São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2000


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INTEGRAÇÃO
Secretário William Daley diz que prazo de 2005 só será cumprido se governo brasileiro agir de forma agressiva
EUA culpam o Brasil por atraso na Alca

MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A WINDSOR

O secretário de Comércio dos EUA, William Daley, disse ontem em Madri, na Espanha, que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) não deverá ser criada em sua data prevista, em 2005, porque o Brasil não está se esforçando como deveria.
"Se o Brasil não se tornar agressivo num determinado momento, não acho que vai acontecer", disse Daley. "A perspectiva de vermos uma área de comércio livre em 2005 é pouco realista", disse numa conferência sobre cooperação empresarial.
Foi a declaração pública mais clara e forte já feita por uma autoridade norte-americana responsabilizando o Brasil pelo atraso na implementação da Alca.
Horas depois, na Assembléia Geral da OEA em Windsor, no Canadá, o assessor do presidente Bill Clinton para a América Latina, Arturo Valenzuela, negou à Folha que os EUA tenham desistido da implementação da área de livre comércio em 2005.
"Não ouvi nem li as declarações de Daley, mas posso reafirmar as palavras do presidente Clinton ao Conselho das Américas, no mês passado, em Washington. O presidente continua acreditando que a Alca sairá na data prevista." Valenzuela não quis comentar a referência ao Brasil.
O chanceler brasileiro, Luiz Felipe Lampreia, disse que, com cinco anos de antecedência, "nem uma vidente" conseguiria fazer a previsão de Daley.
"A Alca é uma negociação por enquanto preliminar. Há uma série de incógnitas. Uma delas é a situação no Congresso norte-americano, outra são as negociações da OMC e uma terceira é a prevalência do multilateralismo sobre o regionalismo. Portanto, é muito cedo para qualquer diagnóstico."
A Alca surgiu em 1994 com o objetivo de eliminar as barreiras alfandegárias entre os países americanos. O prazo mínimo para sua formação está marcado para 2005.
Os EUA querem sua implementação imediata em 2005. Já o Brasil, alegando dificuldades de adaptação de sua economia, quer negociar melhor alguns itens da agenda, embora culpe os EUA por eventual atraso, já que o presidente Bill Clinton não conseguiu obter o "fast track" no Congresso norte-americano.
O "fast track" é um dispositivo por meio do qual deputados e senadores renunciam ao direito de emendar acordos comerciais fechados pelo presidente, limitando-se a aprovar ou a rejeitar em bloco esses acordos. O dispositivo é visto pelos demais países americanos como essencial para que as negociações com o governo dos EUA tenham força.
Além de ameaçar o clima de otimismo que Clinton tentou vender aos embaixadores americanos no mês passado, as palavras de Daley em Madri também contrariam declaração entusiasmada sobre a Alca feita pelo primeiro-ministro do Canadá, Jean Chrétien.
A secretaria-geral da Alca está hoje nas mãos do Canadá, um dos países mais empenhados na implementação desse acordo. O Canadá também promoverá no próximo ano o terceiro "Encontro das Américas", ocasião em que deverão ficar expostas as dificuldades de implementação da Alca.
"O Brasil não quer assinar o acordo com os Estados Unidos sabendo que o Congresso americano poderá alterá-lo depois", afirma Werter Faria, presidente da Associação Brasileira de Estudos de Integração.
Para Faria, a formação da Alca deixaria desprotegidas as economias mais fracas da região (Cuba é o único a ficar de fora).
"A Alca, tal como concebida pelos americanos, tornaria outros países da região área de caça para as empresas americanas", diz Paulo Nogueira Batista Júnior, da Fundação Getúlio Vargas.


Colaborou Rogerio Wassermann, da Redação


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