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OPINIÃO ECONÔMICA
Viés de baixa para os juros, de alta para o dólar
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O economista , caro leitor, é
um ser eminentemente infeliz. Veja o meu caso, por exemplo.
Durante anos, avisei que o Brasil
havia tomado um rumo errado.
Fui tratado de Cassandra para
baixo. Veio a crise em 1998-99, os
vaticínios se confirmaram e poucos me agradeceram por isso.
Agora as perspectivas da economia melhoraram, mas a opinião
pública não quer acreditar. Estive
ontem no programa de televisão
da Maria Lydia aqui em São Paulo. As minhas previsões de recuperação da economia foram recebidas a patadas por alguns telespectadores.
Um pequeno sintoma de como é
grande a insatisfação da população com o governo e de como é
baixa, talvez irrecuperavelmente
baixa, a credibilidade dos economistas no Brasil.
Mas não era propriamente sobre isso que eu queria falar hoje.
Queria era voltar a tratar de juros
e câmbio. As expectativas mais
favoráveis para a economia estão
condicionadas, em larga medida,
à possibilidade de seguir a orientação indicada no título deste artigo. Juros menores reduziriam o
custo da dívida pública interna e
estimulariam a recuperação da
economia e do emprego, além de
provocar a desejada depreciação
cambial.
O pensamento ortodoxo resiste,
em geral, à diminuição das taxas
de juro. Olavo Setúbal, do Banco
Itaú, por exemplo, sustenta que o
Banco Central tem que ser visto
como guardião da moeda, e não
como indutor do desenvolvimento.
Tem razão o importante banqueiro. Porém o Banco Central
também não deve, em nome da
defesa da moeda, sufocar o crescimento da economia. No Brasil,
taxas de juro anormalmente elevadas e uma bateria de restrições
à expansão do crédito interno
funcionam como freio permanente ao desenvolvimento.
Está ficando cada vez mais evidente que, salvo uma deterioração abrupta do quadro nacional
ou internacional, há espaço e motivos para continuar diminuindo
os juros.
Menos clara é a necessidade de
uma depreciação adicional, mesmo moderada, da taxa de câmbio. Muitos se impressionam com
o tamanho da desvalorização do
real em relação ao dólar desde janeiro de 1999 (cerca de 50% em
termos nominais).
Não há dúvida de que a desvalorização foi expressiva. Os seus
efeitos positivos sobre as contas
externas ainda não se esgotaram.
Mesmo assim, alguma depreciação adicional é recomendável.
Isso por vários motivos. Eis alguns
deles:
Primeiro, o superávit da balança comercial tem ficado bem
abaixo do previsto. Em consequência, continuam altos demais
o déficit em conta corrente, a dependência em relação a capitais
externos e a vulnerabilidade da
economia.
Segundo, a retomada do crescimento tende a pressionar o saldo
comercial. Com a expansão do
economia, cresce a procura por
importações. Além disso, o aquecimento da demanda doméstica
tende a induzir as empresas a redirecionar vendas do mercado
externo para o interno.
Terceiro, como a inflação brasileira é significativamente maior
do que a dos seus principais parceiros comerciais, a mera estabilização do câmbio nominal resultará em valorização do câmbio
em termos reais.
Finalmente, como o euro caiu
fortemente em relação ao dólar, a
desvalorização efetiva do real é
menor do que às vezes se imagina. Segundo a Fundação Centro
de Estudos de Comércio Exterior
(Funcex), entre dezembro de 1998
e maio de 2000, a moeda brasileira registrou uma apreciação de
6% em termos reais relativamente a uma cesta de seis moedas européias. Como os mercados europeus são muito importantes para
o Brasil, essa apreciação retarda a
recuperação das nossas contas externas.
Por esses e outros motivos, é recomendável que a política do
Banco Central seja orientada por
um duplo viés: de baixa para os
juros, de alta para o dólar.
Ou será que o partido do juro
alto e do câmbio forte já não fez
estrago suficiente neste país?
Paulo Nogueira Batista Jr., 45, economista e professor da Fundação Getúlio
Vargas-SP, escreve às quintas-feiras nesta coluna.
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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