São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

Texto Anterior | Índice

COMÉRCIO MUNDIAL

Valor adicional refere-se a produtos agrícolas processados

UE oferece mais 1 bi ao Mercosul

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS

A União Européia pôs mais 1 bilhão (US$ 1,25 bilhão, cerca de R$ 3,69 bilhões) em exportações adicionais do Mercosul sobre a mesa em que os dois blocos negociam a criação de uma zona de livre comércio, que, se concretizada, será a maior do mundo.
O valor adicional virá da liberalização dos PAPs (Produtos Agrícolas Processados), pela primeira vez oferecidos na negociação.
Antes, em outros produtos agrícolas, processados ou não, os europeus haviam oferecido aberturas que permitiriam ao Mercosul exportar mais US$ 1,7 bilhão por ano, conforme cálculos do Ministério da Agricultura e da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
O cálculo de 1 bilhão, desta vez, é dos próprios europeus.
Os negociadores do Mercosul não tinham as suas próprias contas sobre a nova oferta, mas Antonio Donizeti Beraldo, representante da CNA, diz que se trata de produtos "com muito potencial de comércio".
Os PAPs incluem achocolatados, café solúvel, produtos de confeitaria, lácteos, massas, entre 295 linhas tarifárias oferecidas. Não chegam a representar 295 produtos porque, no caso da carne, por exemplo, há mais de cem linhas tarifárias para descrever os diferentes tipos e cortes.

Duas ofertas
Os europeus já acenaram com duas outras ofertas, sempre na área agrícola: 90 produtos que gozarão da chamada preferência tarifária (ou seja, produtos do Mercosul pagarão a metade da tarifa cobrada do resto do mundo) e 60 cujo prazo para eliminação de tarifas passou de "indefinido" para "até no máximo dez anos".
Total: 445 linhas tarifárias, a metade das que, no início da negociação, a União Européia listara como "sensíveis" e, portanto, não-sujeitas à desgravação.
É natural, por isso, que a oferta européia, em especial para os PAPs, tenha despertado certo entusiasmo entre os negociadores do Mercosul.
"É uma sinalização extremamente importante de como as negociações podem evoluir para um processo de barganha com vantagens recíprocas", festeja o embaixador do Brasil na UE, José de Alfredo Graça Lima, até segunda-feira um crítico da proposta.
Agora, o embaixador diz que foi "um dia luminoso" na negociação. Reforça até mesmo o setor privado, com a cautela natural de quem é o mais ansioso por uma abertura a mais ampla possível porque é quem de fato vai ganhar dinheiro com ela.
"A proposta era muito ruim, melhorou um pouco, mas, se vai chegar ao ideal, é outra história", diz André Meloni Nassar, representante do Icone (Instituto para o Estudo de Negociações Comerciais), especializado nesse tipo de entendimento.

Perto do limite
Do lado europeu, a avaliação é a de que a União Européia está chegando ao limite das concessões. A Folha ouviu de um membro da Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado que acaba de crescer de 15 para 25 países, que essas concessões não são fáceis de fazer na Europa.
Os europeus dizem com toda a clareza que, agora, é a vez de o Mercosul fazer as concessões que os europeus esperam, não apenas na própria área de PAPs como em outras, em especial serviços, compras governamentais e investimentos.
Mesmo nessas áreas, a negociação ontem foi "positiva", na avaliação européia.
A UE deixou claro que, em compras governamentais, entende que o Mercosul queira dar preferência a seus próprios produtores e entende também uma certa reserva de mercado para bens incluídos em políticas industriais.
"Mas queremos sentar para discutir como contabilizar essas preferências com a possibilidade de nos oferecer acesso ao mercado de licitações públicas do Mercosul", cobram os negociadores europeus.
Tudo somado, a negociação entre os dois blocos parece viver seu melhor momento, mas um desenlace de fato positivo depende de o Mercosul aceitar a avaliação européia de que fez ofertas com alto nível de ambição e, por extensão, responder com idêntica ambição.


Texto Anterior: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.