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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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Bush subestima os gastos no Iraque, afirma Nordhaus

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O governo de George W. Bush não calcula direito os gastos que terá para reconstruir o Iraque e depois terá de cortar na carne para fechar suas contas.
A afirmação é do economista William Nordhaus, 61, co-autor do livro "Economics", clássico da economia que já vendeu mais de 4 milhões de exemplares. "Acho que estão subestimando isso [os custos com a guerra" por uma margem muito grande."
Nordhaus é há 30 anos professor da Universidade Yale. Nesse período, pertenceu ao Conselho Econômico do presidente Jimmy Carter e integrou diversas comissões econômicas dos EUA. Hoje, integra um grupo de especialistas em orçamento do Congresso.
A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - Os US$ 75 bilhões [pedidos pela Casa Branca ao Congresso" pagarão a guerra?
William Nordhaus -
Os US$ 75 bilhões são apenas para o ano fiscal corrente, que termina em setembro. Provavelmente, o governo pedirá mais. Mas eles não disseram nada sobre os custos depois desse período de seis meses, e penso que será consideravelmente acima disso.

Folha - Quanto seria?
Nordhaus -
É muito difícil dizer, porque não sabemos qual seria o cenário do pós-guerra. O governo tem falado sobre administração e ocupação em cerca de seis meses ou um ano. Acho que é muito, muito otimista. Minha visão é que vai demorar muitos anos para democratizar o Iraque. Acho que estão subestimando isso por uma margem muito grande.

Folha - Quais seriam as consequências para o Orçamento?
Nordhaus -
Vai aumentar o déficit, mas não é algo que a economia não possa pagar. Acho que o principal impacto será em outros programas do governo federal, em programas civis, de ajuda, programas não-militares.

Folha - No próximo ano haverá eleições nos EUA. Como o governo lidará com esses cortes?
Nordhaus -
Esse será um fator importante, mas é cedo para dizer. Teremos de esperar para ver como a guerra se desenvolve. Se me perguntar daqui a seis meses, posso dar uma resposta melhor.

Folha - No começo da guerra havia um certo otimismo no mercado. Desde então, só houve números ruins. Como ficará a economia?
Nordhaus -
Tem havido muita volatilidade na opinião pública. Mas acho que, no geral, os resultados mostram prejuízos menores do que as pessoas esperavam.

Folha - O mercado avalia a chance de recessão. É possível?
Nordhaus -
Acho que o mercado está, antes de tudo, focado na guerra. As dificuldades que a economia tinha em relação ao preço do petróleo foram reduzidas. Então, acho que está um pouco melhor do que parecia há um mês.

Folha - O Iraque pode ajudar a pagar a reconstrução?
Nordhaus -
O problema principal é que o total da venda de petróleo é pequeno perto dos custos que existirão. Estamos falando de venda de petróleo abaixo de US$ 1.000 per capita. A economia do Iraque está péssima. O petróleo tem que ir primeiro para pagar comida, habitação, vestuário etc.

Folha - Então os gastos terão de ser pagos só pelos EUA?
Nordhaus -
Tenho certeza que os EUA tentarão persuadir outros países a contribuir. Só não sei se terão sucesso, considerando que os outros poderão dizer: "Você fez a bagunça, você que limpe". E os EUA têm essa obrigação.

Folha - O Congresso discutiu na semana passada os cortes de impostos. Alguns lembraram que os EUA historicamente não cortam impostas durante guerras. Outros lembraram que a Guerra da Independência começou por causa disso. Os EUA têm condições de cortar impostos agora?
Nordhaus -
A República vai sobreviver, mas do ponto de vista econômico acho que é uma política extremamente ruim. Há um déficit muito grande, e ele crescerá muito rapidamente. A perspectiva no curto prazo é ruim, e no longo prazo é ainda pior. Acho que é basicamente irresponsável.



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