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INTEGRAÇÃO
Secretário William Daley diz que prazo de 2005 só será cumprido se governo brasileiro agir de forma agressiva
EUA culpam o Brasil por atraso na Alca
MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A WINDSOR
O secretário de Comércio dos
EUA, William Daley, disse ontem
em Madri, na Espanha, que a Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) não deverá ser criada
em sua data prevista, em 2005,
porque o Brasil não está se esforçando como deveria.
"Se o Brasil não se tornar agressivo num determinado momento,
não acho que vai acontecer", disse
Daley. "A perspectiva de vermos
uma área de comércio livre em
2005 é pouco realista", disse numa conferência sobre cooperação
empresarial.
Foi a declaração pública mais
clara e forte já feita por uma autoridade norte-americana responsabilizando o Brasil pelo atraso na
implementação da Alca.
Horas depois, na Assembléia
Geral da OEA em Windsor, no
Canadá, o assessor do presidente
Bill Clinton para a América Latina, Arturo Valenzuela, negou à
Folha que os EUA tenham desistido da implementação da área de
livre comércio em 2005.
"Não ouvi nem li as declarações
de Daley, mas posso reafirmar as
palavras do presidente Clinton ao
Conselho das Américas, no mês
passado, em Washington. O presidente continua acreditando que
a Alca sairá na data prevista." Valenzuela não quis comentar a referência ao Brasil.
O chanceler brasileiro, Luiz Felipe Lampreia, disse que, com cinco anos de antecedência, "nem
uma vidente" conseguiria fazer a
previsão de Daley.
"A Alca é uma negociação por
enquanto preliminar. Há uma série de incógnitas. Uma delas é a situação no Congresso norte-americano, outra são as negociações
da OMC e uma terceira é a prevalência do multilateralismo sobre o
regionalismo. Portanto, é muito
cedo para qualquer diagnóstico."
A Alca surgiu em 1994 com o
objetivo de eliminar as barreiras
alfandegárias entre os países americanos. O prazo mínimo para sua
formação está marcado para
2005.
Os EUA querem sua implementação imediata em 2005. Já o Brasil, alegando dificuldades de
adaptação de sua economia, quer
negociar melhor alguns itens da
agenda, embora culpe os EUA por
eventual atraso, já que o presidente Bill Clinton não conseguiu obter o "fast track" no Congresso
norte-americano.
O "fast track" é um dispositivo
por meio do qual deputados e senadores renunciam ao direito de
emendar acordos comerciais fechados pelo presidente, limitando-se a aprovar ou a rejeitar em
bloco esses acordos. O dispositivo
é visto pelos demais países americanos como essencial para que as
negociações com o governo dos
EUA tenham força.
Além de ameaçar o clima de otimismo que Clinton tentou vender
aos embaixadores americanos no
mês passado, as palavras de Daley
em Madri também contrariam
declaração entusiasmada sobre a
Alca feita pelo primeiro-ministro
do Canadá, Jean Chrétien.
A secretaria-geral da Alca está
hoje nas mãos do Canadá, um dos
países mais empenhados na implementação desse acordo. O Canadá também promoverá no próximo ano o terceiro "Encontro
das Américas", ocasião em que
deverão ficar expostas as dificuldades de implementação da Alca.
"O Brasil não quer assinar o
acordo com os Estados Unidos
sabendo que o Congresso americano poderá alterá-lo depois",
afirma Werter Faria, presidente
da Associação Brasileira de Estudos de Integração.
Para Faria, a formação da Alca
deixaria desprotegidas as economias mais fracas da região (Cuba
é o único a ficar de fora).
"A Alca, tal como concebida pelos americanos, tornaria outros
países da região área de caça para
as empresas americanas", diz
Paulo Nogueira Batista Júnior, da
Fundação Getúlio Vargas.
Colaborou Rogerio Wassermann, da
Redação
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