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Temor de dívida deve diminuir safra de trigo
Clima seco também contribui para
agricultor reduzir a área plantada
Produção nacional será
menor exatamente em um
período em que as cotações
do cereal estão em alta no
mercado internacional
MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL AO PARANÁ
O cenário para o trigo não será bom neste ano, tanto para os
produtores como para os consumidores. Após ter atingido a
produção de 6 milhões de toneladas em 2004, as estimativas
indicam safra de apenas 3,6 milhões para este ano, segundo
prevê o Deral, do Paraná, e a
Fecoagro, do Rio Grande do
Sul. Os dois Estados são líderes
na produção nacional. Algumas
estimativas, mais pessimistas,
apontam safra próxima de 3
milhões de toneladas.
O produtor põe o pé no freio
na produção exatamente em
um período em que o trigo está
em alta no mercado externo, o
que pode indicar a recuperação
dos preços internos.
Outro fator favorável aos
produtores é a redução do volume e a elevação das alíquotas
sobre o produto exportado pela
Argentina -principal fornecedor do Brasil. A alta dos preços
no país vizinho daria sustentação aos preços no Brasil.
Essa movimentação dos preços para cima vai recair no bolso dos consumidores, com alta
nos preços do pão, da farinha e
das massas.
Nada disso, no entanto, atrai
o produtor. Clima ruim e preocupação com as dívidas acumuladas nas últimas safras forçaram a redução de pelo menos
30% a área de produção no norte do Paraná, na avaliação de
Carlos Roberto Furlan, produtor e fornecedor de insumos.
A fuga do agricultor do trigo
se deve ao medo de acumular
mais dívidas às que já tem. O
clima seco fez o produtor perder o tempo considerado ideal
de plantio pelo governo, que é
até 10 de maio, e os produtores
ficaram sem o direito ao Proagro, uma garantia contra geadas e chuvas na colheita.
Os problemas não se resumem apenas ao norte do Paraná, mas também a outras regiões do Estado. José Pitoli, do
noroeste, diz que 70% da área
para o trigo já foi semeada no
Estado, mas que, nas condições
atuais, a produção fica abaixo
de 2 milhões de toneladas.
Além do clima desfavorável,
Pitoli aponta outro problema
sério: a falta de sementes de
qualidade, devido ao excesso de
chuvas na colheita de 2005.
Clima desfavorável, semente
de qualidade inferior, pouca
adubação e redução dos tratos
ideais na preparação e acompanhamento da safra formam os
fatores ideais para a quebra de
safra, afirma ele.
Preço mínimo
Para diminuir os efeitos da
crise atual que assola a agricultura e incentivar a produção de
trigo, algumas cooperativas e
fornecedoras de insumos do
Paraná estão garantindo o preço mínimo por saca.
Segundo Pitoli, da Coopermibra, de Campo Mourão,
quando o produtor comprou os
insumos, já teve garantidos R$
24 por saca para o produto a ser
entregue em agosto.
Mesmo com essas garantias,
o produtor corre perigo de não
repor os gastos. Dependendo
da região, os custos de produção vão de 70 a 80 sacas por
hectare e a média de produção
fica abaixo de 90 sacas.
Furlan cita o exemplo do ano
passado, quando teve de pôr R$
400 do bolso, por alqueire, para
equilibrar gastos e ganhos com
a cultura do trigo.
Nem mesmo o pacote agrícola do governo anima Furlan.
"Existe verba, mas o agricultor
perdeu a capacidade de pagamento devido aos sucessivos
problemas que vem tendo desde 2004."
"A situação é preocupante."
O alerta vem de Otmar Hubner,
especialista em trigo do Deral
(Departamento de Economia
Rural) do Paraná.
Na avaliação de Hubner, a
área de plantio do Paraná caiu
para 992 mil hectares, com redução de 22% em relação à do
ano passado. A produção recua
para 2,32 milhões de toneladas,
com queda de 17%.
No Rio Grande do Sul, a área
diminui em 15%, para 717 mil
hectares, e a safra fica em 1,29
milhão de toneladas -a anterior tinha sido de 1,39 milhão
de toneladas. Os dados são da
Fecoagro, que incorpora 35
cooperativas do Estado.
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