São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2008

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Baixa renda tem inflação recorde

Índice de maio foi de 1,38%, puxado pelo reajuste dos alimentos; em 12 meses, aumento é de 8,24%

Por causa do expressivo aumento, a FGV defende o uso do índice para reajustar o valor do Bolsa Família, em discussão pelo governo


DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Pressionada pelos alimentos, que subiram 2,85%, a inflação para a baixa renda passou de 0,97% em abril para 1,38% em maio. No ano, o acumulado chega a 6,84% e, em 12 meses, a 8,24%. Os números são os maiores desde o início da série histórica do IPC-C1 (Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1), em 2004.
Com o resultado, aumentou a distância entre o índice que mede a inflação para as famílias com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos e aqueles mais amplos, que têm como referência o consumo de parcelas maiores da população. E a tendência, segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas), é que a diferença cresça ainda mais.
"A cesta de consumo dos pobres é muito diferente da do resto da população", afirma o economista Marcelo Nery, da FGV. Segundo ele, a baixa renda é a que mais sente a alta dos preços de produtos da cesta básica, como arroz (15,55%), batata (18,47%) e pão francês (6,60%), que impulsionaram a inflação em maio.
"Os pobres comprometem em média 40% de sua renda com a alimentação, e isso é captado pelo IPC-C1", diz Nery. "No IPC-BR, os alimentos têm peso de cerca de 28%", informa, a título de comparação. O IPC-BR mede a inflação para famílias com renda até 33 salários mínimos -as altas foram de 0,87% em maio e de 5,59% no acumulado em 12 meses, bem menor do que a verificada no índice da baixa renda.
Por causa dessas diferenças, a FGV defende o uso do IPC-C1 para o reajuste do Bolsa Família, em discussão pelo governo. No início da semana, o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, disse ser favorável à correção de 6% no benefício, que, segundo ele, seria suficiente para recompor o poder de compra das famílias beneficiadas.
Para André Braz, economista da FGV, o governo deveria usar o IPC-C1 como referência, já que o índice é específico para a baixa renda, público-alvo do programa. ""É um mecanismo de correção mais justo."
Para justificar sua posição, ele fez duas simulações -uma com o IPC-C1 e outra com o INPC, índice medido pelo IBGE com base em famílias com renda mensal entre 1 e 6 mínimos e utilizado pelo governo como referência para o último reajuste do Bolsa Família.
Segundo esses cálculos, o benefício reajustado pelo IPC-C1 acumulado até abril seria de R$ 61,93, contra R$ 61,27 pelo INPC do mesmo período. Hoje, a bolsa básica é de R$ 58.
"Por enquanto a diferença [entre a aplicação dos dois índices] é de apenas alguns centavos, mas tende a aumentar", diz. O motivo, segundo ele, é a continuidade do aumento da inflação dos alimentos. "Até agora vínhamos contando com o amortecedor do câmbio, mas esse componente não deve permanecer", explica, fazendo referência à desvalorização do dólar, que diminuiu os efeitos da alta internacional de preços no mercado interno nos últimos tempos. Entre 2004 e 2006, o impacto dos alimentos na inflação foi decrescente.
Ele acredita que, pelo menos no curto prazo, os preços desses produtos continuarão a subir com força. "Já verificamos aumentos no atacado que ainda não foram repassados para o varejo. É possível que o acumulado em 12 meses [do IPC-C1] chegue a dois dígitos já no mês que vem. O prognóstico é preocupante."


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