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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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ESTAGNAÇÃO

Números mostram que vendas caíram 5,28% em abril em relação ao mesmo mês do ano passado

CNI vê a indústria parada e culpa juros

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Sufocada por juros altos e estagnação do consumo interno, a indústria vendeu 5,28% menos em abril de 2003 em relação ao mesmo período de 2002, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria). Trata-se da maior queda desde maio do ano passado (-7,31%) em igual tipo de comparação. Em março, as vendas haviam crescido 0,06%.
Segundo Flávio Castello Branco, economista da CNI, o resultado "mostra claramente o impacto da política monetária restritiva" -ou seja, de juros altos. Ao falar das vendas, afirmou que a retração é ainda mais expressiva porque a base de comparação é fraca. No início de 2002, o setor ainda sofria os efeitos do racionamento de energia.
Outro sinal de piora do nível de atividade econômica é a redução da utilização da capacidade instalada das fábricas. O indicador ficou em 79,7% em abril -havia sido de 80,8% em abril de 2002.
A principal causa para a retração nas vendas, disse Castello Branco, é o fato de o consumo interno estar parado. Dois são os motivos da estagnação: a queda do rendimento, que perdura há mais de dois anos, e a restrição e o encarecimento do crédito, reflexo do juro elevado.

Renda
Em abril, a renda do trabalhador industrial caiu: o salário líquido real (descontada a inflação) ficou 7,72% menor do que no mesmo período de 2002.
Para o economista Luís Fernando Cezario, o efeito retardado dos aumentos de juros no final do ano passado e no início deste ano começou a ser sentido com mais força em abril. Com o aperto no crédito, tanto os investimentos dos industriais como as vendas financiadas ficam comprometidas.
Para Castello Branco, "há uma contínua trajetória de desaceleração da economia". Prova disso é que os resultados acumulados no ano estão cedendo. Até março, as vendas somavam alta de 4,62%. O percentual acumulado até abril ficou em 1,96%.

Gastos
Ao comentar a retração das vendas, Cezario afirmou: "O consumidor não tem renda e acaba cortando gastos. Além disso, os juros altos e o desemprego criam um receio de contrair financiamentos para a compra de bens".
Segundo Castello Branco, as exportações e o agronegócio, que vinham sustentando a indústria, não têm conseguido compensar a restrição cada vez maior do consumo das famílias, que representa 60% do PIB.
Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB, concorda: "As fontes de crescimento da indústria estão se esgotando".
Tanto Castello Branco como Abate afirmam que uma recuperação do setor dependerá da intensidade da queda da taxa de juro -hoje em 26,5% ao ano. A reação, dizem, deve começar em agosto -isso se a Selic for reduzida já neste mês. Mas só será mais firme no último trimestre do ano.


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