São Paulo, sábado, 06 de março de 2010

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Boom imobiliário na China pressagia bolha

Em Xangai, a mais rica e deslumbrante das cidades chinesas, os preços dos imóveis subiram mais de 150% desde 2003

Autoridades de Pequim já tomaram medidas para restringir crédito; em 2009, o mercado movimentou 80% mais, US$ 560 bilhões

DAVID BARBOZA
DO "NEW YORK TIMES", EM XANGAI

O espaçoso dúplex vem com cama cujo dossel é sustentado por colunas revestidas em couro de crocodilo, portas de bronze esculpidas à mão -e enfeitadas com cristais Swarovski- e custa US$ 45 milhões.
O apartamento ainda está no mercado, mas Charles Tong, o incorporador imobiliário do Tomson Riviera, um luxuoso complexo à beira-rio no coração do distrito financeiro de Xangai, diz que não tem problemas para atrair compradores e que vende "de três a quatro apartamentos por mês". "Agora, as pessoas aqui desejam algo mais luxuoso; gostariam de um novo estilo de vida."
Todo mundo concorda que a China atravessa um boom imobiliário; a questão é determinar se o país também está em meio a uma bolha imobiliária em rápido crescimento -cujo estouro poderia afetar boa parte do mundo. A China é a grande economia de mais rápido crescimento e o principal propulsor para que a economia mundial saia da recessão.
Pequim está claramente preocupada. As autoridades recentemente tomaram medidas para restringir o crédito fácil que ajudou a financiar o desenvolvimento excessivo de projetos imobiliários chineses, entre elas dificultar a obtenção de uma segunda hipoteca pelos proprietários de residências.
No ano passado, o recorde de US$ 560 bilhões em propriedades residenciais foi vendido na China, uma alta de 80% ante 2008, segundo estatísticas governamentais. Em meio à disparada dos preços, os incorporadores correm para construir mais empreendimentos de luxo que ostentam nomes como Rich Gate e Palais de Fortune.
Os sinais de exuberância são onipresentes. Um investidor de Xangai recentemente adquiriu 54 apartamentos em um único dia, uma casa de campo foi vendida por US$ 30 milhões no ano passado e um consórcio de incorporadores pagou mais de US$ 3,5 bilhões por um imenso terreno em Guangzhou.
Os especuladores vêm abocanhando imóveis na expectativa de que os preços continuem a subir, como vem acontecendo praticamente a cada ano há mais de uma década. E poderosos incorporadores imobiliários estão trabalhando com governos locais a fim de transformar velhas cidades em paisagens urbanas oníricas. Xangai, a mais rica e deslumbrante das cidades chinesas, é o epicentro do boom. Os preços subiram mais de 150% desde 2003.
Em seu esforço para tentar modular o mercado, os governos local e central precisam encontrar um ponto delicado de equilíbrio. As vendas de terrenos são importante fonte de receita para o governo e respondem por cerca de metade do custo do programa de estímulo chinês de US$ 500 bilhões.
Determinar se o país vive bolha se tornou tema de debate. Alguns economistas dizem que o boom está sendo alimentado por uma grande campanha de urbanização, que resulta em casas caras. Outros dizem que os preços vêm sendo empurrados por incorporadores gananciosos e políticas governamentais que tornam os imóveis menos acessíveis à massa migrante.
Os apartamentos mais recentes do Tomson Riviera foram vendidos por US$ 25 mil o m2. Um apartamento de luxo médio em Manhattan valia pouco menos de US$ 21 mil o m2 no fim de 2009.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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