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Bancos ampliam ganhos com câmbio, apesar de maior instabilidade nas taxas
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise descapitalizou os bancos e secou as operações de crédito, mas as instituições financeiras de presença global continuaram ganhando com o câmbio de moedas, um negócio que
vai bem tanto com a economia
crescendo quanto em crise.
Com a turbulência, aumentaram as oscilações e as chances
de ganhar -ou perder- dinheiro com a troca de moedas.
A saída de bancos importantes
(ABN Amro, Bear Stearns, Lehman Brothers, Merrill Lynch
etc.) do negócio também diminuiu a concorrência e tornou as
operações concentradas nos
grandes bancos globais, que
passaram a cobrar mais.
No Brasil, as principais instituições ampliaram seus lucros
com o câmbio mesmo com a retração nos fluxos comerciais e a
parada súbita da entrada de capital estrangeiro em setembro.
Segundo o Citibank, líder no
câmbio brasileiro, o fluxo comercial recuou 30%, e o financeiro, mais de 50%, após a quebra do Lehman Brothers. Até
então, o mercado crescia entre
10% e 15% em relação a 2007.
A chave dos ganhos foi a instabilidade cambial, que levou o
dólar a subir até 60% -de R$
1,56 em 26 de agosto até R$
2,50 em 5 de dezembro.
A concorrência menor justificou um aumento de mais de
30% nos "spreads", a diferença
entre as taxas de câmbio de
compra e venda de moeda.
Segundo maior no câmbio
brasileiro, o Bradesco viu seu
resultado com troca de moedas
saltar de R$ 377,5 milhões para
R$ 1,016 bilhão de 2007 para
2008, incluindo o impacto da
variação cambial. No Itaú, somou R$ 1,027 bilhão no ano
passado, após resultado de R$
147 milhões no ano anterior.
No Banco do Brasil, terceiro
maior, os ganhos foram mais
modestos -saltaram de R$
396,4 milhões para R$ 464,15
milhões. O Citibank, que já teve
ganho com câmbio de R$ 956
milhões em 2007, apurou resultado de R$ 638 milhões em
2008. Sem contar o Banco Real,
o câmbio rendeu R$ 1,081 bilhão ao Santander, após perdas
de R$ 47,3 milhões em 2007.
Repatriação
Segundo Pedro Lorenzini, diretor-executivo de Tesouraria
do Citibank, o mercado de câmbio se sustentou após a crise
com a repatriação de dinheiro
dos fundos de hedge e as remessas de dinheiro das empresas para suas matrizes.
"Teve aumento de "spread"
porque houve uma concentração de grandes players, presença global e capacidade de fazer
grandes tíquetes. Os que tinham uma atuação menor sumiram. Tivemos dias com oscilação de mais de 5%. Dada a volatilidade, você pede um pouco
mais de retorno. Se fizer uma
execução ruim em um tíquete
de US$ 100 milhões, pode perder US$ 5 milhões. É 5% do volume. E vivemos vários dias assim em outubro e novembro."
O câmbio brasileiro girava
US$ 99,95 bilhões em dezembro, pouco menos do que os
US$ 103,76 bilhões de dezembro de 2007, período de euforia, segundo o Banco Central.
No mundo, estudo da Greenwich Associates aponta aumento médio de 15% nos volumes
negociados de 2007 para 2008.
Para a consultoria, a crise fez as
empresas e os investidores ficarem mais seletivos, priorizando
as instituições mais fortes. "O
câmbio de moedas foi uma das
poucas fontes de lucro para os
bancos globais no ano passado", disse a Greenwich.
Para 2009, a expectativa é
que a taxa de câmbio fique um
pouco mais estável, porém,
com oportunidades menores
de ganho com risco e volatilidade. Os bancos sentem uma volta lenta do fluxos comerciais e
financeiros nas últimas semanas. Desde o fim de março, os
"spreads" no câmbio começaram a recuar, mas ainda se encontram 10% acima dos cobrados antes de setembro.
"O ritmo de volatilidade do
câmbio caiu, mas continua alto.
Esse mercado ainda chacoalha
quase todo dia e muito mais do
que em 2007", disse Carlos Rocha, diretor do JPMorgan.
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