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FINANÇAS
Em 3 dias de crise, dívida que vence no 1º trimestre de 2003 aumenta 76%
Crise com BC gera dívida monstro para novo governo
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em apenas três dias, o Banco Central aumentou a concentração da dívida do governo no mercado financeiro que vence no primeiro trimestre de 2003 em
76,2%. Ou seja, nos primeiros meses da administração do próximo presidente da República.
A transição tranquila para o próximo governo que vinha sendo elogiada pelo Tesouro Nacional nos últimos meses está sendo rapidamente modificada. O secretário do Tesouro, Eduardo Guardia, diz que os "espaços" disponíveis para melhorar a gestão atual da dívida devem ser utilizados.
Entre janeiro e março de 2003, venciam R$ 17,251 bilhões em títulos públicos de acordo com uma posição fechada em março deste ano.
Agora, com as trocas de LFTs (Letras Financeiras do Tesouro, títulos com correção baseada na taxa de juros básica) que venciam entre 2004 e 2006 por outros com vencimento mais curto, o governo aumentou a rolagem no primeiro trimestre de 2003 em R$
13,150 bilhões.
Na segunda-feira foram trocados R$ 2,25 bilhões e ontem, mais
R$ 10,9 bilhões. Com essa troca, o
governo atendeu às pressões dos
investidores que, preocupados
com as incertezas e especulações
provocadas pelo cenário eleitoral,
querem títulos com prazo menor.
Incertezas
Esse cenário acabou gerando,
para os investidores, incertezas
em relação aos rumos da economia.
De janeiro a abril deste ano, o
Tesouro Nacional emitiu R$ 63
bilhões em títulos, mas retirou do
mercado R$ 66,5 bilhões, deixando portanto de rolar cerca de R$
3,5 bilhões.
Apesar de o Tesouro dizer que
possui cerca de R$ 52 bilhões em
caixa para recomprar títulos
-caso o mercado financeiro peça taxas muito altas no processo
de rolagem-, esse instrumento
tem eficácia limitada.
É que, ao deixar o mercado
cheio de dinheiro, o governo faz
com que o preço do dinheiro, ou
seja a taxa de juros, caia. E a meta
do BC é manter a taxa em 18,5%
ao ano.
Para retirar o dinheiro do mercado, o BC pode fazer operações
de curto prazo e até vender títulos
de sua própria carteira. Mas, dependendo do volume, o "enxugamento" pode demorar, afetando a
rolagem de outros títulos. Ou seja,
o BC passa a competir com o Tesouro na venda de títulos.
O "colchão" de R$ 52 bilhões é
justamente o dinheiro de tributos
que vem sendo economizado ao
longo dos últimos anos para pagar juros. Segundo Guardia, o colchão será usado "no momento
oportuno".
Além da redução do prazo, a dívida do governo no mercado
-que era de R$ 626,32 bilhões no
final de abril- está sofrendo um
aumento do custo. O último leilão
de LTNs (Letras do Tesouro Nacional, títulos com correção prefixada) teve taxa média de 19,45%
ao ano e apenas metade do lote foi
vendida.
Guardia diz que o governo não
está tendo dificuldade para rolar a
sua dívida. Ele não respondeu,
porém, se os problemas vividos
agora pelos fundos de investimento teriam sido agravados pela
decisão do governo de vender títulos corrigidos pela taxa básica
de juros vinculados a contratos de
câmbio (em abril).
Para ele, essa venda cumpriu seu papel para o momento em que foi criada, reduzindo os custos de rolagem da dívida pública.
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