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AGROFOLHA
Reposição de estoque reduz renda na soja
Oferta atual, já grande, derruba os preços; com a recomposição dos estoques mundiais, cotações tendem a baixar mais ainda
Maior área cultivada e mais produtividade podem elevar safra de 2010/11 para 94 mi de toneladas nos EUA, com estoques de 13,6 mi no país
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A atual supersafra mundial
de soja traz preocupação para
os produtores brasileiros. A
oferta é grande e os preços recuam. A preocupação maior, no
entanto, deverá ser com a safra
2010/11, para a qual os norte-americanos já se prepararam e
os brasileiros começam a fazer
as reservas de semente.
Se o Usda (Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos) estiver certo, a área a ser
utilizada pelos norte-americanos será a maior registrada até
hoje: 31,6 milhões de hectares
neste ano.
Mas não é tanto para a área
que os produtores devem olhar,
mas para a rápida recomposição dos estoques mundiais.
Mesmo com a supersafra de
91,4 milhões de toneladas em
2009/10, os estoques finais da
oleaginosa nos Estados Unidos
ainda são baixos.
O cenário, no entanto, poderá ser outro em 2010/11, alerta
Fernando Muraro, da Agência
Rural, de Curitiba. Com a área
prevista pelo Usda, os estoques
finais norte-americanos devem
subir para 9,7 milhões de toneladas em 2010/11. Devem terminar a safra 2009/10 em apenas 5,2 milhões.
Se houver crescimento de 3%
nessa área prevista pelo governo dos Estados Unidos -ou seja, passaria para 32,6 milhões
de hectares-, o que alguns analistas acham perfeitamente
possível, os estoques subiriam
para 12,4 milhões de toneladas.
Se for acrescida também a
elevação de 3% na produtividade, a produção norte-americana bateria nos 94 milhões de toneladas, elevando os estoques
finais do país para 13,6 milhões.
Neste caso, a relação estoque-consumo subiria para 16%. Na
safra 2009/10, essa relação está
em apenas 5,7%.
Apesar da supersafra atual,
quando os principais produtores elevaram em 45 milhões de
toneladas a oferta de soja, os
preços se mantiveram acima da
média histórica porque os estoques estavam baixos e o apetite
chinês continuou.
Período difícil
Em um cenário de recomposição dos estoques mundiais,
mesmo com a continuidade das
importações chinesas -próximas de 42 milhões de toneladas
por ano-, os preços perderiam
sustentação ainda mais.
"Vai ser um período difícil.
Em 2010 e 2011, o produtor
sempre estará com a espada no
pescoço", diz Muraro. Na sua
avaliação, os produtores vão
continuar optando pela soja,
principalmente por ser a cultura de melhor rentabilidade.
Ele alerta, no entanto, que as
previsões são de uma boa safra
norte-americana em 2010/11,
mas que ela ainda está distante
e pode não ocorrer esse cenário
previsto atualmente.
Muraro acredita que os chamados fundamentos de mercado -produção consumo e estoques- voltarão a influenciar os
preços. As commodities já não
são tão atrativas como nos últimos anos, quando o grande volume financeiro dos fundos de
investimento influenciava os
preços para cima ou para baixo.
A entrada e saída desses fundos elevava ou derrubava os
preços, independentemente da
produção, consumo e estoques.
Houve uma forte financeirização das commodities agrícolas.
Os estoques de soja começam a ser repostos porque a
produção mundial na safra
2009/10 atingiu 256 milhões
de toneladas, 21% a mais do que
os 211 milhões de 2008/9. Os
estoques mundiais no final desta safra voltaram para 61 milhões de toneladas, contra apenas 42 milhões em 2008/9.
Uma nova supersafra em
2010/11 vai engordar ainda
mais esses estoques, pressionando os preços para baixo.
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