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OPINIÃO ECONÔMICA
Crescer e realizar
BENJAMIN STEINBRUCH
N ada é mais importante para pessoas, empresas e países
do que a busca constante e até obsessiva do crescimento e da realização.
No dia-a-dia do trabalho e mesmo na vida pessoal, nunca podemos perder a perspectiva da ação
indicada por essas palavras. Nas
decisões governamentais é crucial
o pensamento fixo no desenvolvimento da economia. Medidas recessivas, ainda que às vezes sejam
necessárias, interferem brutalmente na vida de empresas e de
milhões de pessoas. Provocam desemprego e sofrimento.
O governo da Argentina, por
exemplo, baixou na segunda-feira da semana passada um pacote
de medidas que deve ser um alerta para o Brasil. A principal decisão reduz de 12% a 15% os salários dos 140 mil funcionários públicos argentinos.
O corte, considerado corajoso,
atinge US$ 938 milhões e foi feito
como forma de buscar o equilíbrio em suas contas públicas. Para continuar tendo apoio da comunidade internacional, a Argentina precisa atingir uma meta
difícil, estabelecida pelo FMI, a de
terminar o ano com um déficit de
até US$ 4,7 bilhões. Nos quatro
primeiros meses do ano, o déficit
acumulado já alcançava a metade desse valor, o que exigiu medidas imediatas do governo do presidente De La Rúa.
É interessante observar a razão
pela qual a Argentina promove
uma redução de salários, medida
impensável para a realidade brasileira. A Argentina optou há
quase uma década por uma política de câmbio fixo. Por determinação legal, a moeda do país, o
peso, mantém-se estável em relação ao dólar na relação de um para um. Se o peso pudesse ser desvalorizado, o ajuste se faria sem
mudança nominal nos salários,
mas com perda real equivalente.
No setor privado, os salários já
vêm sendo naturalmente ajustados (para baixo) pelo mercado.
Mas, no setor público, o corte precisa ser feito por decisão governamental.
Não cabe discutir agora a política cambial argentina. Importa
observar que o pacote argentino
tem caráter recessivo. Há poucos
anos, medidas como essa tinham
pouca repercussão no Brasil. Agora, não. Depois da consolidação
do Mercosul, a Argentina transformou-se em um dos mais importantes parceiros comerciais
brasileiros e as decisões tomadas
em Buenos Aires têm efeito direto
na economia brasileira.
O corte que houve lá, ao provocar uma queda na atividade econômica da Argentina, vai levar
esse país a reduzir naturalmente
suas importações. É claro que o
impacto maior será sobre a própria economia argentina, mas
muitos empregos poderão ser perdidos também no Brasil, em setores que exportam parte de sua
produção para o país vizinho.
O pior dessa notícia é que ela
vem exatamente no momento em
que surgem os primeiros sinais de
que a recuperação da economia
brasileira começa a perder fôlego.
Na última quarta-feira, a Fiesp,
ao divulgar suas estatísticas mensais, mostrou que o nível de atividade da indústria paulista cresceu apenas 0,4% em abril, muito
abaixo da previsão das empresas.
Economistas que analisaram os
dados da Fiesp juntaram informações preliminares, colhidas em
maio em alguns setores da indústria, e concluíram que a retomada econômica parece ter diminuído consideravelmente seu ritmo.
Ou seja, a taxa de crescimento do
PIB para este ano, antes estimada
entre 4% e 5%, pode não ser alcançada.
Crescer a uma taxa razoável,
neste momento, é muito importante para o Brasil. Não pode o
país perder a oportunidade que se
apresenta de continuar a criar
empregos nos próximos anos e
atenuar seus problemas sociais.
Devemos continuar perseguindo uma redução gradual dos juros, para que tenhamos mais investimentos em produção e serviços, o que aumentará o número
de empregos. Isso fará com que
haja mais consumo, o que, por
sua vez, aumentará riqueza e os
impostos, e isso diminuirá a pesada divida social.
Benjamin Steinbruch, 46, empresário,
é presidente dos conselhos de administração da Valepar e da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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