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Apesar de câmbio, indústria gera emprego
Entre 2005 e o ano passado, 71 segmentos criaram vagas de trabalho formais, contra 14 que fecharam, aponta estudo
Para economista, indústria vive fase de "adaptação competitiva", com alguns segmentos que já reagem
à concorrência externa
VALDO CRUZ
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A despeito do câmbio baixo e
da conseqüente concorrência
de importados, há mais setores
hoje na indústria gerando empregos do que cortando vagas.
Entre 2005 e 2006, 71 segmentos industriais podem ser
classificados de criadores de
empregos, favorecidos pelos
efeitos positivos da inflação
baixa e até mesmo do aumento
das importações. Na outra ponta, 14 setores figuram na lista
dos considerados destruidores
de vagas no período -metade
do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
quando foram observadas a valorização do real e a alta das
compras externas.
O levantamento consta de estudo elaborado pelo economista Octavio de Barros, diretor de
pesquisas macroeconômicas
do Bradesco, para debater se há
tendência de "destruição de
empregos na indústria".
Analisando apenas os números dos 14 setores classificados
de destruidores de empregos,
foram cortadas nos dois últimos anos 54.765 vagas de trabalho formais. Já os criadores
de empregos abriram no mesmo período 495.513 postos.
"Esses dados mostram que a
tese da destruição de empregos
industriais é questionável. Prefiro dizer que estamos numa fase de adaptação competitiva,
alguns setores estão de fato sofrendo, mas outros, reagindo",
diz Octavio de Barros.
Segundo ele, várias empresas
aumentaram suas importações
e observaram crescimento de
produção e abertura de novas
vagas. "O mesmo não aconteceu com setores que sofrem
competição direta de alguns
importados, mas até aí há medidas de reação."
O estudo aponta como destruidores de empregos setores
que demitiram nos dois anos e
os que criaram vagas em 2005,
mas cortaram em 2006. Na lista estão a indústria têxtil, de
calçados, madeira, tratores e
máquinas agrícolas, além de
adubos e fertilizantes.
São segmentos atingidos pelo aumento da concorrência externa, por conta do dólar baixo,
e por problemas pontuais como
a estiagem registrada principalmente na região Sul.
Proteção
Na tentativa de proteger esses setores e seus empregados,
o governo vem adotando desde
2006 uma série de medidas. Linhas de crédito com recursos
do FAT (Fundo de Amparo ao
Trabalhador) foram abertas no
ano passado para beneficiar os
setores de máquinas agrícolas,
móveis e calçados.
No final de abril, o governo
também decidiu elevar a TEC
(Tarifa Externa Comum) de
dois produtos -calçados e confecções- para 35%, que é o nível máximo. Apesar de aplaudida pelos dois setores, a medida
foi fortemente criticada por gerar ineficiências na indústria.
Para o coordenador de Política Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Flávio Castelo Branco, é surpreendente haver setores
da indústria cortando vagas.
"Em plena onda de aquecimento da economia mundial e no
terceiro ano seguido de expansão do PIB [Produto Interno
Bruto] brasileiro em níveis
mais aceitáveis, isso me surpreende", declarou.
Os criadores de vagas (inclui
quem cortou em 2005, mas
contratou em 2006) se beneficiaram da expansão do consumo interno e do aumento dos
preços internacionais das commodities. Exemplos: alimentos
e bebidas, farmacêutica e perfumaria, máquinas e equipamentos, siderúrgica e extrativa.
Ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), o professor Glauco
Arbix diz que a indústria nacional viveu nos anos 90 e início de
2000 uma melhora na capacidade produtiva que não foi registrada por boa parte dos economistas, que erraram nas previsões de que a exportação iria
cair com o real valorizado.
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