São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2006

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Temor de dívida deve diminuir safra de trigo

Clima seco também contribui para agricultor reduzir a área plantada

Produção nacional será menor exatamente em um período em que as cotações do cereal estão em alta no mercado internacional

MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL AO PARANÁ

O cenário para o trigo não será bom neste ano, tanto para os produtores como para os consumidores. Após ter atingido a produção de 6 milhões de toneladas em 2004, as estimativas indicam safra de apenas 3,6 milhões para este ano, segundo prevê o Deral, do Paraná, e a Fecoagro, do Rio Grande do Sul. Os dois Estados são líderes na produção nacional. Algumas estimativas, mais pessimistas, apontam safra próxima de 3 milhões de toneladas.
O produtor põe o pé no freio na produção exatamente em um período em que o trigo está em alta no mercado externo, o que pode indicar a recuperação dos preços internos.
Outro fator favorável aos produtores é a redução do volume e a elevação das alíquotas sobre o produto exportado pela Argentina -principal fornecedor do Brasil. A alta dos preços no país vizinho daria sustentação aos preços no Brasil.
Essa movimentação dos preços para cima vai recair no bolso dos consumidores, com alta nos preços do pão, da farinha e das massas.
Nada disso, no entanto, atrai o produtor. Clima ruim e preocupação com as dívidas acumuladas nas últimas safras forçaram a redução de pelo menos 30% a área de produção no norte do Paraná, na avaliação de Carlos Roberto Furlan, produtor e fornecedor de insumos.
A fuga do agricultor do trigo se deve ao medo de acumular mais dívidas às que já tem. O clima seco fez o produtor perder o tempo considerado ideal de plantio pelo governo, que é até 10 de maio, e os produtores ficaram sem o direito ao Proagro, uma garantia contra geadas e chuvas na colheita.
Os problemas não se resumem apenas ao norte do Paraná, mas também a outras regiões do Estado. José Pitoli, do noroeste, diz que 70% da área para o trigo já foi semeada no Estado, mas que, nas condições atuais, a produção fica abaixo de 2 milhões de toneladas.
Além do clima desfavorável, Pitoli aponta outro problema sério: a falta de sementes de qualidade, devido ao excesso de chuvas na colheita de 2005.
Clima desfavorável, semente de qualidade inferior, pouca adubação e redução dos tratos ideais na preparação e acompanhamento da safra formam os fatores ideais para a quebra de safra, afirma ele.

Preço mínimo
Para diminuir os efeitos da crise atual que assola a agricultura e incentivar a produção de trigo, algumas cooperativas e fornecedoras de insumos do Paraná estão garantindo o preço mínimo por saca.
Segundo Pitoli, da Coopermibra, de Campo Mourão, quando o produtor comprou os insumos, já teve garantidos R$ 24 por saca para o produto a ser entregue em agosto.
Mesmo com essas garantias, o produtor corre perigo de não repor os gastos. Dependendo da região, os custos de produção vão de 70 a 80 sacas por hectare e a média de produção fica abaixo de 90 sacas.
Furlan cita o exemplo do ano passado, quando teve de pôr R$ 400 do bolso, por alqueire, para equilibrar gastos e ganhos com a cultura do trigo.
Nem mesmo o pacote agrícola do governo anima Furlan. "Existe verba, mas o agricultor perdeu a capacidade de pagamento devido aos sucessivos problemas que vem tendo desde 2004."
"A situação é preocupante." O alerta vem de Otmar Hubner, especialista em trigo do Deral (Departamento de Economia Rural) do Paraná.
Na avaliação de Hubner, a área de plantio do Paraná caiu para 992 mil hectares, com redução de 22% em relação à do ano passado. A produção recua para 2,32 milhões de toneladas, com queda de 17%.
No Rio Grande do Sul, a área diminui em 15%, para 717 mil hectares, e a safra fica em 1,29 milhão de toneladas -a anterior tinha sido de 1,39 milhão de toneladas. Os dados são da Fecoagro, que incorpora 35 cooperativas do Estado.


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