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CONJUNTURA
Presidente diz que não é preciso novo acordo
FHC nega sondagem ao FMI e vê "tranquilidade" até dezembro
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
O presidente Fernando Henrique Cardoso não tem conhecimento nem acha necessário tentar, com o FMI (Fundo Monetário
Internacional), um acordo para
garantir a transição para o próximo governo.
"Acho que temos condições,
com o acordo existente, de chegar
até o fim do governo com tranquilidade", disse o presidente, em
improvisada entrevista coletiva
ao deixar ontem à tarde a residência oficial do governo argentino, a
Quinta de Olivos, ao norte de
Buenos Aires.
O comentário de FHC foi em
resposta a perguntas sobre a informação do jornal "Valor Econômico", na edição de ontem, segundo a qual "o governo brasileiro já fez uma sondagem que foi
bem recebida pelo FMI sobre a
possibilidade de obter, se necessário, um novo acordo -o atual
termina dia 13 de dezembro-,
que dê tranquilidade à transição
de poder, a exemplo do que fez a
Coréia em 1997".
O presidente negou que tivesse
sido feita a consulta ou que pudesse vir a fazê-la para o futuro
governo. "Futuro governo é futuro governo, não sou eu", respondeu o presidente.
Acrescentou, de todo modo,
que não daria "nenhum passo
nessa direção sem saber a opinião
pelo menos dos candidatos".
A Folha insistiu: "O sr. vai consultá-los a esse respeito?".
O presidente respondeu que
não acha necessário, "neste momento", e fez então o comentário
de que, com o acordo vigente, há
condições de chegar até o fim do
governo "com tranquilidade".
Tranquilidade é, evidentemente, um pouco de exagero de FHC,
tanto que ele aproveitou as três
oportunidades em que falou de
público para tocar no seu tema internacional favorito, as carências
do sistema financeiro internacional e da governança global.
Lamentou, por exemplo, que
falte "muita agressividade no financiamento internacional".
Completou: "Está todo [o financiamento" nas mãos do setor privado, que se encolhe ao primeiro
susto".
A redução no financiamento,
público ou privado, a países como
o Brasil (para não falar do quadro
argentino, bem mais grave) é certamente um problema que reduz
ou até elimina a tranquilidade para chegar ao fim do governo FHC
e para enfrentar a transição no
próximo governo, seja qual for o
eleito.
O presidente lamentou igualmente o fato de que a liderança e a
opinião pública norte-americanas estejam com a atenção toda
voltada para a questão da segurança.
"Enquanto estiver voltada para
a segurança, não vai abrir espaço
para essa negociação", completou, referindo-se às negociações
comerciais em que o Brasil e o
Mercosul estão empenhados em
vários âmbitos.
Para FHC, o grande teste da disposição dos países ricos se dará
nas negociações entre o Mercosul
e a União Européia e na discussão
da Alca (Área de Livre Comércio
das Américas, prevista para englobar os 34 países americanos,
excluído Cuba).
"Aí é que vamos ver realmente
como os países estão atuando.
Não podemos entrar em uma negociação sem partir do pressuposto de que ela é de boa-fé e, portanto, vai entrar todos os campos,
inclusive o agrícola. Ou há livre
comércio para tudo ou então é
uma hipocrisia", disse FHC.
Antes, na entrevista coletiva que
dera ao lado do presidente argentino, Eduardo Duhalde, o presidente brasileiro voltou a outro de
seus temas favoritos, pelo menos
a partir de 11 de setembro, que é o
de criticar os EUA. Desta vez, o setor privado norte-americano.
"Se houvesse agências de "rating" como as que estão nos qualificando que fossem capazes de classificar o que se passa lá [nos
EUA", creio que muitas empresas
americanas estariam com seu rebaixamento assegurado, tanto
são os desastres que ocorrem em
nível internacional", disparou.
O presidente entrou também na
questão da governança global, para dizer que "a globalização tem
desatado uma série de fenômenos
novos e não há uma governança
global. Não há forças institucionais que possam frear certas tendências ou turbulências. Não há
instituições novas capazes de,
com rapidez e eficiência, contra-arrestar os maus efeitos dessas
turbulências".
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