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Baixa renda tem inflação recorde
Índice de maio foi de 1,38%, puxado pelo reajuste dos alimentos; em 12 meses, aumento é de 8,24%
Por causa do expressivo aumento, a FGV defende o uso do índice para reajustar o valor do Bolsa Família,
em discussão pelo governo
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Pressionada pelos alimentos,
que subiram 2,85%, a inflação
para a baixa renda passou de
0,97% em abril para 1,38% em
maio. No ano, o acumulado
chega a 6,84% e, em 12 meses, a
8,24%. Os números são os
maiores desde o início da série
histórica do IPC-C1 (Índice de
Preços ao Consumidor - Classe
1), em 2004.
Com o resultado, aumentou a
distância entre o índice que
mede a inflação para as famílias
com renda entre 1 e 2,5 salários
mínimos e aqueles mais amplos, que têm como referência
o consumo de parcelas maiores
da população. E a tendência, segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas), é que a diferença
cresça ainda mais.
"A cesta de consumo dos pobres é muito diferente da do
resto da população", afirma o
economista Marcelo Nery, da
FGV. Segundo ele, a baixa renda é a que mais sente a alta dos
preços de produtos da cesta básica, como arroz (15,55%), batata (18,47%) e pão francês
(6,60%), que impulsionaram a
inflação em maio.
"Os pobres comprometem
em média 40% de sua renda
com a alimentação, e isso é captado pelo IPC-C1", diz Nery.
"No IPC-BR, os alimentos têm
peso de cerca de 28%", informa,
a título de comparação. O IPC-BR mede a inflação para famílias com renda até 33 salários
mínimos -as altas foram de
0,87% em maio e de 5,59% no
acumulado em 12 meses, bem
menor do que a verificada no
índice da baixa renda.
Por causa dessas diferenças,
a FGV defende o uso do IPC-C1
para o reajuste do Bolsa Família, em discussão pelo governo.
No início da semana, o ministro
do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, Patrus Ananias, disse ser favorável à correção de 6% no benefício, que, segundo ele, seria suficiente para
recompor o poder de compra
das famílias beneficiadas.
Para André Braz, economista
da FGV, o governo deveria usar
o IPC-C1 como referência, já
que o índice é específico para a
baixa renda, público-alvo do
programa. ""É um mecanismo
de correção mais justo."
Para justificar sua posição,
ele fez duas simulações -uma
com o IPC-C1 e outra com o
INPC, índice medido pelo
IBGE com base em famílias
com renda mensal entre 1 e 6
mínimos e utilizado pelo governo como referência para o último reajuste do Bolsa Família.
Segundo esses cálculos, o benefício reajustado pelo IPC-C1
acumulado até abril seria de R$
61,93, contra R$ 61,27 pelo
INPC do mesmo período. Hoje,
a bolsa básica é de R$ 58.
"Por enquanto a diferença
[entre a aplicação dos dois índices] é de apenas alguns centavos, mas tende a aumentar",
diz. O motivo, segundo ele, é a
continuidade do aumento da
inflação dos alimentos. "Até
agora vínhamos contando com
o amortecedor do câmbio, mas
esse componente não deve permanecer", explica, fazendo referência à desvalorização do
dólar, que diminuiu os efeitos
da alta internacional de preços
no mercado interno nos últimos tempos. Entre 2004 e
2006, o impacto dos alimentos
na inflação foi decrescente.
Ele acredita que, pelo menos
no curto prazo, os preços desses produtos continuarão a subir com força. "Já verificamos
aumentos no atacado que ainda
não foram repassados para o
varejo. É possível que o acumulado em 12 meses [do IPC-C1]
chegue a dois dígitos já no mês
que vem. O prognóstico é preocupante."
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