São Paulo, Sábado, 06 de Março de 1999
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CÂMBIO
Moeda fechou em R$ 1,98, com valorização de 4,8% do real; investidores venderam estoque prevendo BC mais ativo
Dólar cai abaixo de R$ 2 sem intervenção

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

O Banco Central nem precisou intervir no mercado de câmbio, ontem, para o real ganhar valor contra o dólar comercial. No fechamento, a cotação da moeda dos EUA ficou em R$ 1,985, uma valorização do real de 4,79% em um dia. Ficou, pela primeira vez desde o dia 22 de fevereiro, abaixo do patamar de R$ 2.
Desde que Armínio Fraga assumiu a presidência do Banco Central, anteontem, o real recuperou 8,82% de seu valor.
Na média ponderada de todos os negócios do dia divulgada pelo Banco Central, o dólar ficou a R$ 1,9934 ontem, uma queda de 5,16% em um dia e de 7,91% desde que Fraga tomou posse.
Ontem, não houve pressão forte na ponta da compra de dólares. O ABN-Amro, que tinha um eurobônus de US$ 150 milhões vencendo no dia 9 e precisaria comprar dólares, conseguiu colocar novo papel no mercado externo no valor de US$ 100 milhões. O banco já tinha comprado mais do que os US$ 50 milhões restantes e foi visto, ontem, vendendo dólares.
Também a corretora Votorantim, o Citibank e o Deutsche atuaram com força na ponta de venda, dizem especialistas. Segundo rumores, o Citi teria vendido até US$ 100 milhões no mercado.
Os investidores entraram vendendo dólares pois apostam que as cotações da moeda vão cair contra o real com um Banco Central mais atuante. A possibilidade de o governo poder gastar na defesa do real os recursos da ajuda do FMI e dos países ricos, prevista para chegar a US$ 41,5 bilhões, está assustando quem apostava em um fortalecimento do dólar.
Além de um eurobônus de US$ 20 milhões da Brascam, não há novos papéis brasileiros vencendo no mercado externo na semana que vem. E US$ 20 milhões, em um mercado de câmbio que movimenta cerca de US$ 2,5 bilhões por dia, não é quase nada. Não é volume suficiente para pressionar para cima ascotações do dólar.
A grande pressão de compra do dólar, pelo menos neste mês, tem vindo de empresas que têm suas dívidas externas vendendo e não têm conseguido rolar esses papéis. Os investidores internacionais, em sua maior parte, ainda têm desconfianças sobre o futuro da economia brasileira e pedem taxas de juros altas demais para carregar os papéis das empresas brasileiras.
Sem eurobônus e com Fraga, os investidores passaram a acreditar em uma semana mais calma. Os contratos da Bolsa de Mercadorias & de Futuros projetaram um dólar mais fraco.
Nos contratos para vencimento em abril, que indicam o dólar do último dia útil de março, a moeda dos EUA terminou o dia cotada a R$ 1,986, uma desvalorização de 3,77% contra anteontem.
Com o alívio nas cotações, os importadores começaram a voltar ao mercado à vista, segundo Carlos Gandolfo, sócio da Pioneer Corretora de Câmbio.
Ele também percebeu uma atuação dos exportadores vendendo dólares, mas em volumes pouco expressivos. "Os grandes exportadores, principalmente de commodities como a soja, por exemplo, ainda não mostraram sua cara no mercado", afirmou Gandolfo.
O problema, afirma, são as caras linhas de crédito para os exportadores ingressarem com seus dólares no país antes de a exportação ter sido realizada, os chamados Adiantamentos de Contrato de Câmbio, ACCs.
Gandolfo diz que antes da crise decorrente da moratória da rússia, em agosto do ano passado, as taxas de juros dos ACCs eram a libor, a taxa interbancária de Londres, mais 0,5%. No início deste ano, haviam subido para libor mais 2% ao ano. Hoje, custam a libor mais 4%. "O crédito ainda está proibitivo."


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