|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Importar café para exportar
traz novo estímulo ao setor
Especialistas estimam que mecanismo poderá elevar as exportações brasileiras
"Drawback" abre a chance de novas fábricas virem a se instalar no país de olho na obtenção de misturas, ou "blends" para exportação
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nem crédito nem renegociação de dívidas. O que o setor de
café mais celebrou no último
pacote para a agricultura lançado pelo governo foi a ampliação
do regime de "drawback". O
mecanismo, estimam especialistas, poderá elevar a agressividade brasileira e alçar o país de
maior produtor mundial a
principal plataforma de exportação do produto.
O mecanismo permite a importação de produtos isentos
de impostos quando o resultado final for destinado à exportação. Hoje, algodão, camarão,
frango, frutas e carne suína gozam dessa possibilidade e, no
pacote agrícola, o governo promete estendê-la a todos os produtos do agronegócio.
"Esse é o grande passo. O
"drawback" vai permitir que o
Brasil se torne a grande plataforma exportadora mundial.
Quem faz isso hoje são os países
consumidores, como a Itália",
diz Mauro Malta, diretor-executivo da Associação Brasileira
da Indústria de Café Solúvel.
Escaldado pela aguda crise
de 2000 a 2003, o setor brasileiro quer, em um primeiro momento, evitar a perda de mercado no exterior. Se ocorrer uma
quebra de safra nacional, eles
poderiam importar café da Colômbia, por exemplo, e revender para honrar contratos.
A Federacafé (Federación
Nacional de Cafeteros de Colombia) já estima vender 600
mil sacas anuais do produto para o Brasil, mas a Abics diz que é
cedo. Está próximo, porém, o
dia em que a indústria nacional
apelará a grãos do exterior.
"Hoje, 90% do mercado mundial é feito de misturas de cafés
de diferentes países", analisa
Carlos Bernardo, do CIC (Centro de Inteligência do Café).
Atualmente, o Brasil não
compete com outros países
consumidores, como Itália e
Alemanha, porque o custo para
trazer o grão de outro país e
misturá-lo aqui com o café nacional encarece o preço final. O
"drawback" abre a chance de
novas fábricas se instalarem no
país de olho na obtenção de
misturas, ou "blends", como
são chamadas.
Polêmica no setor
Até o ano passado, nem mesmo os diversos ramos ligados
ao café se entendiam sobre o
"drawback". Quem lidava com
café solúvel queria, mas os produtores eram contra -até sentarem-se à mesma mesa e concordarem em regras fitossanitárias e salvaguardas comerciais para proteger a safra nacional em casos de crise.
De acordo com o Ministério
da Agricultura, o projeto de extensão do "drawback" deve ser
encaminhado à Camex (Câmara de Comércio Exterior) nas
próximas semanas.
"Está mais do que em tempo
de esse mecanismo ser possível. O importante é inserir o
Brasil no mercado mundial.
Hoje em dia, não exportamos
mais café porque não fazemos
"drawback". Isso vai aumentar a
competitividade", disse Nathan
Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira de Indústria do Café).
Segundo a professora da USP
Sylvia Saes, a participação do
café brasileiro no mercado
eterno aumenta em termos absolutos, mas cai relativamente.
Ou seja, vende-se mais café,
mas a porcentagem brasileira
no ranking mundial vem diminuindo desde 1997.
Mas ainda haveria tempo de
virar a partida. "Temos condições de competir com o custo,
faltam melhores resultados por
não conhecermos bem outros
mercados", explica Saes.
Por enquanto, o que governo
vem se esforçando para conseguir é o uso de alguns países da
América Central e do Caribe
como plataforma de exportação do produto para os EUA.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Chegada de grandes redes deve aumentar consumo brasileiro Índice
|