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Novo dono da Varig não herdará dívida trabalhista, diz juiz
Responsável pelo processo de recuperação judicial da companhia determina que comprador não correrá risco de arcar com passivo
Objetivo da decisão é dar segurança a investidores, mas a avaliação de advogados é que risco de sucessão permanece
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O juiz Luiz Roberto Ayoub,
da 8ª Vara Empresarial, responsável pelo processo de recuperação da Varig, determinou ontem que o novo dono da
companhia aérea não deverá
herdar as dívidas trabalhistas.
Uma parte da Varig será vendida em leilão na quinta-feira.
Não é a primeira vez em que
o juiz Ayoub apresenta decisão
referente à sucessão de dívidas
da Varig. Em 15 de maio, Ayoub
já havia determinado que não
haveria sucessão de dívida tributária. As dívidas totais da Varig somam R$ 7,9 bilhões, de
acordo com o último balanço.
As decisões do Tribunal de
Justiça do Rio procuram trazer
mais segurança para os investidores interessados em comprar
uma parcela da Varig em leilão,
mas podem ser revertidas em
instâncias superiores.
Na quinta-feira, a companhia
será ofertada a investidores de
acordo com dois modelos de
venda. O primeiro oferece a Varig Operações, que reúne linhas
domésticas e internacionais,
isenta de dívidas, com lance mínimo de US$ 860 milhões.
O segundo modelo prevê a
oferta da Varig Regional, com
linhas domésticas e lance mínimo de US$ 700 milhões. A decisão do juiz garante que nos dois
modelos de venda a parcela
ofertada a investidores está
isenta de dívidas.
Inicialmente o leilão deveria
ocorrer no dia 9 de julho, mas o
agravamento da situação do
caixa da Varig levou a uma antecipação para o dia 5 de junho.
As dúvidas dos investidores
com um edital concluído às
pressas e com a segurança jurídica da operação levaram a um
adiamento para o dia 8.
Existia o temor de que a empresa fosse vendida a preço vil
ou de que ninguém se interessasse e o juiz fosse obrigado a
declarar a falência da empresa.
Segundo o juiz, o propósito
da lei de recuperação judicial é
criar um cenário atrativo para
garantir e estimular o surgimento do crédito. A companhia
seria menos atraente para os
investidores caso eles tivessem
que arcar com as dívidas. "Se isso acontecesse, acarretaria
uma desvalorização dos ativos
postos à alienação, criando um
quadro desfavorável à aquisição por parte de investidores."
Segundo Marcelo Gomes, diretor da consultoria Alvarez &
Marsal, que atua como reestruturadora da Varig, a decisão de
Ayoub deve trazer tranqüilidade aos investidores. "É muito
importante, os investidores tinham dúvidas em relação às dívidas trabalhistas", disse.
Na avaliação de Selma Balbino, presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, a motivação do juiz foi dar conforto ao
comprador. "Prefiro acreditar
que o juiz fez isso para salvar a
empresa, pretendo analisar essa decisão com muito cuidado."
Ceticismo
Advogados de credores ouvidos pela Folha encararam com
ceticismo a decisão de Ayoub.
De acordo com eles, não é da
competência do juiz tomar
uma decisão como essa.
A avaliação é que, se no futuro um credor resolver cobrar o
passivo do comprador da Varig,
pode encontrar uma posição
favorável em juízes de outras
instâncias. A nova Lei de Falências, na qual a recuperação
judicial da Varig está amparada, permite que uma parte da
empresa, classificada como
"unidade isolada produtiva",
possa ser vendida sem que o
comprador herde dívidas.
É o que acontecerá no leilão
da próxima quinta-feira. O problema é que pode haver diferentes interpretações para o
que se encaixa nessa definição
de "unidade produtiva isolada"
-algumas dizem que as operações da Varig não entrariam.
Nesse sentido, um possível
comprador das operações da
Varig, apesar de a princípio ter
comprado uma empresa "blindada", correria risco de sofrer
ações de credores no futuro.
O primeiro modelo de venda
da Varig (linhas domésticas e
internacionais) traz um risco
ainda maior de sucessão, de
acordo com advogados.
Colaborou MAELI PRADO , da Reportagem Local
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