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Vivo questiona plano do governo para banda larga
"Governo seguirá regras a que nos submetemos?", diz Roberto Lima, presidente da tele
Executivo defende ainda que consumidor de banda larga se discipline ao usar
o serviço, para amenizar congestionamento da rede
João Brito/Folha Imagem
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Roberto Lima, da Vivo, na sede da empresa na capital paulista
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Maior operadora de telefonia
celular do país, com 53 milhões
de clientes e faturamento de
R$ 16,3 bilhões em 2009, a Vivo
acaba de atingir a nota máxima
conferida pela agência de avaliação de risco Standard &
Poor"s a uma empresa por sua
capacidade de gerar caixa e pagar suas dívidas. Quase no mesmo dia, a companhia chegou a
Guariba, cidade do Piauí símbolo do Fome Zero.
"Não estamos disputando
clientes nas cercanias dos
shoppings de São Paulo", disse
Roberto Lima, presidente da
Vivo. "Estamos, sim, fazendo a
inclusão digital no país." Lima
critica o plano federal para banda larga e diz que, com a liberação do Fust [Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, custeado por taxa na conta de telefone], a iniciativa privada cobriria o país
em velocidade maior que a do
governo em se aparelhar.
FOLHA - É razoável a competição
com o governo na oferta de banda
larga após a privatização do setor?
ROBERTO LIMA - Acho que não
precisa. Esse projeto [Plano
Nacional de Banda Larga] não
partiu do órgão regulador
[Anatel] nem do Ministério das
Comunicações, que estão mais
próximos das dificuldades do
setor. Neste ano, as quatro operadoras móveis devem investir
R$ 10 bilhões sem contar os bilhões de reais aplicados até hoje. O problema de acesso não é
falta de investimento.
FOLHA - O PNBL prevê investimentos entre R$ 3 bilhões e R$ 15 bilhões
para levar internet a 68% dos domicílios até 2014. É possível?
LIMA - Não sei como. Eu administro uma empresa que investirá R$ 2,49 bilhões neste ano.
Com a reativação da Telebrás,
pode ser que o governo consiga.
Com que custo e a que preço eu
não sei. Agora tem outra forma.
Poderiam alugar a rede [16 mil
quilômetros de fibras ópticas
da Eletronet, empresa do governo e do grupo Contem] para
a iniciativa privada. Eu gostaria
de alugá-la imediatamente para prestar o serviço onde hoje
não atuamos. Se o governo quer
fazer esse trabalho, será que vai
operar sob as mesmas regras a
que estamos submetidos?
FOLHA - Um dos argumentos para
implantar o PNBL é que é preciso levar a internet a locais onde as teles
não têm interesse comercial. O Fust
[Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações] não deveria ter sido usado para isso?
LIMA - Só que o Fust está contingenciado. Esse dinheiro é arrecadado pela Anatel e vai direto para o Tesouro. A gente pressiona todo dia pela liberação.
FOLHA - Por que a cobertura em cidades menores interessa menos para as operadoras?
LIMA - Investir nos grandes
centros, onde já existe uma rede instalada, significa receita
injetada na veia. Quando se leva
a infraestrutura para uma cidade sem cobertura se faz uma
aposta em um prazo maior.
Agora, a Vivo não está brigando
nas cercanias dos shoppings de
São Paulo. Estamos, sim, fazendo a inclusão digital no país.
Em Roraima, entramos em cidades com menos de 6.000 habitantes. Em 2009, incluímos
80 cidades além das metas da
Anatel. Acabamos de chegar à
cidade de Guariba, no Piauí,
símbolo do Fome Zero.
FOLHA - Essa inclusão não penaliza
a classe que paga mais tanto no pós-pago quanto na telefonia fixa?
LIMA - Lá atrás, quando decidiu-se que haveria um estímulo
para o desenvolvimento do celular no país, definiu-se o seguinte modelo. De toda ligação
de uma operadora fixa que terminasse em um telefone celular, as móveis cobrariam das fixas uma tarifa de interconexão
[pelo uso de suas redes] de R$
0,40 por minuto. Para que esse
sistema ficasse equilibrado, estabeleceu-se que as fixas cobrariam de seus clientes a assinatura básica. Se não fosse assim,
não teríamos tantos acessos na
telefonia móvel ou teríamos de
cobrar mais dos clientes que
hoje não podem pagar.
FOLHA - Analistas afirmam que a
interconexão torna o minuto de celular no país o segundo mais caro do
mundo. Os pré-pagos, que respondem por 80% da base de clientes,
não pagam essas tarifas porque, em
geral, só recebem chamadas.
LIMA - Dependendo do mês,
40% de nossos clientes [pré-pagos] não fazem recargas. Se
não fosse a VUM [tarifa de interconexão] cobrada quando
essas pessoas recebem ligação
de concorrentes, não teríamos
receita. E temos custos só para
mantê-los na base. Quando um
pré-pago é habilitado, pagamos
R$ 26 à Anatel. Para renová-lo a
cada ano, mais R$ 13. Isso sem
contar os custos quando ele
acessa o call center, por exemplo. A Vivo tem 53 milhões de
clientes. No último dia 30, pagamos R$ 650 milhões só com
essas taxas à Anatel. Essa foi a
forma encontrada para fazer
distribuição de renda pelo sistema. Caso contrário, não daria
para atender o catador de papel, a empregada doméstica.
FOLHA - A Anatel está prestes a
vender as últimas frequências de 3G
(terceira geração) e vetou a participação das teles que já estão no mercado como forma de atrair novos
concorrentes para derrubar o preço
do minuto. O que o sr. acha disso?
LIMA - Fico me perguntando se
já não existe concorrência suficiente na telefonia celular. Não
é justo que empresas que entrem agora com uma base de
clientes pequena para atuar em
nichos de mercado usem um
bem [novas frequências] que
poderia ser destinado às operadoras que investiram bilhões e
hoje atendem uma base tão
grande. Esses clientes não param de demandar rede. Investimentos a gente pode fazer, mas
espectro não há como gerar.
FOLHA - As teles diziam que a universalização da internet se daria pela rede móvel. Agora afirmam que é
um produto complementar à internet fixa. Por que o discurso mudou?
LIMA - Telefonia móvel é que
nem estrada. A rodovia dos
Bandeirantes, a melhor do país,
tem quatro faixas para ir e quatro para voltar. Sexta à noite,
véspera de feriado, 120 km/h é
propaganda enganosa. E ninguém diz: "Ah, que mau serviço!" No nosso caso, os investimentos foram dimensionados
para um tráfego médio estimado. A surpresa é que o usuário
demanda cada vez mais vídeos,
músicas, filmes, extrapolando o
previsto. Por isso, só passamos
a vender o que podemos entregar. O serviço é muito novo e a
gente não tem alertado o público de que nas telecomunicações móveis, diferentemente
da fixa, há a questão da concentração. Se muita gente resolve
fazer uso da mesma estação
móvel, degrada-se o tráfego.
FOLHA - Mas não dá para entregar
mais que 10% de velocidade, o mínimo garantido?
LIMA - Sim, mas as pessoas têm
de se disciplinar para fazer bom
uso dessa rede e "pegar trânsito" na internet. Um arquivo pesado não deve ser baixado em
horário de pico. Agora, sem a liberação de espectro, temos de
investir em mais antenas nos
grandes centros. Quando fazemos isso, não investimos no interior do país. Isso é ruim, porque as móveis serão o motor do
crescimento da internet. Em
muitos lugares a internet fixa
não chegará porque custa muito caro. A móvel chega mais barato, mas a contrapartida é que
nem todo mundo vai conseguir
navegar em boa velocidade. Terão de fazer uso mais razoável.
É tendência mundial. Senão,
não terá rede para todo mundo.
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