casa de amigos. O corretor também limitou seus contatos com
sua família para "protegê-la da
mídia".
"Não estou deprimido ou
com impulsos suicidas", garantiu Kerviel, que considera a
atenção da imprensa e as informações publicadas "opressivas" e garante que "em momento algum pensou em fugir".
"Haveria muitas coisas a dizer. A imprensa vem publicando muita desinformação", o
corretor afirmou.
Interrogatório
Na segunda-feira, Kerviel foi
interrogado pela primeira vez
pelo juiz Renaud van Ruymbeke. "Tudo correu bem. Eu disse
exatamente o que tinha de dizer", afirmou. De acordo com a
imprensa, o corretor sugeriu
que seus chefes não podem ter
ignorado seus movimentos no
mercado.
O operador foi acusado de
abuso de confiança e falsificação, na semana passada, mas
está provisoriamente em liberdade, decisão que resultou em
apelação que será examinada
na sexta-feira.
"Estarei presente na [audiência de] sexta-feira e confio
plenamente em meu advogado", afirmou.
Ao final da entrevista, Kerviel saiu do escritório da advogada a pé e sem companhia, se
perdendo da maneira mais discreta possível entre os transeuntes das ruas de Paris.
Enquanto isso, o comando do
Société Générale enfrenta duras críticas e pedidos de punição severa. Enquanto Kerviel e
seus chefes diretos foram demitidos sumariamente após a
eclosão do escândalo, a alta cúpula tenta permanecer no cargo.
O banco enfrenta ainda assédio de concorrentes que estudam sua aquisição nesse momento de fraqueza.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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