São Paulo, sábado, 06 de junho de 2009

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Brasil restringe vendas à Argentina em mais 4 setores

Exportações de freios, embreagens, calçados e móveis cairão entre 19% e 40%; comércio bilateral se retraiu 36% no ano

De 12 setores que são objeto de negociação entre os países, Brasil já cedeu em 6, contra uma concessão da Argentina, no leite em pó


Silva Junior/Folha Imagem
Linha de produção de calçados em Franca (SP); setor limitará vendas à Argentina até 2011

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

A última rodada de negociações entre empresários de Brasil e Argentina, que procuram amenizar a queda de 36% no comércio bilateral neste ano, terminou ontem em Buenos Aires com concessões brasileiras em quatro setores: freios, embreagens, calçados e móveis.
Empresários brasileiros aceitaram reduzir exportações à Argentina desses itens. Os cortes vão de 19% (calçados) a 40% (embreagens) em relação aos embarques de 2008.
As conversas, iniciadas em março, são promovidas pelos governos como forma de enfrentar o mau momento da relação comercial, com acusações mútuas de protecionismo.
Até agora predominam as autorrestrições brasileiras, em meio a um momento adverso para o Brasil no comércio exterior, com exportações em queda (-22% no ano) e real em alta. Dos 12 setores em negociação, há concessões do Brasil em 6 -além dos acordos fechados ontem, já houve restrições em papel e baterias.
Leite em pó é o único item com concessão argentina. As importações de leite em pó argentino subiram 285% no primeiro trimestre do ano, o que fez a indústria brasileira de laticínios denunciar o país por dumping (venda a preços inferiores ao custo).
Há também cinco setores que ainda não chegaram a acordo. Os brasileiros querem limitar as vendas argentinas de vinhos e farinha de trigo, enquanto os vizinhos procuram restringir as exportações brasileiras de têxteis, tornos mecânicos e linha branca (geladeiras, TVs, entre outros).

Reclamações
As principais queixas do empresariado brasileiro em relação à Argentina são a demora na liberação de licenças de importação -que atingem 14% das vendas- e o aumento nas importações de fornecedores externos ao Mercosul, o chamado desvio de comércio.
"Não é um mau acordo, mas o possível", diz o presidente do Sindipeças, Paulo Butori, sobre a redução de 30% nas exportações de freios. Em embreagens, o acordo prevê redução de 40% nas vendas, mas só para modelos com similar na Argentina.
O setor calçadista aceitou limitar suas vendas em 15 milhões de pares por ano até 2011 -em 2008, vendeu 18,5 milhões de pares. "Não é uma decisão fácil, sobretudo para quem se esforçou para inserir sua marca na Argentina", afirma o diretor-executivo da Abicalçados, Heitor Klein.
Em móveis de madeira, o Brasil reduzirá suas exportações à Argentina em 35%. "Mais vale um mau acordo do que um péssimo", diz José Luiz Fernandez, da Abimóvel.
As negociações devem continuar ainda neste mês, com rodadas dos setores de celulares, pneus e aerossóis.
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, negou que a as negociações entre empresários sejam uma forma de os governos transferirem o protecionismo ao setor privado. "É uma situação de excepcionalidade causada pela crise."
Ainda ontem, a Argentina confirmou que não exportará trigo ao Brasil neste ano.


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